5. O recital

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ABRIL DE 1817,

"NÃO TENHO OLHOS PARA OUTRA."

Um dia depois daquele passeio magnifico com o Sr. Henry Baker, Tessa estava desmotivada e cabisbaixa enquanto subia na carruagem para ir a um recital com os seus pais. Ela não queria criar muitas expectativas, mas Henry tinha ido para cima com artilharia pesada e até falado em casamento no dia anterior, então ela tinha, sim, criado expectativas e esperado uma visita dele naquela tarde, o que não acontecera.

Ao contrário de Tessa, sua mãe estava mais do que animada naquele dia. Margot tinha feito Tessa recitar toda a conversa que ela e o lord tiveram durante o passeio, ficando cada vez mais empolgada com o que Tessa contava. Agora Margot tinha mudado de pensamento a respeito de Henry, ela acreditava que o lord iria pedir a mão da filha e que Tessa se tornaria uma marquesa, estava tão convencida que, naquela manhã, tinha arrastado Tessa May para a sala de visitas logo cedo e começado uma palestra sobre os deveres de uma senhora de muitas terras, como uma marquesa, e tudo que Tessa deveria saber quando Henry regesse Dempster e ela fosse a responsável não só pela casa do casal, mas também pelo bem estar de todo o povo do marquesado.

- Tessa May, desfaça essa careta. – Repreendeu a mãe ao entrar na carruagem. – Acredita que Lord Baker irá querer como esposa uma senhorita com essa cara?

Ela soltou um suspiro sem emitir som, empertigou os ombros, ergueu o queixo, forçou um sorriso, cruzou os tornozelos e pousou as mãos entrelaçadas sobre o colo.

- Muito bem, essa sim é a postura de uma marquesa, Tessa May. – Margot elogiou com um sorriso.

Ela revirou os olhos no escuro da carruagem. Tudo que a mãe dizia agora carregava um comentário sobre como uma marquesa deveria ser, Margot cairia do cavalo se Henry não pedisse Tessa em casamento.

- O que aconteceu com aquele discurso sobre rapazes não se casarem cedo e consumação matrimonial? – indagou o pai, sentando-se ao lado de Tessa. Ela podia jurar que ele tinha uma sobrancelha franzida, mesmo no escuro da carruagem que começava a se mover.

- Ah, milorde, esqueça isso. – Tinha um sorriso na voz de Margot ao dizer essas palavras. – Lord Baker levou minha filha para um passeio ontem e chegou a dizer a ela que a pedirá em casamento. Conte ao seu pai, Tessa May.

Era sempre assim, outra coisa que Tessa odiava. A mãe tinha a mania de dizer minha filha ou meu filho, nunca nosso filho para o pai, era como se George não tivesse participação em nada no que dizia respeito aos cinco filhos nascidos. Aqueles que a mãe perdera ainda no ventre, nas poucas vezes que falava sobre eles, ela se referia como nossos bebês, como se não suportasse carregar aquele fardo sozinha e então permitisse que o marido a ajudasse com aquilo.

- Isso é verdade, querida? – indagou o pai, o sorriso brilhando.

- Sim. – disse ela, mas sem sorrir, já não tinha mais tanta certeza da veracidade das palavras do lord. – Ele foi muito atencioso, mas não sei se falava a verdade.

O pai deu um peteleco no nariz dela, como quando Tessa era criança.

- Bem, ele seria um tolo se não visse o quão especial você é. Tenho certeza que já está apaixonado por você.

Agora Tessa sorriu, desviando o olhar para a janela da carruagem e olhando a rua para esconder o rubor que subia pelas suas bochechas. A ideia de um rapaz como Henry estar apaixonado por ela era meio inacreditável, ele podia escolher qualquer uma daquelas que caíam aos seus pés em todos os lugares, por que a escolheria? Ela não tinha feito nada demais para atraí-lo ou agradá-lo.

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora