8. O baile

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MARÇO DE 1830,

"A AMO MAIS QUE TUDO."

Quando todos os convidados já tinham chegado, Tessa foi obrigada a adentrar o salão com o marido, seu braço entrelaçado ao dele sentindo toda a tensão que o consumia, assim como ela também era consumida pela mesma tensão. As palavras formavam uma bola na sua garganta que era impossível de ser engolida, tudo que não fora dito entre eles, tudo que ela precisava colocar para fora, tudo que mudou com aquelas cinco palavras dele e aquela angustia nos olhos negros do marido: não quero que vá embora. Ela não sabia o que fazer com aquilo, não sabia o que aquelas palavras significavam, mas apenas por ouvi-las ela já tinha sido desarmada e já não tinha mais tanta certeza sobre seus próximos passos, porque sempre fora assim com Henry, ele a desarmava com apenas poucas palavras.

- Nos vemos para a valsa, milady? – indagou Henry assim que pararam na porta do salão.

Tessa se forçou a sorrir, afinal, estavam cercados de olhos curiosos.

- É claro, milorde. – respondeu antes de desvencilhar o braço do dele.

Era o esperado que os anfitriões perfeitos e apaixonados dançassem a valsa juntos, então é claro que, para manter as aparências, Henry suportaria estar com ela nos braços por alguns minutos para manter as aparências.

Tessa saiu na direção de Maitê e Susan, sua sogra, e Henry foi para o outro lado. Ela deu um olhar para todo o salão ao redor, procurando qualquer coisa fora de ordem que exigisse sua atenção para ela se ocupar por algum tempo, mas até os malditos pavões estavam comportados, parados nos poleiros onde foram colocados pelo criador.

- Tessa! – a sogra a chamou, agora era tarde para fugir, então ela se aproximou.

- Pois não, milady? – indagou, prestativa.

- Henry não me parece bem, aconteceu alguma coisa? – a senhora marquesa indagou sem rodeios. – Ele parece pálido e preocupado.

Ela manteve a expressão neutra, não era hora e nem o lugar para olhar para a sogra e dizer: nosso casamento está em crise, seu filho não me ama mais e eu não o amo também. Mas, apesar de tudo, aquilo não era verdade. Tessa ainda nutria algum sentimento por Henry, só não sabia de que tipo e se realmente era pelo que ele era ou pelo que ele já tinha sido, pelo que os dois já tinham sido juntos.

- Ele comentou algo sobre dor de estômago. Deve ser ansiedade pelo discurso, vai ficar tudo bem. – Ela disse à sogra.

- Você deveria checar o champanhe. – A senhora marquesa aconselhou, oferecendo à Tessa a chance de fuga que ela buscava. – Certifique-se de que estará pronto e gelado para o brinde.

Tessa fez uma pequena mesura de respeito e pediu licença, já rumando a porta lateral que os criados usavam, mas é claro que teve que parar apenas quatro vezes no caminho para conversar com algumas das senhoras nobres que queriam saber porque ela sumira dos encontros dos clubes de futilidades, ela fora vaga, dando a mesma resposta de que estivera ocupada nas últimas semanas, e então finalmente saiu para o corredor apertado dos criados e foi desviando daqueles que passavam com jarros d'água e limonada para as mesas laterais, assim como alguns petiscos que o cozinheiro preparara.

Ela tentara protelar pelo máximo de tempo possível, mas é claro que estava tudo em ordem na cozinha e ela não conseguiu perder mais que quinze minutos lá, então Tessa fora obrigada a voltar a estampar o sorriso de anfitriã perfeita e voltou para o salão, sendo agarrada por Lady Eaton assim que retornou ao salão. A mulher era uma das mais fofoqueiras da cidade, se algo acontecia, ela era a primeira a saber e a responsável por disseminar as fofocas, foi isso que fez Tessa congelar quando a mulher começou sua ladainha:

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora