Na quarta-feira, o celular de Bianca tocou. Apesar de ser um número desconhecido, bastou apenas alguns segundos da ligação para entender do que se tratava.
Às 15h, estava no local combinado. Achou pura ousadia de Viviane chamá-la para a cafeteria mais cara da cidade, mas aquilo parecia mais uma tentativa de mostrar-se intimidadora. Assim que a reconheceu, sentada e muito mais bem-vestida do que no primeiro encontro, foi até à mesa e a cumprimentou.
— Posso? – Perguntou, tomando a cadeira à sua frente.
— Por favor. – Viviane assentiu, com um sorriso convidativo.
Bianca sentou-se, ainda sem saber direito como lidar com aquele momento. Sentiu que fazia algo totalmente impróprio, como se a própria irmã fosse um item a ser negociado.
— Obrigada por ter me ligado. – Bianca sorriu com certa timidez, ajeitando-se confortavelmente.
— Bom, você disse pra eu te ligar se não quisesse problemas pra Gabriela, então...
— Acredite, foi melhor assim. Mas eu dirigi 50km até aqui, então é bom valer a pena.
Mesmo sabendo que eram duas desconhecidas, as duas agiam normalmente, como se estivessem realmente em um encontro de negócios. Bastaram alguns minutos de uma conversa informal para que percebesse que tinham mais coisas em comum do que parecia, e isso ia além do interesse por um simples casal. Ambas fizeram o mesmo pedido ao garçom, e disfarçaram o pensamento, reparando o quanto eram semelhantes, nos gostos e no jeito de pensar.
— Não me leve à mal... – Viviane tomou a frente. – Sei que ela é sua mãe, mas não confiei nela. Na verdade, também não sei se devo confiar em você, mas se estão tramando algo, sei que farão comigo ou sem mim, então eu prefiro fazer parte...
— Pra ter o controle do que está acontecendo. – Bianca completou. – Certo? Eu estou nessa pelo mesmo motivo. Se eu deixar minha mãe resolver isso sozinha, não sei do que ela é capaz, ela consegue ser incrivelmente inconsequente quando está com raiva.
— Nesse caso, é melhor intervir. Mas, honestamente? O que vocês acham que eu posso fazer?
— Bom, você tem interesse em ajudar de alguma forma?
— Olha... Eu não gosto da sua irmã. – Viviane disse, naturalmente. – E as coisas estavam muito mais fáceis pra mim antes dela aparecer, então... Sim, é claro que tenho interesse.
— Certo. Mas eu preciso te perguntar mais uma vez: Você não está mesmo apaixonada por essa garota?
— Isso faz alguma diferença? – Viviane franziu o cenho, como se o assunto fosse incômodo.
— É claro que sim! Apesar de toda essa história, eu não gosto de pensar que a Camila pode sofrer.
— Acha que pode separar duas pessoas e controlar se elas vão ou não sofrer?
— ...Você não está me ajudando a ficar confortável com essa ideia.
Bianca respirou fundo. A frase arrancou uma risada discreta de Viviane.
— As pessoas separam casais todos os dias, em todos os cantos do mundo. Algumas intencionalmente, outras sem querer, e nem sempre são terceiros, as pessoas também destroem os próprios relacionamentos sozinhas. E, a menos que seja mútuo, alguém leva a pior, não?
— Então, o que você sugere?
— O que te faz pensar que eu sou alguma expert no assunto? – Viviane franziu o cenho, com uma risada que achava graça. – Eu só tenho interesse nesse assunto por mim mesma e pela Gabriela.
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Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)
RomanceE se você descobrisse que a pessoa com quem sempre sonhou está em um molde diferente do que você procurou a vida inteira? Camila e Gabriela tinham vidas diferentes, e sonhos e planos quase opostos, mas uma fina linha as unia, e quando se encontrara...