20. A volta

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ABRIL DE 1830,

"VOCÊ DESISTIU DA GENTE."

Tessa estava na carruagem alguns dias depois que saíra de Glover, impaciente enquanto batia o pé ritmadamente no chão da carruagem e olhava pela janela enquanto seguiam cada vez mais para perto de sua casa e do marido que esperava por ela lá. Era pouco mais de nove da manhã de uma quarta-feira, Henry deveria estar em casa naquele horário e ela poderia resolver as coisas no mesmo instante.

Ela saltou assim que a carruagem parou e pediu que o cocheiro esperasse alguns minutos até que os criados saíssem para pegar a bagagem e o mordomo lhe pagasse. Então Tessa entrou na sua própria casa sem nem bater à porta e chamou pelo mordomo.

O homem apareceu apressado alguns minutos depois, com uma expressão de surpresa e olhos arregalados ao ver Tessa.

- Milady, eu... que surpresa vê-la aqui. – disse ele.

- É a minha casa, não é? – ela franziu a testa.

- É claro, milady, é que milorde disse... bem, deixe para lá. – O homem corou e Tessa ficou curiosa.

O coração dela gelou, ela não sentiu a ponta dos pés e nem os dedos das mãos.

- O que milorde disse? – indagou Tessa, desesperada.

- Não sei se fará diferença saber disso agora que está aqui, milady.

- O que ele disse? – indagou Tessa, quase chorando.

- Milorde disse aos criados que a senhora não voltaria por um bom tempo. – falou o mordomo. – Ele não explicou nada, milady, mas está muito mal desde que partiu, vive no escritório e no quarto. A única pessoa com quem ele fala é Lilian, está enterrado em um posso de tristeza sem fim. Para ter noção, milady, nesse momento ele ainda está na cama, não sabemos o que fazer e ele não permite a entrada de ninguém além de Lilian, que é quem leva as refeições para ele e o ajuda com o banho.

Apesar de ainda estar desesperada, Tessa sentiu alivio. O marido ainda a amava, estava sentindo sua falta desde que ela partira.

- Preciso que pague o coche de aluguel que peguei e que mande tirarem minhas malas da carruagem, preciso falar com meu marido. – disse ela, pronta para ir para as escadas.

- Milady, não sei se é uma boa ideia. Ele está...

- Ele é meu marido, sei o que fazer. – disse Tessa, cortando a fala do mordomo. – Faça o que pedi e deixe-me falar com meu marido.

O mordomo engoliu em seco e assentiu, mesmo parecendo querer dizer mais.

- Como desejar, milady. Apenas... seja forte. – disse o homem, já dando as costas para Tessa.

Com a testa franzida, ela se virou e subiu a escada da casa em silêncio e caminhou para o quarto do marido com sua mala de mãos ainda na mão, não tinha nem tido o pensamento de soltar a mala. Tessa caminhou rapidamente, mas com medo, pelo corredor e parou na porta do quarto de Henry. Ela pensou em bater, mas ele não responderia e, inferno, ela ainda era a esposa dele, então girou a maçaneta e abriu a porta com cuidado para não fazer barulho.

Tessa viu, mas não acreditou nos seus olhos. Aquilo era... Deus! Ela não tinha palavras.

Sempre que pensava no pior, que pensava no fim, Tessa nunca imaginara aquilo. Ela esperou que as lágrimas caíssem ao olhar para a cama de Henry, mas elas não caíram, ela pensava que se desesperaria e que choraria se aquilo algum dia acontecesse, mas não conseguia fazer isso. Em vez de lágrimas, o que caiu foi a mala da sua mão, produzindo um estrondo no ambiente silencioso. Seus pés estavam fixos no chão e ela não conseguia desviar o olhar.

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora