ABRIL DE 1830,
"PELO MENOS VOCÊ ESTÁ SORRINDO."
Tessa acordara com muita fome e tinha descido para comer alguma coisa, mas, como vinha acontecendo todos os dias na última semana desde o acidente, ela acabara de comer e começara a ter enjoos, nada parava no seu estômago. Celine dissera que era um bom sinal, queria dizer que a gravidez estava correndo normalmente, mas Tessa não considerava nada bom passar meio dia com a cara dentro do urinol enquanto colocava as tripas para fora.
Ela acabara de limpar o rosto depois de vomitar e saíra andando pelo corredor do andar de baixo da casa. Ao passar e ver a porta da sala de música aberta, Tessa cedeu ao impulso e foi para o piano.
De frente para as teclas, ela começou a tocar e abriu um sorriso, sentia que faziam anos que ela não tocava piano. Tessa deixou que seus olhos se fechassem, que apenas os seus dedos nas teclas a guiassem conforme a música chegava ao seu ouvido. Ela se sentia leve e relaxada tocando, não importava se tinha trinta ou dezoito, se sabia o que acontecera na última década ou não, ali ela era apenas uma mulher tocando piano e sentindo-se plena. Uma lágrima chegou a escorrer pelo rosto de Tessa quando ela acabou a música e abriu os olhos.
- Vejo que encontrou a sala de música. – Henry disse e ela se virou, encontrando-o parado à porta, vestindo apenas um penhoar. Na última semana, os dois tinham passado a fazer as refeições na sala de jantar, mas Henry sempre ia ao quarto dela e passava as noites com Tessa na cama, ela se sentia segura e em casa com ele.
- Estava passando e vi a porta aberta, resolvi entrar. – Falou ela, sorrindo. – Espero não ter acordado você com o barulho.
- Não tem problema. – Henry aproximou-se mais. – Gosto dessa música.
O sorriso de Tessa se expandiu.
- Eu sei. – disse ela. – Eu tocava para você quando ia me ver e ela tocou no nosso casamento.
Henry se apressou e sentou-se ao lado dela, tomando as mãos de Tessa nas suas. O sorriso dele sumiu.
- Como sabe que essa música tocou no nosso casamento? – indagou ele. – Você... se lembrou de alguma coisa, Tess?
O sorriso dela também sumiu e Tessa arregalou os olhos.
- Eu... não. – Ela disse, confusa. – Só saiu da minha boca, é como se eu soubesse disso a vida toda. Ah, eu acho que...
Tessa parou de falar, se virou para o piano e começou a tocar outra melodia. Henry a observou enquanto ela tocava.
- Essa música também foi tocada no casamento, não foi? – indagou ela.
Henry apenas assentiu e Tessa se virou para ele. Em toda aquela semana, Tessa não tinha tido nenhuma lembrança, não tinha tido sequer um vislumbre do passado e agora...
- Henry, você não foi me ver naquela tarde! – disse ela, dando um tapa no braço dele. – Eu estou me lembrando. Você prometeu, mas não foi, depois me disse que teve um compromisso qualquer com seu pai e me deixou esperando. Eu toquei uma música triste a tarde toda enquanto esperava e você não aparecia.
Tessa foi falando sem que nem mesmo ela acreditasse nas suas palavras.
- No dia do casamento, eu chorei um monte sempre que me olhava no espelho e tiveram eu refazer a maquiagem um milhão de vezes, minha mãe queria me matar. Eu me atrasei em mais de uma hora. – Tessa prosseguiu enquanto Henry a observava com olhos arregalados.
- Isso, meu amor. – disse ele, com um sorriso nos lábios. – E você estava tão linda que eu chorei quando a vi.
Tessa deu risada, seu coração acelerado, então ela abraçou Henry e sentiu seu coração batendo forte contra o dela. As lembranças continuavam invadindo-a.
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Amor esquecido
Historical FictionLivro 2 da série Os Hildegart. Em 1817, Tessa Hildegart foi convencida pela mãe a debutar no continente e passar sua primeira temporada lá, tentando fisgar um marido. O plano de sua mãe foi bem sucedido, Tessa e o futuro marquês de Dempster se apai...