Dias

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Quis culpar a necessidade da Ligação, o álcool, a culpa, a solidão e o próprio Zayn. Quis culpar o tremor nos ossos do seu peito, a agonia acumulada no seu ser, as dores que se tornaram físicas, musculares, o cansaço que envergava suas costas, o ardor que explodia em seus olhos.

Mas ele sabia a verdade. Era ele. A necessidade era dele, o álcool foi uma escolha dele, a culpa era dele.

Mas as consequências eram deles. E ele não percebeu isso até ver a expressão abismada, ferida e indignada de Zayn quando o encontrou sentado na sua porta três dias depois.

Ele levou minutos a fio, talvez até horas para absorver o que estava acontecendo e ter uma reação. Liam aproveitou esse tempo para analisar todos os detalhes sobre ele. Detalhes que não via pessoalmente há seis dias.

Seus olhos estavam fundos com grandes olheiras, as sobrancelhas grossas e perfeitamente delineadas estavam franzidas em algo entre confusão e raiva, os lábios estavam secos, a barba sempre bem aparada estava deixada de lado, seu cabelo estava oculto por uma touca e estava completamente vestido de cinza. Era a cor da touca, do moletom, do tênis e até mesmo das meias. Liam até pensou em sorrir, mas não conseguiu.

Ele era cinza. Zayn não. Ver Zayn de cinza o fez se sentir lisonjeado por um instante, mas logo o desespero tomou conta. Zayn não era cinza, ele era colorido. Ele era a mistura de todas as cores da forma mais aleatória e perfeita que existe, ele não podia estar de cinza, era como esconder quem ele era. Ele não podia. Não fazia sentido. Liam não podia deixar Zayn se transformar em cinza e tudo por sua culpa.

— O que você está fazendo aqui, Liam? — Sua voz soou repentinamente, imperativa e cortante.

— Eu... O porteiro me deixou entrar e me disse que você não esta-

— Eu não perguntei como você chegou aqui. — Interrompeu, afiado. — Perguntei o que você está fazendo aqui.

Boa pergunta, eu também não sei. Não pensou muito sobre isso, só precisava ver Zayn.

— Eu... Eu vim te ver.

— Com qual propósito? — Liam acha que Zayn viu algo em seu rosto, porque a voz dele se tornou mais impaciente. — O que em nome de Afrodite, você está fazendo aqui?

— Eu... Eu não sei... exatamente.

Zayn soltou o suspiro mais sarcástico, irônico e ácido que ele já ouviu na vida — e olha que ele já viveu com seus pais que eram a encarnação de sarcasmo, ironia e acidez — e decidiu simplesmente entrar em seu apartamento.

Liam se levantou meio apressado e impediu seu caminho, ficando muito perto dele e da porta. Seu coração quis saltar do peito para ir morar no dele e também sentiu uma tontura do caralho.

— Eu... Eu odeio viver sem você. É tão cinza e eu odeio te ver de cinza. Você colore a minha vida. Nada faz muito sentido sem você por perto, nem gráficos.

O coração de Zayn derreteu um pouquinho, ele falou aquilo olhando pro chão e parecia absolutamente honesto, como nunca vira antes. E ele parecia tão mal e estava falando coisas tão aleatórias e não meticulosamente planejadas... Não! Foda-se!

— É isso que você tem pra dizer? — Na verdade, ele não tinha nada pra dizer, não pensou em nada. Nem sabe direito como chegou ali.

Não estava 100% bêbado, nem 100% sóbrio, mas seu cérebro não possuía coerência o suficiente para formular nada.

— Eu não sei falar sobre essas coisas, Zayn, por favor. — Ele só queria que Zayn voltasse a olhá-lo como antes.

Mas estava inflexível em sua dor e mágoa. — Então não me procure até que aprenda.

— Mas eu não quero viver sem você! — Apelou com o primeiro argumento que pensou.

— Pensasse nisso antes de ir embora. — Empurrou Liam pra longe da porta e entrou no apartamento de porta vermelha. O único em todo prédio. Assim como ele era único em toda a galáxia.



— Eu juro, por todos os deuses do amor, que tenho vontade de te bater até a morte. Me pergunto todo dia o que me impede. — Louis apareceu, ele não sabe quanto tempo depois ou o porquê, só que estava no mesmo lugar. Sentado na porta do apartamento de Zayn, tentando entender o que estava acontecendo. — O que infernos você está fazendo aqui?

— Eu não sei. — Disse estranhamente remisso.

Louis nunca viu seu amigo naquele estado de fragilidade emocional. Já viu Liam muito mal, fingindo estar tudo bem, mas nunca o viu nesse ponto em que ele nem tenta mais fingir, nem se importa com a sua imagem ou com o que as pessoas vão pensar, que ele só sente sem medir as consequências. Nunca pensou que veria ele fazer algo tão impulsivo quanto aparecer na porta de alguém assim e sem preparar nada.

Só podia ser desespero, puro e absoluto. Louis cresceu ouvindo que o amor muda as pessoas e depois que você encontrava sua Alma Gêmea, você se tornava uma pessoa diferente. Mas nunca pensou que fosse ser tão sério.

— Vamos, vamos pra casa. — Estava sem falar direito com Liam, discordava das coisas que ele estava fazendo, mas diante da situação tudo que sentia era preocupação e medo. Não sabia como podia ajudar e se podia, mas tinha fé que amanhã quando Liam acordasse mais sóbrio, eles poderiam ter uma conversa séria sobre isso.

Contraste Cromático [Ziam]Onde histórias criam vida. Descubra agora