13 minutos e 45 segundos. Camila levou exatamente esse tempo para convencer os pais a passar a noite com Gabriela no hospital, após inúmeras perguntas e questionamentos cheios de desconfianças. Gaguejou pelo menos três vezes para explicar que Gabriela era uma amiga, exagerou em dizer que estava muito mal e que não teria com quem ficar. Entre verdades, mentiras e meias-verdades, sentiu alívio em saber que estaria perto de Gabriela naquela noite.
Quando Camila retornou ao quarto, Gabriela parecia estar quase dormindo, mas mantinha o olhar firme na porta. Sorriu, nitidamente aliviada, ao ver Camila retornar, como se não esperasse por aquilo.— Tava me esperando?
— Achei que você não voltaria.
Camila tinha um misto de aflição e paz dentro de si. Estar ali era calmo, mas a incerteza de quanto tempo duraria aquela calma era agonizante. Sentia que a qualquer momento alguém entraria pela porta e roubaria a atenção de Gabriela.
— Você ainda tá na condicional comigo... Mas eu quero ficar. Liguei pros meus pais e busquei um casaco no carro, por isso a demora.
A frase fez Gabriela abrir um sorriso satisfeito. Camila se aproximou e sentou à beira do leito, tomando sua mão. Observou a expressão calma em Gabriela, e a ideia de ficar ao seu lado era confortável. Gabriela ajeitou o corpo de lado, aninhando-se na mão de Camila, que seguia apenas observando. O semblante cansado indicava que não demoraria a cair no sono, e Camila preferiu apenas observá-la até que isso acontecesse.
— Me desculpa. – Gabriela sussurrou, já de olhos fechados.
— Tudo bem, eu tava sem planos pra hoje.
— Não, me desculpa por aquele dia. Você não merecia aquilo, eu fui uma idiota.
— Tá tudo bem. Você não me deve explicação, de verdade. Mas se quer mesmo que isso seja algo entre nós duas e eu encontrar outra mulher na sua casa, você vai visitar esse hospital mais uma vez. Estamos entendidas?
— Tá certo. – Gabriela riu, como se tivesse adorado a falsa ameaça.
Camila fez bico, fingindo estar brava, e recostou a cabeça no travesseiro, ao seu lado. Trocaram só algumas frases antes de caírem no sono juntas. Quando deu por si, Camila não sabia quanto tempo havia se passado, mas foi acordada por uma presença no quarto.
— Você não pode deitar aí com ela. – Uma enfermeira tentava parecer brava, mas continha um sorriso pela cena.
— Desculpa. Eu apaguei. – Camila sentou-se com pressa, arrumando a roupa. – A senhora sabe que horas são?
— Hum... – Murmurou, conferindo o relógio enquanto colocava um termômetro com cuidado em Gabriela. – 1:45h.
— Nossa, ela tá suando tanto... – Camila alisou os cabelos de Gabriela, que estavam úmidos.
— É a febre... De manhã ela vai estar melhor.
— Ela vai ter alta durante o dia?
— Provavelmente. Não teve nenhuma fratura, só escoriações, e pra essa gripe e a febre só resta descansar e tomar muito líquido. No começo da manhã um médico vai avaliar.
Camila respirou aliviada, discretamente. A ideia de deixar Gabriela sozinha em um hospital lhe causava um incômodo que tinha nome e na sua lembrança usava roupas íntimas pretas. Custou a dormir quando ficaram a sós novamente. Apertou firme a mão gelada de Gabriela e acabou apagando por exaustão. Quando o dia amanheceu, Camila cuidou de tudo, desde os remédios e as indicações do médico, até a volta para casa, com direito a café-da-manhã e mãos dadas.
— Você não tinha aula hoje?
Gabriela mancava discretamente pelo corredor, chegando ao seu apartamento. A diferença de altura entre as duas possibilitava que apoiasse um dos braços no ombro de Camila.
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Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)
RomanceE se você descobrisse que a pessoa com quem sempre sonhou está em um molde diferente do que você procurou a vida inteira? Camila e Gabriela tinham vidas diferentes, e sonhos e planos quase opostos, mas uma fina linha as unia, e quando se encontrara...