MARÇO DE 1830,
"ALGUÉM PRENDA ESSES MALDITOS PAVÕES!"
Naqueles dois meses depois da briga, Tessa e Henry mal se falaram. Ele usava o mordomo para mandar recados para ela com o que era estritamente necessário e ela enviava os seus recados através de Lilian, quando ela descia para o café da manhã, Henry já tinha saído e, quando ela terminava seu jantar, Henry ainda estava no escritório e não se juntava a ela.
Não foi surpresa quando as regras de Tessa vieram naqueles dois meses, mas mesmo assim ela chorou e Lilian teve que consolá-la. Todos os criados da casa sabiam que seus senhores não se falavam mais e que ele não a visitava, a fofoca corria solta entre a criadagem, e a sogra de Tessa fingia não saber de nada todas as vezes que aparecia para ajudar nos preparativos para o baile.
Maitê estava hospedada em Dempster House, tinha vindo com os três filhos para o baile e ficaria por alguns dias. Ela tinha se casado cinco anos depois de Tessa e Henry e já tinha três crianças, um de quatro anos e duas gêmeas de dois, o marido tinha morrido há cerca de um ano e meio e deixado toda a fortuna e as terras para o filho do casal. Henry era quem tinha ficado como tutor do menino, administrando tudo até que ele possuísse idade para poder tomar as decisões sozinho.
Ela viu quando o marido entrou sorrindo em casa, com o sobrinho ao lado. Como todos os sábados de manhã, Henry tinha ido jogar golfe e tinha aquele maldito taco de família nas mãos, o sobrinho tinha ido acompanha-lo. Tessa e Henry ainda não tinham conversado sobre o baile e ela não poderia mandar recados sobre isso, iria falar pessoalmente com o marido sobre o assunto.
Quando o menino foi para a cozinha e Henry subiu para o quarto, para tomar banho, como sempre fazia quando voltava do golfe, Tessa esperou alguns minutos e então se levantou, deixando suas anotações para o baile de lado e pedindo licença à Maitê e à senhora marquesa, que estavam na sala de visitas com ela.
Tessa inspirou fundo quando parou na frente da porta dos aposentos do marido e bateu, esperando alguns segundos para ouvir a resposta.
- Entre! – disse Henry, em um tom de voz calmo e confiante, como era tão característico dele.
Tessa girou a maçaneta e entrou, notando um leve tremor na mão. Ela se colocou do lado de dentro do quarto e fechou a porta atrás de si. Henry estava ao pé da cama, sem camisa e soltando o cinto. Uma sensação tão familiar, mas tão nova, tomou conta de Tessa ao ver o próprio marido seminu na sua frente, com o corpo que lhe era tão familiar lhe fazendo sentir coisas que já não sentia há muito tempo. Ela o conhecia completamente, cada musculo marcado sob a pele e cada um daqueles pelos negros no peito dele, mas... era como se fosse um estranho, como se tivesse traindo aquele rapaz com quem se casou ao se sentir atraída pelo homem feito à sua frente.
Henry não disse nada, apenas a encarou e arqueou uma sobrancelha enquanto Tessa o avaliava. Ela podia passar dias ali olhando-o e ele não diria nada.
- Precisamos conversar. – disse ela. – Sobre o baile.
Henry lhe deu as costas, caminhando para o banheiro. Tessa o seguiu e parou na porta do banheiro.
- Henry. – Chamou, a voz séria e irredutível. Ele sabia que ela não sairia dali enquanto não conversassem.
Sem se importar com ela ali, como se fosse apenas um objeto de decoração, Henry tirou o resto da roupa e entrou na banheira cheia de água com espuma. Tessa conteve o suspiro que se formou dentro de si ao vê-lo daquela forma, como se fosse um pecado se sentir atraída pelo seu marido.
Ela decidiu dizer o que queria e sair logo dali. Ele que fizesse o que quisesse com as palavras dela.
- Por todo o trabalho que a sua mãe está tendo com esse baile, por tudo que ela falará no meu ouvido se algo der errado, pela aparência que você tanto gosta de manter na frente dos outros a respeito do nosso casamento perfeito... – ela parou de falar por um segundo de hesitação quando o olhar indignado e irritado dele pousou sobre si, mas prosseguiu rapidamente. – Será que pode parar de fingir que não me vê e tentar ser um bom anfitrião esta noite? Se algum rumor se iniciar e criarem fofocas sobre nosso casamento depois desse baile, terei que ouvir as reclamações da sua mãe por anos e não estou disposta a isso. Esse será o nosso último evento público juntos, não se preocupe, depois desse baile, vou me mudar para qualquer outra propriedade e ficar longe de você, se é o que tanto deseja.
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Amor esquecido
Historical FictionLivro 2 da série Os Hildegart. Em 1817, Tessa Hildegart foi convencida pela mãe a debutar no continente e passar sua primeira temporada lá, tentando fisgar um marido. O plano de sua mãe foi bem sucedido, Tessa e o futuro marquês de Dempster se apai...