PRÓLOGO

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TRÊS MESES NO FUTURO...

Certas coisas podem nos enganar com muita facilidade.

Eu não imaginava que aquela a quem acreditava ser minha melhor amiga me traiu. Meu peito não aguenta essa verdade dura e crua, não depois de praticamente sair fugida da Itália. Não depois de descobrir que aquele que dizia me amar estava realmente fingindo em nome de um contrato, que tudo que vivemos não passou de um jogo sujo pela sede de poder.

Agora, diante dela – que aponta uma arma na direção do meu peito – só consigo pensar que as pessoas tendem a mostrar apenas o que querem para se beneficiarem. É como uma camuflagem. No meio da selva, aquele que mais consegue se esconder é o que mais sobrevive aos ataques dos predadores.

O problema é que minha melhor amiga é muito mais que uma presa, ela é uma predadora. Por orgulho, ela tirou tudo de mim, ou pelo menos está tentando. Ela poderia direcionar essa arma para PH, poderia sim, mas prefere continuar aqui, ameaçando me matar. Ela não faria isso, faria?

– Por quê? – Apenas consigo dizer isso, quase que como um sussurro.

Mas ela parece escutar, pois, por um breve momento, seu olhar assassino vacila. Tenho dúvidas se seus olhos brilham por causa do ódio ou das lágrimas. Talvez um pouco dos dois.

– Você não entende, Babi. – Ela me diz, com o braço que segura a arma levemente trêmulo – Eu não posso perder tudo o que já conquistei até aqui.

Parece que eu consegui desestabiliza-la. Ela puxa uma grande leva de ar e volta a falar:

– Você descobriu o meu segredo e agora eu vou te matar para que ninguém mais saiba.

As lágrimas rolam pelo meu rosto. Depois de tudo que passei até aqui por causa dele, ou melhor, dela, vou morrer assim? Quando tudo desmorou na minha vida, há três meses, ela agiu como se estivesse aqui para me dar apoio e me ajudar a passar por essas coisas. Eu confiei nela para contar tudo, até mesmo segredos ocultos. Mas... Ela é a raiz de todo o mal que me ocorreu. Como pode ser tão hipócrita assim?

Meus olhos se perdem no chão barrento do galpão. O aperto das cordas nos meus pulsos e tornozeloss não significam nada perto da dor de ser traída que estou sentindo agora. Por um momento de coragem eu encaro novamente todos que estão no lugar.

PH me encara com um ar vitorioso. Uma vez ele disse que ainda me faria pagar pela minha língua afinada, talvez esse seja o momento, afinal. Aposto que ele está ansioso para me ver sangrar até a morte, na verdade ele me atraiu até aqui justamente para isso, mas ver que será minha própria amiga que "terminará o serviço" deve ser a melhor vingança. Posso jurar que ele está movendo os lábios me dizendo que vou morrer, mas ele está calado e passivo, como se todo o furor de outrora não existisse mais. Mas a sua calma não é de compaixão, mas de soberania.

– Me mate. – Eu digo, derrotada.

Onde está minha família? Não faço a mínima ideia. Mas eu não posso fazer mais nada. Eu acabei gastando todas as minhas forças para salvá-los e agora estou aqui, pagando pelos meus erros por ter os condenado.

Minha melhor amiga permanece imóvel com a mão estendida. Ela coloca uma bala na agulha com um movimento do polegar e posiciona o dedo no gatilho. Mas, somos interrompidos com um rompante barulho.

– Não toque na minha mulher. – Alguém diz, entrando no galpão mal iluminado e insalubre.

É ele.

Por um momento vislumbrei a morte, mas agora contemlplo na minha frente o que se pode definir com um último resfôlego.

– Abaixe a sua arma, ou você morre agora. – O seu sotaque italiano se faz presente por um momento, o que me faz lembrar que isso acontece sempre que ele está nervoso.

Minha melhor amiga olha para ele, ainda sustentando a arma apontada para mim. Os seus homens e PH tentam ir até o novo intruso, mas ela os detém com um aceno de mão. Com os dentes cerrados, ela lhe encara por sobre o ombro direito.

– Quem você pensa que é para me ameaçar? – Ela pergunta com desdém.

A tensão do momento por um instante não é importante para mim. Apenas fico imaginando como ele conseguiu me encontrar, como soube que neste exato momento estou preste a morrer. Eu disse que ele não deveria vir atrás de mim, mas olha o que está fazendo!

– Coringa, saia daqui, é muito perigoso. – Imploro, lhe dirigindo olhos sofridos.

Ele olha para mim e eu consigo ver todo o seu desespero. Será que ele me ama tanto assim? Parece que a qualquer momento irá morrer com a simples menção da minha morte. Ele entrou aqui me chamando de sua mulher. O que isso significa?

– Só vou com você, mesmo que eu tenha que matar todos desse lugar. – Ele responde, raivoso.

– Tente. – PH diz, com uma postura satânica.

É como se um fósforo tivesse caído num chão inundado de gasolina. PH atiçou um fogo assassino nos olhos de Coringa. Ele saca a arma e aponta para o dono do morro.

Quando percebo, já é tarde demais. Os donos do morro começam a lutar contra o mafioso herdeiro e eu, no meio da confusão toda, me jogo no chão e tampo os ouvidos. Ainda assim, consigo ouvir o grito alto de Coringa me mandando correr. Confiando nele, faço o que me disse.

Mas então, ouço um tiro que se sobressai a todos os outros. O ar parece ter ficado rarefeito. Um zumbido alto me desnorteia. Mesmo cambaleando, tento não parar, preciso fugir daqui. De replente sinto um grande peso sobre os meus ombros e vou me curvando cada vez mais.

Alcanço o fim do galpão, mas caio ali mesmo, com a blusa manchada de um vermelho carmesim e a incerteza do que realmente aconteceu. Vozes ecoam no meu ouvido, mas vão perdendo a altitude em segundos. Com os olhos entre abertos, vejo a face de Coringa, em completo desespero.

Eu queria me despedir, mas a única coisa que faço é me render a escuridão.

Um Mafioso para Amar | BABICTOROnde histórias criam vida. Descubra agora