Capítulo 08

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Camila acordou com o despertador do celular. Ainda de olhos fechados, caçou o corpo de Gabriela na cama, quase instintivamente. Estava leve e com os músculos relaxados, como se estivesse na própria cama.
Não entendia como uma situação atípica poderia ter tão familiar; estar perto de Gabriela era como matar uma saudade imensa, mesmo ainda sendo quase uma desconhecida. Jamais havia imaginado que um dia estaria naquela situação, e como poderia ser bom.
Quis apreciar aquele momento um pouco mais antes de levantar. Ficou em silêncio, deslizando os dedos sobre a barriga de Gabriela, tentando apenas curtir aqueles minutos, sem pensar nos milhares de questionamentos que provavelmente surgiriam em sua cabeça em seguida.

Impiedosamente, o tempo passou e Camila teria de levantar e ir embora. Na ponta dos pés, foi até o banheiro e fez suas higienes matinais, trocou de roupa e fez um rabo-de-cavalo. Deu um beijo leve nos lábios de Gabriela ainda dormindo, torcendo para não despertá-la, e suspirou por ter de ir embora, mas insistiu a si mesma que não acordá-la seria o mais certo.

Na saída, Camila se deparou com uma garota, saindo do apartamento ao lado. Talvez tivessem a mesma idade, mas a postura dela era claramente superior. Estava impecavelmente arrumada, com uma roupa social e maquiagem completa. Camila sentiu que foi analisada dos pés à cabeça em um segundo, como se a garota soubesse do que aquela cena se tratava.

— Oi. – Camila cumprimentou por educação.

— Olá. – A mulher retribuiu com um sorriso, trancando a porta do apartamento e guardando as chaves na bolsa.

As duas seguiram praticamente juntas até o elevador e os segundos enquanto o aguardavam e desciam foram brutalmente silenciosos. A morena foi a primeira a descer, um andar antes do térreo, na garagem, e tomou a frente para sair sem qualquer contato visual, mas não perdeu a chance de alfinetar.

— Boa sorte.

As palavras tinham um tom irônico. Camila ficou estarrecida com a petulância, mas manteve o silêncio. Sentiu uma pitada generosa de provocação totalmente desnecessária. Respirou fundo e levou as mãos às têmporas, um tanto quanto frustrada. Receber um desejo de boa sorte após sair da casa da pessoa com quem havia tido a melhor noite não era exatamente o que animaria o seu dia.

***

Uma semana inteira se passou, e Camila aguentava firme os pensamentos que tinha. Decidiu manter a noite com Gabriela em segredo, apenas pelo que lhe restava de sanidade mental, e aquilo era cruel, especialmente com todo o interrogatório que Júlia fazia, sempre desconfiada. Trocava mensagens com Gabriela vez ou outra, mas nenhuma das duas mencionava um segundo encontro, e Camila não estava disposta a ceder. A cada dia, ficava mais claro que havia sido somente uma noite casual, e talvez precisaria mesmo de boa sorte.

Aquela semana estava cinza, não havia feito um dia sequer de Sol, e era extremamente entediante. Era sexta-feira e o expediente terminaria um pouco mais cedo. Camila já havia programado um happy hour com as amigas do trabalho e não conhecia o lugar escolhido, mas toparia qualquer programa que a tirasse do tédio, mataria por uma cerveja.

No início da noite, já estava na terceira caneca de cerveja. A mesa estava bem-localizada em uma área externa e era composta por ela e mais 4 amigas. Todas recebiam vários olhares de homens que passavam por ali e aquilo incomodava Camila, de um jeito que não conseguia entender. Se sentia um pedaço de carne exposto. Os pensamentos estavam em outro lugar, e a voz que ouviu de surpresa parecia uma materialização do que não conseguia tirar da cabeça.

— Oi. – A voz surgiu ao pé do ouvido esquerdo, cumprimentando. Camila reconheceria aquele tom entre cem outros.

— Ei, oi! – A surpresa de Camila foi notável ao ver Gabriela. – O que... Você tá fazendo aqui?

Sob Nossas Peles (Romance Lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora