2 dias se passaram e Camila ainda parecia amortecida pela situação. Mal comia, mal falava, e não havia uma expressão definida no rosto durante aquela semana. Já era noite daquela terça-feira e ela estava deitada no sofá, olhando as imagens da TV, sem ter ideia do que assistia.
— Meu bem? – A voz de seu pai a despertou.— Hum? Ah, oi, pai. – Camila respondeu sem ânimo, encolhendo as pernas para que o pai sentasse.
— Como está?
A pergunta gerou um silêncio pensativo em Camila. Sentia uma estranheza que envolvia o peito e descia ao estômago, um mal-estar desconhecido; a ansiedade por esperar Gabriela ligar e dizer que havia pensado melhor, e junto, havia a incerteza de que um dia aquela ligação aconteceria. Tudo era diferente do que já havia sentido. Não saber se aquele era realmente o fim a deixava com as emoções à flor-da-pele.
— Estou bem.
— Desde quando mente pra mim? – Leonardo fingiu indignação, tentando animá-la, e lhe entregou o balde de pipoca que carregava. – Toma.
— Não tô com fome, pai. – Camila sussurrou, desanimada.
— Você precisa comer, meu amor, e reagir. Vamos. O que está assistindo?
— Sei lá, só liguei.
Os dois olharam para a televisão e notaram que Camila assistia à um documentário sobre a vida selvagem, algo que não havia qualquer relevância ou importância para ela.
— Se importa se eu colocar em algo mais interessante? – O pai perguntou e Camila apenas negou com a cabeça, dando permissão.
Houve um silêncio entre os dois que durou alguns minutos, até que Camila cuspisse o que parecia engasgado na garganta.
— Como a Bianca pôde fazer isso comigo? – Camila perguntou, sem se mover, mas fungava discretamente, como se contivesse um choramingo.
— Você conhece sua irmã. Honestamente, acho que ela não fez por mal. Ela se sente uma eterna aspirante, quer mostrar excelência à mãe de vocês. Você e sua mãe têm objetivos de felicidade opostas, mas ela não quer te ver infeliz, só quis ver sua mãe satisfeita.
— Ela calculou muito mal as consequências dessa vez.
— Eu concordo com você... Mas ainda acho que ela não pensou nas consequências quando fez o que fez.
— Pai, eu sei que o senhor não quer ver suas duas filhas brigadas, mas o que ela fez não tem perdão. Ela mentiu pra mim, me usou, e usou o único voto de confiança que eu dei pra ela na vida. – A frase terminou com certo tom de irritação.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Pode.
— O que você e essa menina têm... É sério? Quer dizer, era um namoro firme?
— Eu tava torcendo pra que virasse. – Camila suspirou, agarrando uma almofada e apertando contra a própria bochecha.
— E o Pedro?
— Argh, pai. – A expressão mudou rapidamente para indiferença – O Pedro e nada pra mim, é a mesma coisa. Eu nunca gostei dele, o senhor sabe. Eu devia processar você e a mamãe por terem arranjado esse namoro.
A frase fez Leonardo gargalhar, enquanto afaga a o joelho da filha.
— Você parecia gostar dele no começo.
— Eu não sabia de nada da vida naquela época.
— Certo. E agora, sabe?
— Sei que eu nunca tive vontade de casar com ele, nem ter filhos, nem nada das coisas que vocês e os pais dele planejavam pra nós. Eu não tinha idade nem pra votar, pai, e vocês já pensavam em qual bairro a gente ia morar quando casasse...
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Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)
RomanceE se você descobrisse que a pessoa com quem sempre sonhou está em um molde diferente do que você procurou a vida inteira? Camila e Gabriela tinham vidas diferentes, e sonhos e planos quase opostos, mas uma fina linha as unia, e quando se encontrara...