Capítulo 29

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Gabriela ouvia o cantar dos pneus, mas a adrenalina não a fazia parar. Trocava as marchas com violência, exigindo que o carro fosse ainda mais rápido. No GPS, o trajeto entre o aeroporto e a casa de Camila levava 45 minutos, e Gabriela fez em menos de 30.

Quando freou bruscamente em frente à casa de Camila, a respiração pesou como se a ficha finalmente caísse. Gabriela tomou o celular nas mãos e encarou a tela por vários segundos em silêncio até que apertasse o botão de discagem para fazer a chamada... Mas o celular estava desligado. Não haveria outra solução, além de interfonar, mesmo correndo o risco de não ser atendida, ou ser atendida por alguém indesejado. Encarou a casa por alguns segundos antes de se aproximar, e preferiu não pensar antes de apertar o interfone, que passou a chamar.

— Oi? – A voz masculina atendeu.

— Ahm, oi. Desculpa, eu precisava falar com a Camila.

— Ela não está em casa. Quem gostaria?

Gabriela cerrou os olhos com força. Sabia que haviam duas opções de resposta: A verdade ou a mentira.

— É... A Gabriela. – Respondeu, pigarreando discretamente.

— ...Espere um pouco. – A voz do outro lado finalizou, desligando.

Gabriela não se moveu, sem entender exatamente o que aconteceria. A respiração pesou ainda mais e a ideia de ir embora passou pela sua cabeça três vezes naquele minuto que pareceu durar uma hora inteira. Quando decidiu ficar, ouviu o som quase estrondoso do portão enorme abrindo devagar, e ali, ofegou. Alguém apareceria em alguns segundos e Gabriela não fazia ideia do que poderia acontecer. Leonardo surgiu, com uma expressão um tanto confusa, mas parecia feliz em ver Gabriela à sua frente.

— Então... Você é a Gabriela?

— Ahm... Sou.

— Muito prazer. – O senhor estendeu a mão com um sorriso nada ameaçador.

— ...Prazer. – Gabriela sorriu, com uma timidez fora do normal, e apertou sua mão, mesmo sabendo que a palma suada entregaria o nervosismo.

— Eu sou o pai da Camila.

— Ah... Ela fala muito bem do senhor.

— Ela que não fale pra ver... – A frase veio com uma risada simpática. – Ela me falou muito bem de você também.

— Eu nem imagino o que pode ter sido. – Gabriela coçou a própria nuca, um tanto sem jeito e com uma voz pesarosa.

— Eu imagino... Ela não deve demorar, se você quiser entrar pra esperar por ela, e acho que a gente tem muita coisa pra conversar, não? – O senhor estendeu o braço, tocando o ombro de Gabriela e a convidando para dentro. – Mas, espera... Você... Não estava fora da cidade?

— Eu? Não, por quê?

— Ela foi no restaurante e disseram pra ela que você tinha viajado.

Gabriela freou bruscamente e ficou pálida na mesma hora. A boca ficou entreaberta, parecendo sequer puxar o ar para os pulmões.

— O quê? Quan... Quando?

— Há um pouco mais de uma hora. Eu fui com ela até lá, mas ela foi avisada de que você estava em uma viagem com a sua chefe.

— Não. – A palavra saiu de Gabriela quase como um pedido de que aquilo não houvesse acontecido.

— Sim. – Leonardo coçou os cabelos, sem entender. – Depois disso eu a deixei em uma cafeteria não muito longe, ela ia encontrar com a Júlia.

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora