16. Conselho de mãe

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MARÇO DE 1830,

"NEM SEMPRE A CULPA É DA MULHER."

Chegar ao quarto antes de se deixar ser consumida pelas lágrimas foi um esforço maior do que Tessa poderia suportar e as lágrimas começaram a rolar antes de ela entrar no quarto que a mãe a tinha hospedado na nova casa da família.

Tessa se sentou na cama e pousou a cabeça entre as mãos, chorando silenciosamente e tentando se livrar daquele aperto no seu peito e na sua garganta. Era algo bobo e mesquinho, mas ela não conseguia parar de chorar e de pensar naquela situação.

Ela tinha feito uma visita à noiva de Nate durante a tarde e passara horas conversando com Elisa enquanto ela amamentava Violet, segurava a menina nos braços e a fazia dormir. Tessa estava feliz pelo irmão, nunca ousaria sequer ter um pingo de ressentimento de qualquer um dos irmãos por estarem sendo felizes, mas ver Nate com uma filha no colo, ver a mãe com um sorriso ao dizer que era avó e ver aquela linda recém-nascida dormindo no berço de família, uma herança Hildegart, foi como uma facada no peito de Tessa, porque não era um bebê dela que usava aquele berço, porque ela não dera a felicidade para a mãe de dizer que era avó, porque Henry nunca seguraria um filho no colo e sorriria para a criança como Nate fizera naquela manhã. E a culpa de tudo isso era apenas de Tessa, que tinha um defeito, nascera com um sistema reprodutor falho e nunca poderia realizar o sonho de ser mãe e fazer de seu marido um pai. Cortava o coração dela pensar nisso, e ela não sentia qualquer aversão aos irmãos por estarem seguindo suas vidas e sendo felizes, mas Nate tinha tido uma noite com Elisa e ela engravidara, Tessa estava tentando há uma década e ainda não tinha concebido um filho. Não tinha como não sentir raiva de si mesma, de Deus ou de qualquer outra grande criatura que olhasse pelas pessoas lá de cima, e do mundo ao seu redor por ser tão injusto.

- Tessa May? – a voz de Margot chegou até os ouvidos de Tessa e ela ergueu o rosto, vendo entre as lágrimas enquanto a mãe fechava a porta do quarto e entrava. Ela tinha entrado tão abalada que esquecera a porta aberta. – Por que está chorando?

Tessa suspirou. Talvez ter ido à Glover tivesse sido um erro, mas ela estava tão cansada, tão esgotada por fingir ser perfeita, que se viu apenas continuando o choro e deixando que seu corpo todo convulsionasse com os tremores e que os barulhos escapassem dos seus lábios. Ela precisava da sua mãe, precisava desabafar e contar tudo que estava acontecendo.

Margot apenas se sentou ao lado de Tessa e abraçou os ombros da filha, deixando que Tessa chorasse em seu peito por quanto tempo fosse necessário. As lágrimas de Tessa rolaram por mais de dez minutos antes que ela pudesse se conter e afastar-se do ombro da mãe, enxugando o rosto molhado e tentando impedir-se de voltar a chorar.

- Quer falar sobre isso? – Margot indagou.

Tessa inspirou profundamente e olhou nos olhos da mãe.

- Estou cansada, mamãe. – disse ela. A mãe franziu a testa. – Estou cansada de ser forte, de ter os ombros empertigados e o queixo erguido, estou cansada de ser uma marquesa e uma esposa perfeita. Meu casamento não existe mais há anos, não reconheço mais o rapaz com quem me casei quando olho para o meu marido, mas continuo fingindo ser perfeita e inventando desculpas para ainda não termos filhos. Henry e eu estamos tentando há dez anos e até hoje não concebemos, nossa situação só piora a cada dia e eu me culpo cada vez mais por não cumprir minha única obrigação no casamento. – Ela parou por um momento, inspirando profundamente para tomar fôlego. – Nós tivemos uma briga no começo do ano por esse motivo, é essa a razão para Henry estar em casa e eu aqui, precisamos de um tempo longe um do outro. Ver Nate com Violet nos braços me faz ver o quão incapaz eu sou, não sei o que fazer para salvar meu casamento ou se ainda há algo para ser salvo, não sei como posso dar o que meu marido quer de mim e não sei se serei capaz de algum dia realizar esse sonho que é ser mãe. Por que Deus está me punindo dessa forma tão injusta?

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora