Capítulo 19

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— Você o quê!? – Júlia gritou, desferindo um tapa sobre a mesa em que estavam sentadas e levantou-se, indignada.

— Eu... Fugi, tá bem? Eu fugi.

— Ela disse que te ama e você fugiu?! Camila!

— Eu entrei em pânico, Júlia! Não grita comigo, não vai me ajudar em nada!

— Você acabou de estragar meu café da manhã. – Protestou, apontando para a própria comida sobre a mesa. – Que merda, Mila, como você teve coragem de fazer isso com ela?

— Eu não pensei, eu só... Fiz. – Camila mantinha os cotovelos apoiados sobre a mesa, e o rosto enterrado sobre as palmas das mãos. – Ela ia me pedir em namoro! Eu não sei se eu tô pronta pra outro relacionamento, ainda mais com uma garota! Por que ela tinha que fazer isso? A gente teve uma noite incrível, ela fez o jantar, a gente tava bem, tava tudo normal, e no fim da noite, ela me disse isso, e eu só... Surtei. Eu não sabia como reagir.

— Ah, meu Deus. A Gabriela é mesmo uma bruxa. – Júlia passou a ironizar. – Ela te recebe na casa dela, vocês jantam, transam, se entendem maravilhosamente e no final da noite diz que te ama e que quer namorar com você.

— Dá pra você tentar me entender? Eu não tava preparada pra ouvir isso dela!

— O que você achou que ia acontecer? – Júlia abriu os braços, demonstrando uma indignação rara. – É óbvio que ela tem sentimentos por você! E eu achei que você tinha por ela também.

— É claro que tenho, Júlia! A Gabriela é a melhor pessoa que eu conheci, eu adoro estar com ela, mas... Eu fiquei assustada, isso não tava nos meus planos.

Júlia respirou fundo, como se tentasse se acalmar profundamente, e sentou ao lado de Camila.

— O que você pretende fazer agora?

— Eu não sei, eu não pensei ainda. Sei lá, talvez ela nem lembre que me disse aquelas coisas...

— Então por que você foi embora no meio da noite?

— Porque eu tenho medo, Júlia. – Camila desabafou. – Tenho medo de não saber no que isso pode dar, medo de pensar que meus pais podem infernizar a nossa relação, medo de não dar certo e eu acabar sofrendo e saber que eu fiz ela sofrer...

— Você não podia esperar a manhã chegar e conversar com ela, como duas adultas?

— E dizer o quê? Seria a conversa mais estranha da minha vida!

— Ah, Mila... – Júlia coçou a testa, também se sentindo perdida. – Eu não sei o que te falar. A Gabriela não merecia isso. Que droga, cara. Ela sofreu pra caralho quando terminou com a ex dela. Você é a primeira garota com quem ela se envolve de verdade em anos, eu achei que ela nem se lembrava como se pronuncia essa frase.

— Você tá me dizendo que ela não disse "eu amo você" pra nenhuma outra garota com quem ela ficou?

— Estamos falando de um "eu amo você", Camila, não "me passa o ketchup", então sim, eu acho realmente que ela não diz essa frase à toa. Eu conheço a Gabi há 80 anos e ela disse que me ama 3 vezes e meia.

— Como se diz eu "eu te amo" pela metade?

— Ela disse "eu também" quando eu disse "eu te amo", então só conta como meia vez. Essa não é a questão aqui. Você pisou na bola. Agora, você tem só duas opções: Ou você vai atrás e conserta isso, ou desocupa a moita. Fui clara? Eu não vou ficar sentada assistindo minha amiga virar a velha amarga que tem 8 gatos dentro de um apartamento e só sai de casa pra comprar pão de pantufa e roupão.

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora