Contraste Cromático [Ziam]

Instância coração partido

O café forte e amargo maltratava suas papilas gustativas, assim como o gosto machucava seu coração e servia de catalisador para suas lembranças.

Mas seus olhos estavam tão pesados e se sentia tão resignado que não conseguia se importar o suficiente para fazer algo. Nada fazia muito sentido, tudo estava meio perdido e sem razão. Em um daqueles dias que assim que começa você espera o momento em que vai acabar.

Cansativo e insuportável. Era um ponto em comum entre eles então. Se sentia cansativo e insuportável.

— Você está melhor? — A voz repentina do amigo o fez parar a xícara que estava a caminho da boca. Tomou um susto, mas não conseguiu externar a reação, ela foi capturada pela sua apatia antes que tivesse a chance.

Não queria palavras ou conversas, ou pessoas, não queria nada. Talvez sumir e só. Então apenas acenou, mentindo.

— Claramente não. — Concluiu impaciente. — Precisamos conversar sobre o que você fez ontem.

Ele não parecia estar ali, parecia muito longe de si e de tudo, como se estivesse perdido na própria vida. Louis não duvidava que poderia convencê-lo a fazer qualquer coisa que ele odiasse, não parecia se lembrar de quem era e do que estava fazendo. Mas Louis pensou que deveria tentar mesmo assim.

— Você não deveria ter aparecido do nada na casa dele, principalmente se você não sabia o que ia falar.

— Foi impulso. — Murmurou baixinho e se não fossem os fortes ventos do Outono que entravam por alguma fresta, ele não teria ouvido.

— Obviamente, mas não justifica. — Ele apenas continuou tomando seu café, parecendo concordar. — Se sente tanta falta dele assim, por que não resolve isso?

— Eu tentei...

— Não, você queria que tudo voltasse ao normal sem ter que se esforçar ou reconhecer seus erros, ou conversar sobre isso.

— O que você quer que eu faça?

— Se realmente quer ele de volta, comece se desculpando. De verdade. Se resolva e resolva a situação com ele. Nada vai voltar ao que eram em um passe de mágica ou um ato impulsivo, não é assim que funciona.

◎

Estava começando a se sentir menos pior. Os primeiros dias foram horríveis, regados de choro, dor de cabeça e muitas palavras. De repente sua inspiração para escrever apareceu, pena que só na instância coração partido. Escreveu inúmeras palavras em inúmeros formatos de gêneros textuais, tudo sobre o mesmo assunto. Coração partido. Decepção. Desilusão. Tristeza. Raiva. Pode escolher qualquer tema desse núcleo, ele provavelmente escreveu algo sobre.

Mas estava menos pior. Já não escrevia tanto. Ele passava mais tempo pensando e fazendo tarefas cotidianas. Voltou até a sair de casa, após ficar uns três dias completamente isolado.

Estava recuperando ao menos alguma dignidade, até Liam aparecer daquele jeito completamente fodido, de todas as maneiras possíveis. Ele parecia tão fodido quanto Zayn, escolheu as palavras mais fodidas pra dizer do jeito mais fodido que poderiam ser ditas no contexto mais fodido o possível.

Foi como apertar replay. Quer dizer, ele já não chorava e queria sempre quebrar algo, inclusive a caneta que estava escrevendo e rasgar papel onde escrevia, mas a dor de cabeça se manteve. O estado ruim de corpo e alma se manteve.

Esperava que a sensação fosse apenas por conta da Ligação, que não estivesse sentindo tanto assim por alguém tão idiota por algo tão fodidamente estúpido que ele sequer entende.

Pensa que essa é a pior parte. Não faz ideia do que aconteceu. Não faz ideia do que Liam estava pensando. Tudo que sabe é que estava tentando mais uma vez escrever e ele apareceu e o abraçou como se não houvesse amanhã, chorou, levantou e saiu. Quando tentou conversar com ele, Liam simplesmente fugiu. Simplesmente. Sem mais nem menos, sem justificativa alguma. Quer dizer, Zayn imaginou várias coisas, mas não sabia se alguma fazia sentido ou era verossímil, porque o filho da puta que podia explicar essa porra pra ele fugiu igual os Desencantados fugiram da Grande Intervenção.

Era tão frustrante. Tudo estava caminhando tão bem pra eles. E agora, simplesmente, não tinha eles. E ele nem sabia o porquê. Só se sentia abandonado e irritado e frustrado.