Gabriela ouvia o cantar dos pneus, mas a adrenalina não a fazia parar. Trocava as marchas com violência, exigindo que o carro fosse ainda mais rápido. No GPS, o trajeto entre o aeroporto e a casa de Camila levava 45 minutos, e Gabriela fez em menos de 30.
Quando freou bruscamente em frente à casa de Camila, a respiração pesou como se a ficha finalmente caísse. Gabriela tomou o celular nas mãos e encarou a tela por vários segundos em silêncio até que apertasse o botão de discagem para fazer a chamada... Mas o celular estava desligado. Não haveria outra solução, além de interfonar, mesmo correndo o risco de não ser atendida, ou ser atendida por alguém indesejado. Encarou a casa por alguns segundos antes de se aproximar, e preferiu não pensar antes de apertar o interfone, que passou a chamar.
— Oi? – A voz masculina atendeu.
— Ahm, oi. Desculpa, eu precisava falar com a Camila.
— Ela não está em casa. Quem gostaria?
Gabriela cerrou os olhos com força. Sabia que haviam duas opções de resposta: A verdade ou a mentira.
— É... A Gabriela. – Respondeu, pigarreando discretamente.
— ...Espere um pouco. – A voz do outro lado finalizou, desligando.
Gabriela não se moveu, sem entender exatamente o que aconteceria. A respiração pesou ainda mais e a ideia de ir embora passou pela sua cabeça três vezes naquele minuto que pareceu durar uma hora inteira. Quando decidiu ficar, ouviu o som quase estrondoso do portão enorme abrindo devagar, e ali, ofegou. Alguém apareceria em alguns segundos e Gabriela não fazia ideia do que poderia acontecer. Leonardo surgiu, com uma expressão um tanto confusa, mas parecia feliz em ver Gabriela à sua frente.
— Então... Você é a Gabriela?
— Ahm... Sou.
— Muito prazer. – O senhor estendeu a mão com um sorriso nada ameaçador.
— ...Prazer. – Gabriela sorriu, com uma timidez fora do normal, e apertou sua mão, mesmo sabendo que a palma suada entregaria o nervosismo.
— Eu sou o pai da Camila.
— Ah... Ela fala muito bem do senhor.
— Ela que não fale pra ver... – A frase veio com uma risada simpática. – Ela me falou muito bem de você também.
— Eu nem imagino o que pode ter sido. – Gabriela coçou a própria nuca, um tanto sem jeito e com uma voz pesarosa.
— Eu imagino... Ela não deve demorar, se você quiser entrar pra esperar por ela, e acho que a gente tem muita coisa pra conversar, não? – O senhor estendeu o braço, tocando o ombro de Gabriela e a convidando para dentro. – Mas, espera... Você... Não estava fora da cidade?
— Eu? Não, por quê?
— Ela foi no restaurante e disseram pra ela que você tinha viajado.
Gabriela freou bruscamente e ficou pálida na mesma hora. A boca ficou entreaberta, parecendo sequer puxar o ar para os pulmões.
— O quê? Quan... Quando?
— Há um pouco mais de uma hora. Eu fui com ela até lá, mas ela foi avisada de que você estava em uma viagem com a sua chefe.
— Não. – A palavra saiu de Gabriela quase como um pedido de que aquilo não houvesse acontecido.
— Sim. – Leonardo coçou os cabelos, sem entender. – Depois disso eu a deixei em uma cafeteria não muito longe, ela ia encontrar com a Júlia.
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Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)
RomanceE se você descobrisse que a pessoa com quem sempre sonhou está em um molde diferente do que você procurou a vida inteira? Camila e Gabriela tinham vidas diferentes, e sonhos e planos quase opostos, mas uma fina linha as unia, e quando se encontrara...