1. A debutante

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ABRIL DE 1817,

O DÉBUT DAS MOÇAS CASADOURAS DE 1817.

- Tessa May, empertigue esses ombros! - Margot Hildegart disse em tom de advertência. - Dessa forma nunca irá arranjar um marido.

No sacolejar da carruagem, ela fez o que a mãe mandava. Theresa May Hildegart já ouvira aquela frase e suas variações um bilhão de vezes nos seus dezoito anos. Mesmo nas broncas da mãe, ela não passava de Tessa May, ninguém nunca a chamava de Theresa. Margot era uma casamenteira nata e, por ser a filha mais velha, Tessa ainda tinha a atenção da mãe totalmente sobre si.

Aquela noite era A Noite, como a mãe chamava. Era a noite em que Tessa passava de uma senhorita se preparando para o mercado casamenteiro para uma senhorita no mercado casamenteiro, era o seu primeiro baile. Eles estavam na capital do reino para isso, a mãe insistira que ela tivesse seu début no Baile Real de Fernsby, com toda a alta sociedade presente para vê-la, afinal, ela ditaria como seria os casamentos das irmãs mais novas também e não poderia falhar com a família.

- Deixe a menina, milady. - O pai disse, sentado ao lado de Tessa na carruagem. - Ela não precisa arranjar um marido neste ano, não temos pressa para nos livrar das nossas filhas.

O olhar sério de Margot desviou de Tessa para o marido.

- Mulheres nascem e são criadas para casar, milorde. Se Tessa May não arranjar um bom marido, Charlote e Sarah também não arranjarão, e não queremos três solteironas dentro de casa. - Ralhou ela. - Vamos, Tessa May, empertigue os ombros e erga o queixo, já estamos chegando.

Tessa bufou e fez o que a mãe mandava. Sua vida era essa, Tessa May faça isso, Tessa May não seja assim, Tessa May me obedeça, Tessa May, Tessa May, Tessa May. Às vezes, nos seus dias mais rebeldes, Tessa chamava a sua mãe de cobra mentalmente e a odiava em segredo, mas, bem lá no fundo, Tessa May sabia que a mãe tinha razão. Mulheres nasciam para serem esposas, ela crescera ouvindo isso e aprendendo a ser uma boa esposa, agora Tessa iria começar a sua jornada no mundo casamenteiro e a mãe lhe escolheria um marido. Ela não esperava um casamento por amor, mas queria um bom e jovem cavalheiro para ser seu marido pelo resto de seus dias, assim como seu pai era para sua mãe.

Tessa não se iludia pensando haver amor no casamento dos pais, a forma como se tratavam, por milorde e milady, já dizia o bastante. A mãe fora entregue ao pai muito jovem, havia cinco anos de diferença entre os dois, e Margot tivera dificuldades de engravidar, ao longo da vida, sofrera sete abortos e tivera cinco filhos. Margot tinha tido quatro abortos antes de Tessa nascer, depois viera Nathaniel, Charlote, Samuel, Sarah, e mais três abortos, então eles finalmente desistiram de ter filhos.

Ela esperava que todo o treinamento da mãe resultasse em um cavalheiro com menos de trinta anos e uma boa fortuna, que fosse gentil e que não a levasse para muito longe da família como seu marido. Tessa ficaria mais que feliz com um homem assim ao seu lado e daria herdeiros a ele logo depois de casados, cumprindo seu papel no matrimônio prontamente.

A carruagem alugada pela família parou na porta do Castelo Real e o pai foi o primeiro a descer, então ele auxiliou a mãe e depois deu a mão para Tessa. George William Hildegart era um bom homem e pai, era alto e esguio, tinha cabelos e loiros e olhos castanhos, uma personalidade severa e justa, mas reservava um sorriso amigável e amoroso para aqueles que o mereciam. Era dele que Tessa herdara os cabelos loiros, já os olhos azuis e a pele clara vinham da família da mãe, o pai era mais bronzeado, em parte pelo trabalho ao sol na vinícola da família, mas em parte já era desde o nascimento daquela forma.

- Acalme-se, querida, não precisa ter pressa. - disse George, consolando a filha enquanto ela descia da carruagem e olhava para o enorme castelo em pedra clara e polida.

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora