Livros e planos

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— Você fez o quê?! — Os olhos claros da doutora estavam prestes a deixar seu rosto e Zayn se encolheu um pouco.

— Eu precisava de um tempo. — Se defendeu.

— Por isso que a Ligação se manifestou intensamente, você a sobrecarregou tentando se afastar fisicamente! — A frustração a ergueu. Uh, boa forma de descrever esse ato. Lembre-se para escrever isso depois.

— Desculpa, eu não sabia.

— Claro que não sabia, não tivemos a oportunidade de conversar direito. — Olhou diretamente para Liam, deixando óbvia sua indireta.

— E agora?

— E agora até que ela se estabilize, vocês precisam ficar sempre perto um do outro. — Não! Se fosse sempre estilo "aqui está seu café, eu vou dormir porque amanhã trabalho cedo, fique a vontade" ,ele ia morrer de tédio! — Com o tempo, ela ficará menos exigente e vocês poderão ficar um pouco mais longe, mesmo não sendo recomendável. — Tentou apaziguar, mas parecia apenas estar dando falsas esperanças. — Lembrem-se sobre o que falei das Chamas Gêmeas, talvez o convívio ajude a ativar efetivamente a Ligação e vocês possam... sentir mais. — De novo sua tentativa não teve o resultado esperado, eles pareciam longe de qualquer esperança agora.



— Poderíamos ir para minha casa hoje? — Pergunta ligando o carro.

— Claro. Eu só preciso passar em casa e pegar algumas coisas. — Terminou de colocar o cinto.

— Qual o ponto? — Zayn sabia que não ia se segurar por muito tempo, e acredite ele já tinha operado milagres, não refutando tudo que Liam dizia.

— Tenho uma rotina. — Ele o olhou.

— Combina com você. — Não conseguiu segurar um som que chamava de "rascunho de risada sem humor".

— O que isso quer dizer? — Levantou uma das grossas sobrancelhas castanhas para ele.

— Quer dizer que você parece o tipo de pessoa com uma rotina. — Na próxima, ia desenhar para tentar ser mais claro sobre o que dizia.

— E onde seu sarcasmo entra?

— Meu sarcasmo detectou que você é absurdamente previsível e não conseguiu deixar de lado.

— E por que você fala como se fosse algo ruim?

— Porque é o que eu acho.



O apartamento de porta vermelha era um tanto... aconchegante e Liam só conseguia pensar em... pitoresco. Todo trabalhado na madeira, era meio vintage com os tons envelhecidos, como o sofá amarelo. Tinha livros em praticamente todas as superfícies, até no armário em cima do fogão, por algum motivo indecifrável. E papéis. Blocos de anotações de todos os tipos e tamanhos espalhados por aí, com canetas, lápis e até um... giz de cera? — Liam tem certeza que viu errado — em cima deles. Como se ele estivesse... sei lá... lavando a louça e fosse ter a ideia de um mundo fantástico.

Quando não se utilizava de livros e papéis, a decoração apostava em alguns porta-retratos e uma miniatura de máquina de escrever. Alguém é obcecado pela profissão.

Tinha uma foto dele com duas pessoas mais velhas que Liam supôs ser seus pais, eles pareciam estar em uma livraria ou algo assim. Na verdade, era uma montagem. Na foto de cima, Zayn não devia ter onze anos, as bochechas redondas e levemente rosadas, os olhos brilhantes, sorrindo sem dentes, mas aparentando estar muito contente. Ele não o conhece há muito tempo, mas nunca viu nenhuma expressão parecida em seu rosto. Sua mãe era tão bonita mais jovem quanto mais velha e o filho se parecia muito com ela, principalmente o queixo. Já o pai era mais bonito, jovem, com os olhos verdes mais chamativos. Na foto de baixo, Zayn devia estar na casa dos vinte, tinha barba, muitas tatuagens, os lábios levemente repuxados para cima e apenas um pouco do brilho no olhar que possuía quando criança. Seus pais pareciam um pouco mais cansados, mas pareciam muito felizes, abraçando o filho. Liam sentiu inveja e soltou a foto, empurrando tudo pro fundo.

Contraste Cromático [Ziam]Onde histórias criam vida. Descubra agora