Capítulo 35

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A visão de Camila ainda parecia psicodélica quando voltou a si. Tudo se movia extremamente devagar, e a vista de Gabriela à sua frente deixava rastros em cada movimento que fazia. Levou alguns segundos para que percebesse que estava sentada sobre a grama do jardim, sob a sombra de uma árvore.

— ...O que aconteceu? – Camila perguntou em um sussurro, ainda desorientada e sem forças.

— Ei, oi! – Gabriela cumprimentou com nítido tom de alívio, enquanto apoiava o celular com o ombro contra a orelha. – Você desmaiou... Júlia! – A atenção voltou-se ao celular. – Vem aqui fora por favor agora, por favor...

— Eu desmaiei?

— Desmaiou, você... Ficou tonta do nada e despencou. – Gabriela respondeu, voltando a sua atenção à Camila e a apoiando sobre o seu colo.

— Ah, não. – Camila levou as mãos ao rosto e tentou erguer-se, mas o corpo logo enfraqueceu e a tontura forte a fez deitar sobre o colo de Gabriela novamente. – Merda...

— Calma, fica calma, não se mexe. Me diz o que você tá sentindo.

— Só... Fraqueza, tontura, eu não sei...

— Ei, o que aconteceu? – Júlia se aproximou em passos apressados ao ver Camila e Gabriela sobre a grama.

— Ela desmaiou.

— Ah, merda. – Júlia levou as mãos à cintura. – De novo?

— Isso já aconteceu antes?! – Gabriela perguntou, confusa.

— Já, algumas vezes, quando eu era mais nova. – Camila disse com a voz ainda fraca. – Eu não acredito que ela fez isso de novo.

— Ela quem? – Gabriela franziu o cenho, sem tirar os olhos de Camila.

— Minha mãe. Ela... Consegue me deixar tão estressada que... – A frase foi interrompida por um longo suspiro. – Quando eu era criança, eu tocava flauta, e ela insistiu que eu fizesse uma apresentação pra centenas de pessoas. Eu nem queria aquilo, sabe? Eu fiquei tão nervosa e ela me fez tanta pressão que eu simplesmente apaguei alguns minutos antes de entrar no palco. Depois disso eu abandonei as aulas de flauta. O mesmo aconteceu quando eu prestei vestibular pra Letras, ao invés de Direito. Ela simplesmente... Me leva a um nível de stress tão alto que o meu corpo não aguenta.

— Você já procurou um médico?

— Não, não precisa, eu vou ficar bem, eu sempre fico.

— Gabi, não adianta, eu já insisti pra ela procurar um neuro, mas ela só vai amarrada. O tio Léo fez um check-up completo nela quando isso aconteceu pela primeira vez, mas tudo parecia normal. Essa garota é um dos motivos que eu quero ser neurologista, quando eu me formar, ela vai se consultar comigo na marra. – Júlia bufou, agachando ao lado das duas. – Como você tá? O que você sentiu?

— Só uma tontura, falta de ar, o meu corpo pareceu tão pesado, e... Tudo começou a girar e ficar lento, como das outras vezes.

— Isso não é normal, Camila. – Gabriela soou preocupada.

— Eu já falei pra ela 200 vezes. 

— Se vocês tivessem a mãe que eu tenho, entenderiam que é normal. – Camila tentou rir.

— Se fosse esse o motivo, seu irmão e sua irmã também viveriam desmaiando por aí!

— O Guilherme tem o dom de tacar o foda-se, e a Bianca tem a vantagem de ser uma aliada, eu viro o alvo mais provável e não sei lidar com isso. Só... Me ajudem a levantar, não quero que meu pai saiba que isso aconteceu. – Camila estendeu a mão às duas.

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora