6 meses se passaram desde o dia em que Camila e Gabriela colocaram a aliança prateada na mão direita. Apesar da incrível paz que tinham juntas, Camila por diversas vezes parecia exausta mentalmente pelas discussões com a mãe, e aquilo parecia desgastá-la lentamente, mesmo quando tentava esconder a todo custo. Era uma noite de quinta, já próximo à meia-noite, quando Gabriela foi chamada por um dos colegas da cozinha, informando que havia uma garota aos prantos procurando por ela, o que a fez sair em disparada no mesmo segundo. Gabriela sabia que era Camila, e provavelmente estava no seu limite.
— Amor? Ei, o que aconteceu? – Gabriela perguntou, preocupada, enquanto se aproximava de Camila e a tomava nos braços.
O silêncio já havia sido uma forma de resposta nas outras vezes em que havia chorado daquela forma. Camila apenas agarrou Gabriela forte, em um abraço desesperado por consolo.
— Calma, fica calma. Respira. Vem, senta aqui. – Gabriela guiou Camila até um banco e a sentou devagar, tentando também manter o autocontrole.
— Me... Me desculpa por vir até aqui, mas... Eu... – Camila interrompeu a frase, sem conseguir terminar, voltando a chorar com uma tristeza que partia o coração de Gabriela.
— Não tem problema, meu amor, fica calma. Olha pra mim. – Gabriela tomou o queixo de Camila e a fez olhar nos seus olhos, com um olhar que dava a proteção que precisava. – Eu quero que você respire fundo e devagar, tá bem? Vamos, eu faço com você.
Gabriela passou a respirar fundo e soltar o ar devagar, incentivando Camila, que logo fez o mesmo por um minuto inteiro, até que sentisse o corpo relaxar o mínimo que fosse.
— Pronto. Agora... Eu não vou te perguntar o que aconteceu, porque você vai chorar de novo, então não precisa me contar. – Gabriela deslizou a ponta dos dedos com carinho pelo rosto de Camila, enxugando as lágrimas que escorriam. – Nós vamos conversar sobre isso quando esse choro não for mais um risco, tá bem? – A pergunta veio com um sorriso e Camila assentiu. – Você tá bem, tá inteira? Tudo em ordem?
Gabriela perguntou em tom de brincadeira, enquanto apertava o corpo de Camila aleatoriamente, como se conferisse se estava intacta, arrancando uma breve risada.
— Tô inteira. – Camila gargalhou, também enxugando o próprio rosto e tentando se recompor, ainda fazendo bico.
— Tá se sentindo melhor?
— Não...
— Puxa, esse truque costuma funcionar. – Gabriela fez bico. – Olha aqui pra mim... Você já jantou?
— Não.
— Então eu vou preparar alguma coisa pra você comer. – Gabriela levantou e logo sentiu a mão de Camila contê-la.
— Não, meu amor... Você tá trabalhando.
— Ué, você pode ser uma cliente, não!?
— Você já viu alguma cliente entrar pelos fundos do restaurante chorando?
— Já, toda semana. Geralmente eu sento com elas e elas pedem sorvete de sobremesa. – Gabriela brincou, arrancando mais um sorriso de Camila.
— ...Eu não aguento mais.
— Eu sei. – Gabriela afagou os cabelos de Camila devagar. – Não vamos falar disso agora. Quero que você coma alguma coisa e daqui uns minutos o meu turno acaba e eu te levo pra casa, tá bem?
— Eu não quero ir pra casa. – Camila suspirou com uma tristeza que Gabriela já conhecia.
— Relaxa, eu vou te levar pra minha casa. – Gabriela sorriu, tranquilizando.
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Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)
RomanceE se você descobrisse que a pessoa com quem sempre sonhou está em um molde diferente do que você procurou a vida inteira? Camila e Gabriela tinham vidas diferentes, e sonhos e planos quase opostos, mas uma fina linha as unia, e quando se encontrara...