ABRIL DE 1830,
"ESTAMOS EM 1817."
A escuridão aconchegante deu lugar a uma claridade estranha por trás das pálpebras de Tessa. Já devia ter amanhecido, então. Ela se preparou para as ordens da mãe para que se levantasse logo, como Margot sempre fazia ao abrir as cortinas do quarto da filha. Tessa estava animada para começar aquele dia, ela estava terminando os preparativos do casamento e Henry prometera na tarde anterior que voltaria para vê-la naquela tarde.
Ela abriu os olhos e os semicerrou por conta da claridade. O quarto em que estava não era o seu, era branco demais e tinha móveis claros. Ela estava em um quarto de hospital.
Ela grunhiu ao tentar se levantar, sua cabeça doeu e seu corpo pareceu fraco demais. Um médico e uma enfermeira se colocaram ao seu lado, segurando-a.
- Acalme-se. – disse o médico. – Está tudo bem. A senhora precisa ficar deitada.
Tessa olhou de um para o outro, depois para si mesma. Tudo que ela usava era uma camisola fina e tinha tubos ligados ao seu corpo com medicação. Tessa se desesperou um pouco e olhou para o médico.
- O que aconteceu comigo? – perguntou ela, desesperada.
- Está tudo bem com a senhora, não se preocupe. – falou ele. – A senhora sofreu um acidente de carruagem e acabou vindo para o hospital, tivemos muito trabalho para salvá-la e manter o bebê, mas agora está tudo bem. Está dormindo há três dias e preciso fazer umas perguntas para saber o que se lembra.
Bebê? Ele disse bebê?
A cabeça de Tessa doeu e ela levou a mão para lá, tocando uma bandagem na sua testa que parecia envolver toda a sua cabeça.
- Foi uma pancada feia na cabeça. – O médico falou. – Preciso que faça um esforço e me diga qual seu nome, idade e que dia é hoje.
Tessa pensou, olhando para o médico, para a enfermeira e para o próprio corpo. Ela se sentia estranha.
- Onde está a minha família? – perguntou ela, o coração acelerado e o desespero a tomando.
- Seu marido está na sala de espera, milady, ele virá vê-la em breve. – O médico falou. – Tente se acalmar e me diga seu nome, idade e o ano em que estamos.
Ela encarou o médico, mesmo estando confusa, e fez uma careta para ele. Tessa ainda sabia quem era, sabia seu nome e sua idade da mesma forma que sabia que ainda não tinha um marido, Henry e ela só se casariam na próxima semana.
- Meu nome é Theresa May Hildegart, mas todos me chamam de Tessa, eu tenho dezoito anos, estamos em 1817 e eu não tenho um marido. Vou me casar na próxima semana com o futuro marquês de Dempster. – Ela disse com irritação. – O senhor disse algo sobre bebê. Tinha um bebê na carruagem quando me acidentei? Alguém se feriu?
O médico engoliu em seco e trocou um olhar com a enfermeira. Ele olhou para Tessa com pena no olhar, então suspirou.
- Pelo que eu soube, milady, apenas um dos cavalos teve a pata quebrada. Além da senhora, ninguém se feriu no acidente e não havia um bebê na carruagem. – Ele parecia escolher as palavras conforme falava com calma. – Nós estamos em 1830, a senhora já é casada com o marquês de Dempster e está grávida.
O desespero tomou conta de Tessa e ela olhou para si mesma, arregalando os olhos e pousando a mão sobre a própria barriga. Não era a ideia de descobrir que estavam uma década à frente do que ela se lembrava que a assustava, mas a ideia de que ela estava grávida. Como aquilo fora acontecer? Ela mal sabia como era possível uma dama engravidar, Margot não tinha tido aquela conversa com ela ainda.
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Amor esquecido
Historical FictionLivro 2 da série Os Hildegart. Em 1817, Tessa Hildegart foi convencida pela mãe a debutar no continente e passar sua primeira temporada lá, tentando fisgar um marido. O plano de sua mãe foi bem sucedido, Tessa e o futuro marquês de Dempster se apai...