Capítulo 11

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Quando Camila viu o fundo da taça pela quarta vez em tempo recorde, percebeu que, talvez, as coisas pudessem sair um pouco do seu controle. O salão ainda tinha a iluminação baixa demais para que conseguisse enxergar a mesa de Gabriela, mas não tinha certeza se gostaria de vê-la depois da cena que havia presenciado de longe.

— Por que está bebendo tanto? – Pedro perguntou ao notar a quantidade excessiva que Camila bebia em um curto período de tempo.

— Pra te aguentar. – Respondeu seca, contendo um leve refluxo.

— Por mim, tudo bem, isso vai me ajudar a te convencer a dançar comigo mais tarde...

Camila revirou os olhos sem paciência, como se Pedro não fosse digno sequer de uma resposta baixa. Continuou daquela forma por vários minutos, até que a vontade de ir ao banheiro fosse uma urgência inadiável. Para sua completa insatisfação, Pedro fez questão de acompanhá-la e teve total apoio de sua mãe. O caminho parecia longo e manter as pernas em linha reta era uma tarefa complicada àquela altura. A raiva que sentia era o que a mantinha em pé.

O banheiro estava completamente vazio e o silêncio do local, que deixava os sons externos abafados, fez Camila sentir falta de Júlia naquela hora. Não que aquilo pudesse ser comparado à uma de suas festas, mas ali seria um bom lugar para desabafar, e os banheiros eram sempre o ponto em que o mundo parava por alguns minutos para colocarem a cabeça em ordem. Haveria apenas um pequeno empecilho, que seria o fato de esconder da melhor amiga a maior aventura da sua vida, e aquilo também não lhe ajudaria muito naquele momento. Por via das dúvidas, deixou que os pensamentos se dissipassem. Depois do alívio que somente uma bexiga vazia poderia lhe proporcionar, encarava o próprio reflexo no espelho quando sentiu cada centímetro do seu corpo arrepiar. 

— Camila...

Camila não precisaria virar-se para identificar aquela voz, e mesmo quase certa de que estava com raiva de Gabriela, sentiu o coração disparar em um segundo, o que lhe causava ainda mais indignação. Apesar de gostar da ideia de Gabriela sair à sua procura, encheu o peito de orgulho e limitou-se a encará-la pelo reflexo do espelho, sem parar o que estava fazendo.

— Oi. – Camila respondeu sem nenhuma excitação, voltando sua atenção ao próprio reflexo.

— Tá tudo bem?

— É claro que sim, por que não estaria?!

Camila secou as mãos grosseiramente e descartou as folhas molhadas, indicando que estava de saída, mas Gabriela colocou o próprio corpo à sua frente, impedindo que passasse.

— Camila, por favor.

— O que você quer? – Perguntou seca, voltando os olhos à Gabriela e fingindo desinteresse.

— Quero que me diga o que você tá pensando. Eu vi o jeito como me olhou.

— O que você espera? Que eu faça uma cena, que grite com você? Não vou te falar o que eu penso, porque o que eu penso ou deixo de pensar é irrelevante, nós mal nos conhecemos.

— Mas eu me importo, eu quero saber.

O tom de Gabriela parecia sincero, e aquilo só conseguiu causar mais irritação em Camila, que afastou os corpos, como se não houvesse necessidade de tamanha aproximação.

— Não parece se importar. 

— Você sabe que me importo. 

— Ela é sua chefe, não é?

— ...É.

— Você... Fica com a sua chefe? – Caminha franziu o cenho, como se aquela fosse a ideia mais absurda do mundo.

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora