Capítulo 28

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2 dias se passaram e Camila ainda parecia amortecida pela situação. Mal comia, mal falava, e não havia uma expressão definida no rosto durante aquela semana. Já era noite daquela terça-feira e ela estava deitada no sofá, olhando as imagens da TV, sem ter ideia do que assistia.


— Meu bem? – A voz de seu pai a despertou.

— Hum? Ah, oi, pai. – Camila respondeu sem ânimo, encolhendo as pernas para que o pai sentasse.

— Como está?

A pergunta gerou um silêncio pensativo em Camila. Sentia uma estranheza que envolvia o peito e descia ao estômago, um mal-estar desconhecido; a ansiedade por esperar Gabriela ligar e dizer que havia pensado melhor, e junto, havia a incerteza de que um dia aquela ligação aconteceria. Tudo era diferente do que já havia sentido. Não saber se aquele era realmente o fim a deixava com as emoções à flor-da-pele.

— Estou bem.

— Desde quando mente pra mim? – Leonardo fingiu indignação, tentando animá-la, e lhe entregou o balde de pipoca que carregava. – Toma. 

— Não tô com fome, pai. – Camila sussurrou, desanimada.

— Você precisa comer, meu amor, e reagir. Vamos. O que está assistindo?

— Sei lá, só liguei.

Os dois olharam para a televisão e notaram que Camila assistia à um documentário sobre a vida selvagem, algo que não havia qualquer relevância ou importância para ela.

— Se importa se eu colocar  em algo mais interessante? – O pai perguntou e Camila apenas negou com a cabeça, dando permissão.

Houve um silêncio entre os dois que durou alguns minutos, até que Camila cuspisse o que parecia engasgado na garganta.

— Como a Bianca pôde fazer isso comigo? – Camila perguntou, sem se mover, mas fungava discretamente, como se contivesse um choramingo.

— Você conhece sua irmã. Honestamente, acho que ela não fez por mal. Ela se sente uma eterna aspirante, quer mostrar excelência à mãe de vocês. Você e sua mãe têm objetivos de felicidade opostas, mas ela não quer te ver infeliz, só quis ver sua mãe satisfeita.

— Ela calculou muito mal as consequências dessa vez.

— Eu concordo com você... Mas ainda acho que ela não pensou nas consequências quando fez o que fez.

— Pai, eu sei que o senhor não quer ver suas duas filhas brigadas, mas o que ela fez não tem perdão. Ela mentiu pra mim, me usou, e usou o único voto de confiança que eu dei pra ela na vida. – A frase terminou com certo tom de irritação.

— Posso te fazer uma pergunta?

— Pode.

— O que você e essa menina têm... É sério? Quer dizer, era um namoro firme?

— Eu tava torcendo pra que virasse. – Camila suspirou, agarrando uma almofada e apertando contra a própria bochecha.

— E o Pedro?

— Argh, pai. – A expressão mudou rapidamente para indiferença – O Pedro e nada pra mim, é a mesma coisa. Eu nunca gostei dele, o senhor sabe. Eu devia processar você e a mamãe por terem arranjado esse namoro.

A frase fez Leonardo gargalhar, enquanto afaga a o joelho da filha.

— Você parecia gostar dele no começo.

— Eu não sabia de nada da vida naquela época.

— Certo. E agora, sabe?

— Sei que eu nunca tive vontade de casar com ele, nem ter filhos, nem nada das coisas que vocês e os pais dele planejavam pra nós. Eu não tinha idade nem pra votar, pai, e vocês já pensavam em qual bairro a gente ia morar quando casasse...

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora