Capítulo 16

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A violência com que Cristina arrastou Camila casa adentro, a fez sentir como uma criança que havia aprontado uma travessura das grandes. Nem mesmo na sua infância sua mãe havia feito a cena degradante da mãe que arrasta o filho pelo braço. Camila foi solta no meio da sala, já com as marcas dos dedos visíveis sobre o braço.

— Comece a falar. Agora. Você tem dez segundos. – Cristina passou a andar em círculos, com as mãos sobre as têmporas como se fosse uma bomba prestes à explodir.

Camila sabia que ali, teria duas opções: Admitir ou negar. Mas por mais que não quisesse o stress de admitir e o furacão que teria de enfrentar, sabia que negar seria apenas adiar a verdade. Pela primeira vez, decidiu encarar quem mais temia, em troca de um fio de liberdade. Camila olhou os pais, que estavam em cantos opostos da sala, e respirou fundo

— O nome dela é Gabriela... – Camila tentou manter as palavras firmes. – Nós... Nos conhecemos há alguns meses.

— Meses? Isso vem acontecendo há meses?

Cristina avançou em direção à Camila, mas o pai a conteve, agarrando-a pela cintura.

— Cristina! Desse jeito nós não vamos resolver nada! Sem gritos e sem violência, por favor!

— O que você quer que eu diga, mãe? – Camila ofegava alto. – Que é mentira?

— Sim, é exatamente isso que eu quero que diga! Que é mentira, que isso foi uma invenção de alguém, ou um mal-entendido!

— Não é um mal-entendido.

— Você perdeu o juízo, Camila?! O que você pensa que está fazendo?

— Eu?! Eu tô vivendo a minha vida. Foi o seu "genro perfeito" quem apareceu descontrolado e fez um escândalo em público!

— E quem pode culpar o rapaz por estar daquele jeito, depois do que ele viu?

— Ele me viu feliz, isso é o bastante pra tirar ele do sério! Ele roubou minhas fotos, mexeu nas minhas coisas e me expôs na frente de todo mundo!

— E foi bem-feito pra você, ele deveria ter feito pior! Como isso foi acontecer, Camila?

— Eu... Eu nem sei como isso começou, só foi acontecendo...

— Pouco importa como começou, Camila! – Cristina interrompeu. – Poupe nossos ouvidos, pelo amor de Deus! Isso termina hoje, agora mesmo!

— O quê?! Não! Mãe, não, você não tem o direito de decidir isso por mim! – Camila voltou-se ao pai, com olhos aflitos. – Pai, fala alguma coisa! Por favor!

Os segundos de silêncio pareceram doer mais que qualquer grito que Camila pudesse escutar naquele momento.

— Camila... Como... Como? – Leonardo, perguntou, de cenho franzido. Tinha a expressão mais confusa que Camila já havia visto em seu rosto.

— Pai, me escuta...

Camila tentou se aproximar do pai, mas Cristina a segurou firme pela mão, impedindo.

— Poupe suas explicações, Camila. Essa conversa termina aqui. – Cristina segurou seu maxilar com firmeza, de modo a ter toda a sua atenção. – Eu não quero saber se você quis se aventurar, se estava entediada ou fora do seu juízo... Isso termina aqui. Se você não terminar, eu vou. E você não vai querer que eu tome minhas próprias providências.

Os olhos de Camila marejaram no mesmo segundo. Não conseguia distinguir se aquilo era raiva, medo ou decepção; a única certeza, ali, era que doía, fisicamente. E o que sentia quase implorava por uma reação.

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora