26. As cartas - Part. 2

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ABRIL DE 1830,

TESSA CONTINUA LENDO AS CARTAS.

Com lágrimas nos olhos, sem saber direito o que pensar, Tessa fechou uma carta e abriu a outra com a ajuda do abridor. 

17 de junho de 1827,

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17 de junho de 1827,

Cara Tessa,

Fugimos outra vez, não é mesmo?

Dessa vez, eu fui fraco e corri para a casa de Maitê na véspera do nosso aniversário de casamento.

Tudo continua igual há dois anos atrás. Eu não a conheço, você não me conhece. Somos apenas duas pessoas vivendo sob o mesmo teto e usando máscaras em público.

Decidi que vou passar algum tempo com a minha irmã, mas sei que não pararei de pensar em você um segundo sequer. Dois anos se passaram desde a última carta e eu continuo sendo patético, apaixonado por uma mulher que não conheço mais e que não me ama. Como eu queria ter de volta nossos primeiros dois anos de casados, Tess. Aquela viagem para a Escócia foi a melhor e a pior parte da nossa vida de casados, a melhor porque vivemos uma linda aventura juntos, mas a pior porque foi depois dela que tudo começou a ruir; foi depois dela que começamos a ser apenas duas pessoas tentando procriar e esquecemos do nosso amor.

Não estou escrevendo hoje para falar sobre nós, até porque nada mudou no nosso casamento, estou escrevendo para contar algo que aconteceu ontem antes de eu sair.

Lilian me procurou no meu quarto, enquanto as criadas faziam as minhas malas. Não falaria nada sobre isso se fosse a primeira vez, mas foi a quarta e já não sei mais o que pensar a respeito.

Nossa governanta e sua melhor amiga, aquela que vê seu sofrimento e enxuga suas lágrimas, me disse que tem uma solução para acabar com o nosso sofrimento. Lilian me disse, não pela primeira, mas pela quarta vez, que está disposta a gestar um filho nosso – apenas meu, no caso – e entregar o bebê para nós quando ele nascer. Ela acha que isso pode acabar com o seu sofrimento, que você pode ser mãe.

Tess, sou incapaz de pensar nisso como outra coisa que não traição. Não acho que você ficaria feliz criando uma criança bastarda, que não fosse fruto do nosso amor, e não quero me deitar com outra mulher para isso. Acho que Lilian também supõe que o problema seja você, mas eu pergunto, Tess, será que o problema não sou eu?

Apesar de dizer não a ela pela quarta vez, continuei pensando sobre isso. O que você faria se um de nossos criados se dispusesse a se deitar com você para que tivéssemos um filho? Você aceitaria?

Sei que muitas vezes perguntei nas outras cartas se você se importava com a minha presença ou podia ser qualquer outro homem, mas gosto de pensar que nunca se deitaria com outro para ter um filho. Gosto de pensar que quando disse perante Deus e as testemunhas que seria fiel, estava falando sério, e não posso me permitir quebrar esse voto.

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