18. A despedida

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MARÇO DE 1830,

"ALGUMAS COISAS NUNCA MUDAM."

As videiras estavam coloridas com um verde alegre trazido pela primavera, o dia estava fresco e toda a família tinha saído de casa para um almoço em família na vinícola. Tessa caminhava ao lado da mãe entre as parreiras, o que conferia certa privacidade para a conversa que precisavam ter, e ela aproveitava o sol que batia diretamente em seu rosto, sem a proteção de uma sombrinha.

Tessa embarcaria para casa em quatro horas e meia e estava cada vez mais ansiosa, as palavras da mãe tinham acertado o alvo e ela parara de procurar desculpas, mas a cada hora passada longe do marido e sem resolver as coisas, Tessa se sentia pior, revivia mais momentos do passado e desejava mais estar de volta e tentar conversar com Henry, desculpar-se e salvar seu casamento. Era uma merda que ela tivesse que ter ido para longe de Henry para descobrir o quanto o amava e o quanto queria salvar seu casamento, mas pelo menos ela tomara essa decisão e agora sabia que não podia suportar a ideia de perde-lo.

- Acho que essa viagem fez bem a você. – Margot tirou a filha dos próprios pensamentos. – Está mais corada, confiante e feliz.

- E ansiosa. – Acrescentou ela. – Não paro de pensar em tudo que tenho a dizer e me desculpar, mamãe. Não sei se estou pronta para voltar.

- A culpa não é só sua, Tessa May. Você errou, com toda certeza, mas Henry também tem pelo que se desculpar. – Margot apertou o braço da filha e deu um olhar encorajador a ela. – Um casamento possui dois lados, ninguém mantêm um casamento erguido sozinho, da mesma forma que ninguém destrói um sozinho. Você quer salvar seu casamento, mas será que Henry também o quer?

Tessa soltou um suspiro contrariado e olhou com cara feia para mãe.

- Obrigada, mamãe, agora não sei mais se quero voltar. A senhora me encheu de conselhos e esperanças, me fez tomar coragem, e agora diz que Henry pode simplesmente me chutar e não querer salvar o casamento?

- Não seja tola, Tessa May, eu não disse isso. Só estou dizendo que você precisa estar preparada para qualquer cenário quando voltar para casa.

Tessa meneou a cabeça em negativa.

- A senhora não viu a forma como Henry me olhou no baile e disse que não queria que eu fosse embora, mamãe. Ele parecia... arrasado com a ideia de me perder. – Ela tentou manter-se positiva. – Parecera quebrado quando eu fiz as malas para vir para cá, ele pediu se eu queria que ele me acompanhasse e, quando eu disse não, Henry pareceu se despedaçar no chão.

As duas andaram em silêncio por um momento, Tessa sabia que a mãe estava preparando a ofensiva, então preparou sua defensiva. Viria um "Tessa May" seguido de vários conselhos importantes terminados com "seu marido".

- Tessa May... – Margot disse, então suspirou. – Henry ficou despedaçado quando saiu, mas pode ser que, quando você voltar, ele já tenha juntado os pedaços e os colado de novo. Você não pode criar esperanças, precisa estar preparada para qualquer que seja a maneira que encontrar seu marido.

Foi a vez dela de suspirar. A mãe, mais uma vez, tinha razão.

- A senhora tem razão, eu sei disso. – Tessa falou. – Errei muito com Henry, negligenciei nossa situação e fingi que estava tudo bem nos últimos anos, e estou tão, tão arrependida, mamãe, se a senhora soubesse...

- Eu sei, querida. – disse Margot. – E tenho certeza que, não importa o quão difícil seja, no fim tudo ficará bem e você tirará muitas lições disso.

Ela assentiu e continuou caminhando com a mãe, sem muitas palavras para expressar a confusão em que sua mente estava naquele momento. As duas passaram por Sarah, que estava enfiava entre as videiras, lendo um daqueles seus livros de medicina que ela tanto amava, Sam tinha deixado dois com Tessa para que entregasse para a irmã caçula quando fora visita-la e Tessa disse que iria para casa, assim ele não precisaria gastar com envio, e Sarah já os estava devorando.

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora