22. A caixa

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ABRIL DE 1830,

"ABRA A CAIXA QUANDO SE LEMBRAR."

Henry tinha passado toda a tarde e a noite com Tessa, ele tinha contado tudo que ela pedira sobre aqueles anos dos quais se esquecera. Ele contara sobre o casamento dos dois, sobre as famílias deles, sobre a dificuldade para engravidar e como aquele bebê no ventre dela era uma benção que esperavam há anos, mas ele se negou a contar sobre qualquer coisa muito triste e, principalmente, sobre aquela discussão que ele disse que os dois tiveram antes de ela sair de casa. Tessa tinha passado o tempo todo tentando se lembrar de qualquer coisa, mas era como se ele tivesse lendo uma história para ela e não como se estivesse contando sobre a vida dos dois juntos.

Tessa tinha dormido tarde da noite e Henry tinha permanecido com ela, sentado em uma cadeira ao lado da cama, apesar de ela dizer para que ele fosse para casa dormir. Ela tivera sonhos agitados durante a noite, mas não conseguira se lembrar de nada quando acordou, sua mente continuava nublada naqueles anos dos quais ela não se lembrava.

O médico tinha aparecido logo depois de Tessa forçar-se a engolir aquela comida que serviram para ela, que ela apenas aceitou comer pelo bem do bebê que ela nem imaginava estar carregando, então o médico dissera que ela já podia ir para casa, mas que teria que ficar de repouso pelos próximos dias e contratarem uma enfermeira para acompanhar o estado dela, além das visitas diárias que ele faria para verificar o estado dela e do bebê. Segundo o que o médico contara depois que Tessa já tinha digerido e aceitado sua condição de paciente com quadro clássico de amnésia depois de uma forte concussão, ela tinha tido um sangramento por conta do acidente e agora sua gravidez era de risco, ela não poderia fazer força e nem sofrer estresse pelos próximos meses até o parto ou poderia perder o bebê. Era fácil falar para ela não se estressar, eles não tinham ideia do que Tessa estava passando, mas Tessa faria o que pudesse para ter nos braços aquele bebê que ela mal sabia da existência e já amava absurdamente.

Tessa aceitou a ajuda de Henry para subir na carruagem, seu corpo ainda doía muito, então ela se sentou em um dos bancos e esperou enquanto ele passava instruções para o cocheiro e então entrava no veículo. Ainda parecia estranho para ela chama-lo de marido.

- Nós ficaremos em Baker House até que se recupere. – Henry falou, mas Tessa não fazia ideia de onde ficava Baker House. – Já pedi ao mordomo para contratar uma enfermeira e para arrumar os seus aposentos.

Ela apenas assentiu e olhou pela janela enquanto saíam da frente do hospital. Uma forte dor de cabeça a assolava, mas mesmo assim Tessa buscava qualquer coisa que pudesse ajuda-la a recuperar sua memória.

Tessa se pegou observando Henry alguns momentos depois, enquanto ele olhava pela janela. Ele continuava muito parecido com o rapaz que ela se lembrava, apesar de todas as mudanças, e aquela barba por fazer que ele usava agora o deixava ainda mais atraente, com certeza ela tinha tido sorte ao se casar com ele, as debutantes de 1817 babavam por ele, isso ela se lembrava, e as damas deviam continuar babando ainda. Mas aquelas olheiras não ficavam bem sob os olhos negros e que brilhavam com confiança.

- Você deveria descansar. – Ela se viu dizendo e Henry desviou o olhar para ela. – As olheiras não combinam com você.

- Farei isso quando você estiver segura em casa. – Henry disse. – Ainda temos algumas coisas para conversarmos.

Tessa sentiu uma sensação ruim com as palavras dele.

- Temos? – indagou.

- Sim. – Ele disse com um sorriso de lado. – Mas faremos isso quando chegarmos em casa.

Ela engoliu em seco e assentiu enquanto voltava a olhar pela janela. A carruagem seguiu pela Harper Street, a principal avenida de Lamero, onde só os mais nobres moravam, e parou em frente a um palacete de tijolos aparentes e janelas brancas.

Amor esquecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora