ABRIL DE 1817,
"NÓS AINDA VAMOS NOS CASAR"
Charlote estava sentada em uma poltrona próxima da janela, com mais um romance nas mãos, a irmã de Tessa devorava livros enormes em poucos dias desde os nove anos. Margot estava sentada em outro sofá, com a pequena Sarah, de três anos, no colo enquanto a babá preparava a mamadeira da menina.
Tessa tinha recebido dois buquês de flores depois do baile da noite anterior, mas nenhum deles era do belo e jovem Sr. Henry Baker. A mãe não tinha ficado satisfeita, ela demonstrara a sua insatisfação conforme as horas passavam e nenhum outro buquê chegava durante a manhã, como era o costume, então, no almoço, Margot expressou seus pensamentos, dizendo em alto e bom som à mesa:
- Tessa May não conseguirá um marido nesta temporada, dois buquês para uma debutante não é um bom sinal. O problema, certamente, foi a escolha de lugar dela para se sentar, naquele canto das viúvas com a imprudente Srta. Baker.
Tessa tinha suspirado, pousado os talheres e olhado para a mãe.
- A minha escolha de lugar me rendeu duas danças com o futuro marquês de Dempster, mamãe. A senhora viu como todas as damas olhavam para ele no salão e que ele dedicou toda a sua atenção a mim?
Margot revirara os olhos.
- Não seja tola, Tessa May. – Dissera ela. – O Sr. Baker tem dezoito anos, já viu um homem se casar com essa idade? Mal tem pelos na cara e nem deve saber consumar um casamento ainda.
O pai tinha dado uma risadinha e feito um comentário, dizendo que, com dezoito, ele já sabia consumar um casamento, e a mãe tinha lançado um olhar mortal a ele. Tessa não se importou em entender o que acontecia, apenas ficou grata por ter acabado aquela conversa que não levaria a nada.
Quase passava das quatro da tarde agora, e Tessa estava na sala de visitas da casa que alugaram desde aquela manhã. Ela não aguentava mais ficar ali, sentada e esperando por uma visita que não receberia, nenhum cavalheiro tinha aparecido para cortejá-la e nem apareceria, nem mesmo o Sr. Baker, que prometera ir vê-la, ela tinha esperanças mais de que iria. Seu début tinha sido um desastre e a mãe falaria na cabeça dela até seu último suspiro por isso.
Ela soltou um suspiro e se levantou, deixando o bordado de lado. Nem mesmo bordar ela conseguia mais, estava furando os dedos há horas e manchando o tecido com sangue.
- Onde vai, Tessa May? – indagou a mãe.
- Dar uma volta, mamãe. – respondeu ela, rumando a porta.
- Deve esperar seus pretendentes, Tessa May.
Ela deu um sorriso ácido para a mãe e parou na porta.
- É claro, são tantos que nem consigo usar o penico desde a manhã. Estou realmente muito ocupada com eles. – Zombou ela, já saindo da sala de visitas.
O pai estava trabalhando na sala de jantar da casa, já que a residência não possuía um escritório adequado o bastante e ele não poderia abandonar o trabalho da vinícola, mesmo estando longe. Tessa passou por ele e o pai lhe lançou um sorriso reconfortante e carinhoso, ela retribuiu e foi para a sala de música da casa.
O piano dali não era dos melhores e não estava tão afinado, mas ela se sentou na frente dele e ergueu a tampa das teclas. Precisava de um momento de tranquilidade sem a mãe olhando-a e julgando-a, sem o peso da decepção e do fracasso sobre si. Os dedos ágeis dela começaram a percorrer as teclas e o som chegou ao seu ouvido, melancólico e rápido.
Se Sam estivesse ali, naquele momento Tessa estaria na cozinha com ele, se entupindo de qualquer guloseima que o cozinheiro preparasse. Sam era um verdadeiro glutão, no auge dos seus oito anos, o pai dizia que o menino comia como um touro, e era a verdade. Tanto Sam quanto Nate estudavam em um colégio interno e passavam a maior parte do ano fora de casa, só apareciam nos fins de ano para férias de alguns meses e depois retornavam para o colégio.
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Amor esquecido
Historical FictionLivro 2 da série Os Hildegart. Em 1817, Tessa Hildegart foi convencida pela mãe a debutar no continente e passar sua primeira temporada lá, tentando fisgar um marido. O plano de sua mãe foi bem sucedido, Tessa e o futuro marquês de Dempster se apai...