Gabriela não costumava beber, mas Viviane a convencia com uma voz mansa e um sorriso despretensioso. Sentia o álcool queimando garganta abaixo, com uma ardência típica de quem era desacostumado àquilo, mas aguentava firme, com o único intuito de tirar Camila de sua cabeça. A cada copo, Viviane parecia estar mais perto, e aquilo não poderia ser coincidência. Quando Gabriela deu por si, já estavam lado a lado, e Viviane ousava repousar a mão sobre o seu joelho enquanto tentavam conversar sob a música alta e toda a movimentação que havia no lugar.
— Posso te fazer uma pergunta? – Viviane pendeu o corpo um pouco mais para perto quando Gabriela assentiu com a cabeça. – Você está me usando?
A segunda pergunta soou exageradamente sensual, enquanto mordia a azeitona do drink em seu copo.
— O quê?!
— Está me usando? Tipo, pra esquecer dela...
— Não. – Gabriela respondeu, de cenho franzido.
— Tudo bem se estiver... Afinal, você já fez isso uma vez. Mas se for pra me usar, podemos fazer algo mais interessante.
— Você me convidou como amiga, não foi? Eu aceitei como amiga.
— Você sabe que nunca fomos exatamente amigas, não sabe? – A pergunta soou retórica.
— A gente era amiga quando era criança...
— Criança? – Viviane riu, bebericando seu copo. – A gente tinha o quê, 13 anos? Aquilo não é mais ser criança. Duas crianças não se olham como a gente se olhava. Duas... "amigas" – A morena fez questão de fazer as aspas com os dedos. – Não se olham como a gente se olhava, nem fazem o que a gente fazia.
— Bom, o que eu posso dizer? – Gabriela respirou fundo, apoiando o queixo sobre uma das mãos. – Eu já era gay naquela época.
— E eu já era bi, éramos duas garotas que gostavam de garotas, e até hoje é assim, não é?
Viviane arqueou as sobrancelhas, como se a frase fosse autoexplicativa, e tomou a mão de Gabriela pelos dedos, levando até si e os beijando suavemente.
— O que isso quer dizer? – Gabriela perguntou, observando à cena.
— Bem, não sei. O que parece?
— Parece que você tá beijando os meus dedos.
— Ou pode ser um pedido de trégua.
— Nunca estivemos em guerra.
A frase fez Viviane soltar uma risada leve, como se concordasse, sem concordar.
— Você lembra de quando era apaixonada por mim? – A morena provocou, com uma leve mordida nos lábios, arrancando uma risada nasal de Gabriela.
— Eu nem sabia o que eram sentimentos de verdade naquela época, nenhuma de nós duas. Adolescentes são feitos de água e hormônios. Eu nem gosto de lembrar daquela época.
— Por que não? Não gostava de ficar com a garota "popular" da turma?
— Eu não me importava com a sua popularidade. Gostava do que a gente tinha, só não gostava da forma que era... Você era uma garota muito babaca.
— Babaca? – Viviane gargalhou, fingindo estar indignada, e mexeu os cabelos provocantemente. – Por quê? Você é que morria de ciúmes de mim.
— Você me provocava! Se aproveitava do fato de ninguém da turma saber sobre nós e me provocava o tempo todo, sentava no colo dos meninos me olhando com aquele sorriso... – Gabriela procurou a palavra certa por um segundo, com um sorriso que trazia uma certa nostalgia em lembrar da época. – Maquiavélico. Você fazia e adorava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)
RomanceE se você descobrisse que a pessoa com quem sempre sonhou está em um molde diferente do que você procurou a vida inteira? Camila e Gabriela tinham vidas diferentes, e sonhos e planos quase opostos, mas uma fina linha as unia, e quando se encontrara...