Capítulo 21

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Camila sonhou com o que considerava ser uma traição de Gabriela durante toda aquela noite. Acordou no meio da madrugada, com o corpo tão suado que parecia estar em estado febril. Quando voltou a dormir, voltou a sonhar com Gabriela e Viviane juntas, em cenas que jamais havia visto, mas a sua imaginação, em um momento de fúria, criava com riqueza de detalhes.

Levantar da cama depois de uma noite mal-dormida também não foi uma tarefa fácil, especialmente quando a raiva e a decepção estavam correndo pelas veias, junto com o cansaço. Camila era puro mau humor naquela manhã de quinta-feira, mas fez questão de colocar a sua melhor roupa, sabendo que encontraria Gabriela. Estava decidida a mostrar que não toleraria mentiras. Maquiou as marcas que a noite havia lhe deixado e desceu as escadas impecável, mas com cara de poucos amigos. Foi até a cozinha, onde a mãe e a irmã estavam a sós, e Bianca foi a primeira a notar sua presença - e a expressão nada amigável no seu rosto.

— Bom dia... – A irmã mais velha ousou cumprimentar Camila, coçando a parte de trás da orelha discretamente.

— Bom dia.

— Como está?

— Bem.

— Dormiu bem? – Bianca a acompanhava com os olhos.

— Não.

Camila finalizou o assunto, tomando uma garrafa d'água na geladeira, enquanto Bianca trocava um olhar discreto com a mãe, que apenas assistia à cena, recostada ao balcão, segurando sua xícara de café. As duas apenas acompanharam Camila com os olhos e observavam enquanto esta tomava uma maçã e caminhava em direção à porta, indicando já estar de saída.

— Espera, Camila, você não vai comer? – Bianca soou preocupada com a irmã, o que parecia um evento raro.

— Não, tô sem fome. 

— Quer uma carona pra faculdade?

— Não, obrigada. – Camila retornou e deu um beijo no rosto na irmã. – Se cuida. E obrigada.

— Vo...Você também. – Bianca respondeu, desconcertada.

Camila saiu sem se despedir da mãe, e não esboçava nenhuma reação, como se estivesse completamente anestesiada.

— Jesus, ela parece um vampiro. – Bianca sussurrou ao ficarem a sós.

— É só drama, logo passa. Você sabe, tanto quanto eu, que isso aconteceria de um jeito ou de outro.

— Quem garante, mãe? A gente nem sabe quem é aquela garota...

— É uma garota, isso não é o bastante? Acha que isso entre elas teria futuro?

— Sinceramente, mãe? Não sei.

Bianca evitava olhar a mãe nos olhos. Enfrentá-la estava fora de cogitação, mas não se orgulhava do que havia feito.

— Está arrependida, Bianca? – Cristina fechou a cara ainda mais. – Vá em frente e diga pra ela o que você fez. Conte que tudo que você disse é mentira, e que você tramou essa história toda com uma garota que ela odeia.

— Você sabe que eu não posso, o que está feito, está feito... Mas eu acho que a gente não devia ter feito isso.

— "A gente"? – Cristina gargalhou. – Minhas mãos estão limpas, Bianca. Quem planejou e executou esse plano foi você. Aliás, pelo visto, funcionou. Parabéns.

— Mãe, eu fiz isso por você, a senhora sabe disso.

— Sei, e aprecio. Mas eu não tive nada a ver com isso.

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora