Gabriela colocou Camila no banco do carona e pôs nela o cinto de segurança. Não estava no seu melhor humor. Ainda não entendia como a noite de Camila havia terminado daquela forma, mas imaginou que Felipe teria algo a ver com aquilo.
— Calma, eu não tô tão mal assim... – Camila riu, quase debochando, mas recebeu um olhar sério como resposta.
— Cuidado com a porta. – Avisou antes de fechar.
Gabriela entrou no carro e deu a partida, sem dizer uma palavra. Já dirigia há alguns minutos quando sentiu o dedo de Camila deslizar por sua mão, apoiada sobre o câmbio do carro.
— Me leva pra sua casa. É sério. – Camila pediu quase em um sussurro.
— Camila, você não quer ir pra minha casa. Olha, se você quiser, a gente pára pra comer em algum lugar e quando você estiver melhor eu te deixo em casa.
— Não, eu quero que me leve pra sua casa.
— Se você for pra minha casa, vai deitar e dormir, é a mesma coisa que vai fazer na sua.
— Eu sei...
Gabriela respirou fundo, mas preferiu o silêncio. Olhou para Camila, que piscava devagar enquanto a observava, e seus braços continuavam arrepiados.
— Como você consegue ser tão friorenta?
— Não estou com frio.
— Seus braços estão arrepiados o tempo todo.
Gabriela levou os dedos ao painel e ligou o aquecedor, apontando na direção de Camila, que lembrou do que havia conversado no bar e só conseguiu levar a mão ao rosto e rir da ingenuidade.
Alguns minutos depois, chegaram ao apartamento de Gabriela. Depois de se certificar que Camila conseguiria caminhar com os próprios pés, seguiram juntas até o elevador e subiram. Aquela era uma situação estranha para Gabriela, levar uma garota naquelas condições e com todo o clima indefinido que havia entre as duas era, no mínimo, delicado.
— Você quer comer alguma coisa?
— Não, eu tô bem, eu jantei antes de ir pro bar.
— Quer tomar um banho?
— Acho que quero. – Camila riu, um pouco sem jeito. – Mas não quero atrapalhar.
— Não se preocupa, você pode tomar banho no meu quarto e eu me ajeito por aqui. Vem, eu te mostro.
Gabriela seguiu na frente e ouvia os passos descalços atrapalhados de Camila atrás de si. Caçou uma muda de roupas no armário e lhe entregou.
— Toma, usa essa toalha e pode vestir essa roupa.
— Tá bem...
Antes que Camila pudesse dizer mais alguma coisa, Gabriela virou as costas e a deixou a sós. Tinha um nervosismo estampado na cara que quase deixava Camila culpada. Seguiu em silêncio até o banheiro e retirou o vestido e a roupa íntima que usava, fazendo um coque no cabelo para lavar somente o corpo. Deixou a água quente correr pelo rosto e a despertar lentamente. Já não sabia que horas eram e em que lugar da cidade estava, mas não fazia a menor diferença. Tudo que importava era pensar que estava a sós, num apartamento trancado com Gabriela. A cada minuto que passava, a ficha caía mais e mais. Camila quis até beber de novo quando percebeu que estava ficando lúcida, talvez para continuar culpando a bebida, mas sabia que, o que quer que acontecesse ali, precisaria assumir a responsabilidade. Retirou a maquiagem do rosto levemente com os dedos e se deixou despertar um pouco que fosse. Depois de sair da água e se secar, tomou a roupa de Gabriela nas mãos e sentiu o perfume das peças antes de colocá-las. Encarou a porta fechada e não sabia o que a esperarava do outro lado, mas conhecendo Gabriela até ali, sabia que ela não ousaria nada, especialmente naquela situação.
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Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)
RomanceE se você descobrisse que a pessoa com quem sempre sonhou está em um molde diferente do que você procurou a vida inteira? Camila e Gabriela tinham vidas diferentes, e sonhos e planos quase opostos, mas uma fina linha as unia, e quando se encontrara...