2. A esperança

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JANEIRO DE 1830,

"ATÉ MESMO UMA ÉGUA POSSUI MAIS VALOR QUE EU."

Aquele era o Dia D de janeiro de 1830. E Tessa May Baker, a atual marquesa de Dempster, já não aguentava mais aquilo.

Quando a porta de intercomunicação entre os quartos dela e do marido se abriu, ela soltou um suspiro cansado. Todo mês a cena se repetia, ela era montada e depois esquecida, esperando alguns dias para saber se tinha surtido efeito ou não. Ela já não aguentava mais.

Naquela noite, as velas estavam apagadas no quarto e Tessa estava deitada de lado, pronta para dormir. Então Henry entrou no quarto e caminhou com passos suaves até a sua cama, o colchão afundou e ele se deitou próximo dela, dando um beijo no ombro descoberto pela camisola.

- Milady esqueceu da minha visita esta noite? – indagou ele com a voz suave, até mesmo carinhosa.

Tessa não se virou para o marido. Ele não sabia o quanto ela odiava aquela palavra? Ela odiava ver seus pais se tratando daquela forma, e agora ela e seu marido se tratavam assim há anos. Onde foi que tudo começou a ruir entre eles?

- Não. – respondeu ela. – Apenas não quero receber a sua visita esta noite.

Ela sentiu Henry ficar tenso. Odiava magoá-lo, mas toda aquela situação magoava ela mesma também. Tessa suspirou e finalmente se virou para ele.

- Tess, esta noite são nossas melhores chances. – disse ele. – Não se sente bem?

Ela recostou as costas contra a cabeceira da cama, olhando nos olhos negros dele no escuro.

- Me sinto ótima. – disse ela. – Mas não quero mais fazer isso.

- O que quer que eu faça? – indagou ele, sentando-se de frente para ela no colchão. – Se quisermos isso, temos que continuar tentando, milady.

Ela suspirou com aquela palavra que lhe causava nojo ao ser proferida pelos lábios dele.

- Por favor, não me chame assim. – pediu ela em um sussurro. – Eu não posso mais fazer isso, Henry, por favor. Não suporto mais tudo isso. Quero meu marido de volta.

Ele se aproximou mais dela, tomando as mãos dela nas suas. Os olhos dele estavam magoados e tristes.

- Eu estou aqui, Tess.

- Não, você não está. – Ela negou, meneando a cabeça em negativa e secando a lágrima que escorreu. Tessa se livrou das mãos dele e se levantou da cama. – Você aparece uma vez a cada algumas noites na minha cama, monta em mim como se eu fosse... como se eu fosse uma porca de cria, porque até mesmo uma égua possui mais valor que eu, e espera alguns dias para saber se teve resultados, se não teve, me deixa de lado por mais alguns dias e então volta para a minha cama. Estou cansada disso, Henry.

O marido se levantou da cama, tentando aproximar-se dela, mas Tessa se afastou.

- Não fale assim. – pediu ele. – Eu amo você.

Ela meneou a cabeça em negativa no quarto escuro.

- Não. Você me amou, mas já não me ama mais. – disse ela. – Agora eu sou apenas a mulher com quem você fez a besteira de se casar, aquela que não pode te dar um herdeiro e que impede você de arrumar outra esposa.

- Isso é mentira. – Henry disse. – Eu a amo. Sempre amei. Pensei que fosse o seu sonho ser mãe, faço isso por você, não por mim.

- Não é verdade. – Refutou ela. – Nós não fazemos amor há dez anos no nosso casamento, tudo que fazemos é sexo, tentando conceber o herdeiro do seu maldito marquesado. Eu tenho saudades de quando dividíamos a cama, quando você suportava olhar para mim e quando estava dentro de mim porque queria e não porque é um requisito para se ter um filho.

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora