— Camila... – A voz de Gabriela sussurrou baixo no seu ouvido e teve como resposta apenas um gemido. – Acho que a gente devia acordar.
— Que horas são?
— Parece ser quase meio-dia.
— Ah, não... – Grunhiu. – Merda. Meus pais vão me matar!
Camila sentou à beira da cama e não demorou a levantar, caçando a peça íntima no chão e suas roupas da noite passada.
— Você não avisou que dormiria fora?
— Eu não planejei nada do que aconteceu ontem. Você viu meu celular?
— Deve estar na sua bolsa, na sala.
Gabriela esfregou a mão sobre o rosto, sentando à beira da cama e quando abriu os olhos novamente, Camila já estava fora da sua vista. Alguns segundos depois, ouviu os passos retornando.
— Droga, tá sem bateria. Meus pais devem ter tentado me ligar mil vezes.
— Fica calma, a gente coloca pra carregar e você fala com eles...
— Não, agora é tarde, eles já devem estar uma fera, eu preciso ir pra casa.
— Tudo bem. – Gabriela levantou em um impulso preguiçoso. – Eu te levo.
— Não, é melhor não. Minha mãe deve estar me esperando e se ela te vir, vai fazer milhares de perguntas sobre você, e... Não seria bom. Minha mãe sente o cheiro de mentira de longe.
— Tem certeza?
— Tenho, eu pego um táxi.
— Ah... Tudo bem.
Camila vestia-se apressada, mas parou ao ouvir o tom desanimado de Gabriela. Olharam-se por alguns segundos, até que Camila se aproximasse, repousando a mão no seu peito em uma tentativa de tranquilizá-la.
— Me desculpa por isso... Eu não sou como as garotas que você deve estar acostumada, eu... – Camila respirou fundo antes de continuar. – Não sou independente como gostaria de ser. Eu tenho as despesas da faculdade que o meu trabalho mal cobre, e minha mãe adora deixar claro que sob o teto deles, são as regras deles, então... Se você quiser fugir, ainda tem tempo.
Gabriela semicerrou os olhos e aproximou seu rosto lentamente, de cenho franzido, selando os lábios brevemente.
— Você não vai se ver livre de mim assim tão fácil... A menos que me diga pra ir.
— Sei... Veremos quanto tempo mais você aguenta. – Camila tomou a mão de Gabriela, a guiando junto para a saída.
— Eu tenho evidências de que aguento algumas coisas bem mais do que você.
— Ah! Besta! – Camila desferiu um tapa leve no braço de Gabriela, corada.
A despedida entre as duas durou apenas alguns segundos, mas o beijo parecia sempre ter fogos de artifício. Camila tinha borboletas no estômago sempre que Gabriela tocava seu corpo e parecia cada vez mais difícil se despedir, sem saber quando a veria novamente.
O caminho de volta para casa foi torturante. Camila ensaiava algumas desculpas, mas sabia que quando enfrentasse os pais, tudo teria de ser no improviso. Encarou o portão da própria casa por vários segundos antes de criar coragem de entrar. Os passos para dentro pareciam querer ser curtos e longos ao mesmo tempo, para acabar logo com toda a aflição. Camila respirou aliviada ao ver que o carro dos pais não estava na garagem, o que indicava que, ao menos um dos dois não estaria em casa ou, por sorte, os dois. Girou a maçaneta da porta com cuidado e a casa estava silenciosa. Retirou os sapatos para garantir que não faria nenhum barulho, mas antes que alcançasse a escada, uma voz arrancou dela um grito de susto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)
RomanceE se você descobrisse que a pessoa com quem sempre sonhou está em um molde diferente do que você procurou a vida inteira? Camila e Gabriela tinham vidas diferentes, e sonhos e planos quase opostos, mas uma fina linha as unia, e quando se encontrara...