Capítulo 02

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O beijo já durava quase um minuto, mas parecia uma hora inteira. Camila percebeu que não aguentaria mais e parou-o lentamente, afastando o rapaz com as mãos sobre os seus ombros.

— O que foi? A gente vai pegar o baseado?

— Eu... Lembrei que deixei no meu carro. Volta lá pra roda que eu já volto com ele. – Mentiu como a boa adulta que era.

— Ah... Falou. – O garoto sorriu, acreditando, e seguiu.

Tudo começava a girar mais do que o normal. Camila se sentia a pessoa mais sem dignidade do mundo. Literalmente havia beijado um garoto qualquer só para provar a heterossexualidade à uma garota que agora mal a notava. Esfregou as mãos sobre o rosto e respirou fundo. Quando ergueu os olhos novamente, Gabriela não estava mais lá. E para maior infelicidade, a loira também não.

Camila apenas negou a situação com a cabeça e decidiu continuar a noite. Para tentar salvar o resto de amor próprio que havia, decidiu trocar o destilado por cerveja. Gritou alto quando encontrou um casal de amigos da faculdade e se sentiu protegida, finalmente. Uma roda adulta, com assuntos em comum novamente. Depois de vários minutos conversando, decidiram ir para dentro da casa.

O interior da casa estava igualmente agitado, com direito a uma pista de dança, mesa de sinuca e mais bebidas espalhadas, além das comidas. Camila bebia sem parar e procurava Gabriela com os olhos vez ou outra, chegando a se distrair do assunto que participava. Não entendia o motivo de Gabriela ter demonstrado interesse e num estalar de dedos, simplesmente partido para outra conquista.

Em algum momento, entre o mar de pessoas que andavam e dançavam de um lado para o outro, avistou Gabriela, encostada em outra parede. Tudo que a visão embaçada pôde ver no milésimo de segundo que teve, foi o sorriso enquanto conversava com alguém que Camila não poderia ver, mas imaginou quem fosse. O que diabos conversavam de tão engraçado e que não tinha fim, não conseguia imaginar. Alguns segundos depois, houve novamente uma brecha de espaço e pôde observá-la por alguns segundos ininterruptos. Dessa vez, estava em silêncio e ouvia a garota falar algo em seu ouvido. Camila teve de admitir que Gabriela uma garota bonita, mesmo sem tentar. Estava simplesmente parada, com um copo de cerveja na mão e ouvindo o que outra garota lhe dizia ao pé do ouvido. O cabelo continuava parecendo um pouco bagunçado de propósito. Camila observou à cena do flerte eterno entre as duas e sentiu um calor subir pelo pescoço até o rosto. A bebida já era responsável pelos impulsos.

— Vocês me dão licença um minuto? Preciso matar uma pessoa. 

Camila seguiu para fora da casa, até encontrar Júlia. Puxou-a para um canto qualquer onde outra pessoa não conseguisse ouvir o que diria.

— Por que você mentiu pra mim, Júlia?

— Ahn?!

— Você me disse que ela tava a fim de mim!

— Ela? Quem? A Gabriela?

— É!

— Ué, ela tá. – Júlia deu de ombros.

— Então por que ela tá com uma loira siliconada há uma hora trocando flertes infinitos?

— Camila, você não disse que "obrigada mas não obrigada"? Ela conversou comigo mais cedo, mas eu disse pra ela desencanar.

— Você disse isso pra ela? Pra ela desencanar?

— É claro! Por que... Camila, você me pediu pra fazer isso!

— Eu sei, eu só...

Camila tentava organizar as ideias na própria cabeça, mas foi tomada pelos braços por Júlia, que a olhava curiosa e achava graça da situação.

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora