4. A ruína

1K 93 17
                                    

JANEIRO DE 1830,

QUANDO TUDO CHEGA AO FIM.

A senhora marquesa apenas ficou fitando Tessa enquanto ela se servia e sentava-se para tomar o seu café da manhã. A senhora tinha uma postura sempre séria e o rosto marcado por linhas de expressão que a tornavam ainda mais carrancuda, os cabelos negros estavam sempre presos perfeitamente e sem adornos, a postura empertigada e séria, e ela não abaixava a cabeça nem mesmo para olhar se o sapato estava limpo ou sujo.

- A senhora disse que queria falar comigo. – comentou Tessa ao se sentar de frente para a sogra, agora com o prato feito. – Posso ajuda-la de alguma forma?

A sogra colocou os dedos entrelaçados sobre a mesa e olhou fixamente nos olhos de Tessa ao falar.

- Dempster completa cem anos em algumas semanas, pensei que poderíamos dar um baile aqui, faz anos que não temos um baile nos salões de Dempster House. – falou ela. – Era uma tradição do primeiro marquês que tivesse um baile todos os anos, seria adequado que o terceiro marquês resgatasse essa tradição.

É claro, ótima ideia. Pensou Tessa. Era um ótimo momento para se dar um baile em casa, com ela e o marido mal se falando depois daquela discussão tendo que serem os anfitriões perfeitos que a senhora marquesa exigiria que fossem.

- Não sei se milorde aprovaria muito essa ideia, ele está cheio de compromissos ultimamente. – respondeu Tessa.

Agora ela entendia sua mãe. Depois de passar a vida inteira na casa dos pais achando a forma como se tratavam muito fria e sem amor, Tessa os entendia. Quando não havia mais amor entre um casal, quando um passava a ser estranho para o outro e deixavam de ser íntimos, mesmo compartilhando o máximo de intimidade que já tiveram com qualquer outra pessoa, recorrer à formalidade era o menor dos problemas e a única forma encontrada de continuar a convivência.

- Meu filho não negaria um pedido meu. – disse a senhora marquesa. – Virei mais frequentemente e a ajudarei com os preparativos, temos dois meses para preparar o melhor baile que Dempster já viu.

Ótimo, a decisão já estava tomada e a marquesa só estava comunicando Tessa de tudo que decidira. Era bem do feitio da sogra se meter e só comunicar as decisões que tomara, como se ainda fosse a senhora de Dempster House.

- Bem... então está decidido. – Declarou Tessa, forçando um sorriso e se ocupando com um copo de suco para engolir as palavras que lhe vinham à língua.

- Henry ficará muito feliz com a notícia. Ele sempre amou eventos sociais e é apaixonado por um bom baile.

Tessa assentiu, sorrindo. Henry fora apaixonado por eventos sociais e bons bailes, principalmente porque dançava com Tessa em todos os bailes quando a cortejava e depois de casados, mas agora ela já não tinha mais certeza do inestimado apreço do marido por esses eventos. Eles iam à bailes e à ópera, esses eram os momentos que Tessa sentia que ainda eram aquele casal apaixonado de quando se casaram, porque Henry era outro quando estavam em público, fazia questão de estar sempre ao lado dela e depositava beijos na sua têmpora, abraçava sua cintura e fazia comentários no seu ouvido sobre os vestidos espalhafatosos das outras damas, chamando-as de pavoas e fazendo ela sorrir. As senhoras dos clubes que Tessa participava diziam que os dois eram o casal mais apaixonado de toda a cidade, mas ela mesma já não tinha certeza, os dois se amavam fora de casa porque entre quatro paredes tudo era diferente – aliás, os dois nem mesmo ocupavam um ambiente entre quatro paredes ao mesmo tempo há anos, um fugindo do outro e se esquivando pela enorme mansão que era Dempster House.

- Precisam haver margaridas no salão. – Dizia a senhora marquesa enquanto as duas estavam na sala de visitas algumas horas depois. A sogra se encarregava de planejar tudo e Tessa apenas assentia. – Elas são o símbolo de Dempster e estão no brasão da família.

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora