Capítulo 26

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Camila surgiu pelo portão do prédio novamente, e limitou-se a um olhar que se fez entender por si só, sem que dissesse nada. Nos longos quilômetros do caminho de volta, permaneceu em silêncio e observou o céu incrivelmente azul pela janela, com um olhar vazio que ninguém no veículo se atreveu a questionar. Júlia afagou seus cabelos em silêncio, entendendo o que havia acontecido. Quando Camila percebeu que já estava em casa, abriu a porta do carro e saiu, caminhando para dentro da casa, ainda sem esboçar nenhuma reação.

— Acho que isso não é bom sinal. - Guilherme cochichou ao cunhado, enquanto observavam à cena, mais ao longe.

Bianca estava sentada no sofá com a mãe quando ouviu a porta abrir e o silêncio de Camila não poderia indicar uma boa notícia.

— Por favor, não faça nada que vá se arrepender. - O pai pediu baixo à Camila, caminhando logo atrás dela, como se pressentisse o que poderia acontecer e estivesse a postos para evitar.

— E então, o que eu perdi? - Cristina levantou, de cenho franzido e com um sorriso que esbanjava ironia ao ver o semblante de Camila. - Como foi o show?

— Cristina, por favor. Agora não. - Leonardo pediu em um tom firme, que parecia advertir do perigo.

Camila voltou os olhos à mãe por alguns segundos, com uma fúria que quase lhe transbordava, mas os olhos buscaram quase de imediato à irmã, como se ela fosse a única coisa que a interessasse ali. Respirava tão fundo e tão pesado que os ombros moviam para cima e para baixo, mostrando o nível da sua irritação. Quando Camila caminhou alguns passos para mais perto, o nervosismo de Bianca já era quase palpável, sem saber o que poderia acontecer.

— Tá feliz? - Camila perguntou, quase rangendo os dentes.

— Camila... - A irmã parecia implorar por calma, enquanto distanciava-se devagar. - Eu sei que você tá nervosa agora, mas... Calma. Acredita, logo você vai ver que foi melhor assim.

— Cala essa boca, Bianca! - Camila gritou, contendo o próprio corpo de avançar sobre a irmã.

— Camila, calma...

—O que foi? Tá com medo? Fica tranquila, eu não vou brigar com você. - Camila sorriu ironicamente. - Mas se eu não posso ter o prazer de quebrar a sua cara, você vai calar a sua boca e vai me ouvir! Eu tenho pena de você! Ouviu? Pena! De vocês duas! Vocês são pessoas... Horríveis. - A respiração de Camila passou a transparecer um choro contido. - Vocês não merecem as pessoas com quem vocês estão... E, graças à vocês, eu também não mereço.

— O que... - Bianca pigarreou e cruzou os braços, tentando não mostrar interesse. - O que aconteceu lá?

— Por que você tá agindo como se você se importasse, Bianca? Você não dá a mínima, você só não quer a culpa. O tempo todo você só não quis a culpa, mas você quis que tudo isso acontecesse, não foi? O que você fez foi... Pura maldade.

— Eu agi como uma irmã mais velha, eu quis te proteger.

— Você nunca se importou comigo! Isso não foi por mim, isso foi por vocês! Foi pelo que vocês consideram ser certo e de boa aparência! Onde você estava quando eu estava num relacionamento de merda com uma pessoa horrível que só sabia me colocar pra baixo, me trair, mentir...? Eu passei anos... Anos... - Enfatizou. - Vivendo uma vida miserável, e você nunca se importou.

— Camila... No tempo certo, você vai entender. Eu quis te proteger.

— Me proteger do quê, Bianca? Da melhor pessoa que eu já conheci? Eu poderia muito bem ter passado sem essa sua "proteção"... - Camila riu ironicamente. - Eu passei a última meia hora pensando na melhor forma de acabar com você, mas... Você é tão suja que não merece nem isso. De hoje em diante, você tá morta pra mim, entendeu? Morta. Não ouse... Sequer... Chegar perto de mim, ou eu não respondo por mim.

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora