Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)

Capítulo 15

25 dias se passaram. Dessa vez, pela primeira vez, tranquilos – e monogâmicos. Era sábado, mas Camila não sabia se poderia chamá-lo assim, já que ainda estava escuro, e não lembrava de ver o sábado daquele jeito: Sóbria, acordada antes do Sol e já fora de casa. Cumprindo o combinado, estava à porta de Gabriela às 4:30h da manhã.

— O que você planejou, hein? – Camila perguntou, sem conseguir conter um bocejo, enquanto chegavam à garagem do prédio de Gabriela.

— Eu? Achei que você tinha algo planejado... – Gabriela brincou, fingindo espanto.

— Humpf, eu acordei às 3:30h da manhã, se você não tinha um plano, é melhor bolar um agora! E você me fez colocar um biquíni por baixo dessa roupa, é bom que me faça usar!

A frase arrancou uma risada de Gabriela, que arrumava o porta-malas com algumas poucas coisas, todas muito bem escondidas.

— Relaxa. Talvez eu tenha algo planejado... – Gabriela fechou a porta e caminhou até Camila, tomando sua cintura e guiando contra o carro. Olhava tão fundo nos seus olhos que Camila não negaria qualquer pedido naquele momento.

— Se vai ficar me olhando assim, é melhor me beijar agora mesmo.

Gabriela sorriu, como se tivesse conseguido exatamente o que queria. Aproximou-se devagar, apenas com o intuito de provocar, e colou os lábios de modo provocante. Apertou sua cintura, pressionando-a ainda mais contra a lata fria do carro, e aquilo excitou Camila na mesma hora. Gemeu abafado pelo beijo que ficava mais e mais quente a cada segundo. Camila quis pedir para que subissem de novo na mesma hora. Quis que Gabriela a levasse até a cama e fizesse tudo o que quisesse com ela. Sentia uma onda quente correr entre as pernas somente em sentir aquele beijo. Estava beirando a rendição quando o breve apito do alarme do carro ao lado interrompeu o momento, desligando. Gabriela congelou no mesmo segundo, como se soubesse exatamente que som era aquele. Mesmo estando de costas para a cena, sabia o que estava acontecendo.

— Porra... – Gabriela suspirou, com uma leve irritação no tom.

Camila entendeu apenas quando ergueu os olhos por sobre o ombro de Gabriela e notou a presença. Viviane se aproximou, sem dizer uma palavra, mas os olhos fitavam à cena como se fosse uma afronta direta. Camila também a encarou, sem desviar os olhos. Pôde reparar que usava uma roupa de academia, e carregava uma bolsa pequena. Seguiu firme, com as mãos em Gabriela, como se apenas tivessem pausado o que faziam e o motivo fosse justamente a sua presença. Viviane abriu a porta traseira e colocou a bolsa no banco, fechando-a em seguida,  com força. O som da violência que usava sobre a porta no silêncio ensurdecedor da garagem fez com que o som ficasse ainda mais alto. Embarcou, batendo a porta do motorista com a mesma agressividade. Em segundos, deu a partida no carro e saiu cantando pneus, parecendo querer mostrar a raiva que sentia pela cena que havia presenciado. Quando os sons indicavam que já estava longe, respiraram aliviadas, como se as respirações estivessem trancadas o tempo todo.

— Meu Deus, o que foi isso? – Camila sussurrou, ainda na mesma posição, dividida entre o espanto e achar graça da situação.

— Me desculpa, eu juro que eu não fazia ideia de que ela poderia estar acordada a essa hora.

— Acho que ela estava indo pra academia. Vai ter que malhar umas três horas pra se livrar dessa raiva. – Camila brincou, puxando Gabriela para si novamente. – Mas eu entendo a raiva dela. Aliás, eu já estive no lugar dela. Ela devia se dar por satisfeita que eu não provoquei ela, como ela fez comigo.

— Me desculpa... – Gabriela beijou seu pescoço devagar.

— Na verdade, é até excitante, sabia? Ela tem essa pose de quem pode ter tudo, mas não pode mais ter você... – Camila afastou o rosto por um segundo, de cenho franzido. – Você não tem transado com ela, tem?