chapter 8

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Rosé

Acordei com um sorriso bobo no rosto ao me lembrar que é sábado. É dia de arrumar a casa e lavar as roupas, quando a noite chega eu já estou relaxada.

Enquanto preparava o café na cafeteira elétrica, fui trocar meu pijama por uma calça legging rosa e uma blusa branca de manga comprida. Ouvi meu celular tocar quando voltei pra cozinha, Jennie estava me ligando.

Respirei fundo e atendi a ligação.

— Oi Jennie. — disse.

— Bom dia, Rosé. — sua voz doce soou na outra linha. — Como vai?

— Hum, muito bem e você?

— Bem também. — Jennie disse. — Faz tempo que não nos falamos.

— Verdade. Tenho trabalhado e estudado bastante ultimamente. — não menti. — O que tem feito, Jen?

— Nada de novo. Mas estou de folga hoje, queria saber se vai sair à noite.

— Não vou. Sempre fico em casa nos sábados.

Alguns segundos de silêncio.

— Você se importa de me receber? — perguntou ela sem jeito.

Queria que não tivéssemos essa barreira entre a gente. Queria que ela aparecesse sem avisar, trouxesse comida e cervejas e ficasse até tarde. Queria que fossemos mais próximas e que pudéssemos falar de homens, relacionamentos e sentimentos com a outra. Queria que ela não perguntasse se eu me importo de recebê-la.

A culpa é dos nossos pais.

A culpa é dos nossos malditos pais.

— É claro que não me importo. Venha sempre que quiser, você sabe disso.

— Sim, eu sei, só acho que você pode ter coisa melhor pra fazer. — ela falou. — Você sempre buscou suas próprias formas de se divertir, passar o tempo.

Ela não mentiu. Gosto de tomar conta de mim.

— Enfim, venha sim. Se quiser trazer algo pra comer ou beber, me avisa, vou comprar alguma coisa também. — sorri, mesmo ela não podendo ver.

— Que ótimo! Vou levar vinho e chocolate.

É claro que ela irá trazer vinho e chocolate. Uma vez, quando éramos adolescentes, decidimos que queríamos fazer alguma coisa absurda e engraçada, mas que ninguém soubesse. Eu dei a ideia de tomarmos algum vinho que nossa mãe tinha, por incrível que pareça, Jennie topou na mesma hora. De madrugada, Jennie conseguiu roubar a garrafa de vinho e eu peguei os chocolates que escondia na cômoda de meu quarto. Passamos aquela noite em claro, rindo e conversando muito.

Às vezes eu só sinto falta disso. Da amizade e conexão que tínhamos.

Foi só Jennie completar seus 18 anos, tudo mudou. Nossos pais já nos afastavam uma da outra quando éramos crianças, mas nós tentávamos ainda assim, fazer tudo juntas. Jennie foi para a faculdade e quando vinha pra casa, éramos desconhecidas. As coisas ficaram assim por alguns meses, até que eu percebi que nossos pais mandaram Jennie se afastar de mim.

Eu seria uma distração para seus estudos, disse meu pai.

Nunca vou me conformar com o que nossos pais faziam e ainda fazem conosco. Sempre usam Jennie como troféu para os outros, e me criticam por eu nunca ter sido como ela. Mas eu a amo, ela é minha irmã, a afinidade que esfriou.

— Maravilha. Te vejo à noite, Jennie. — digo animada.

— Até logo, Rosé. — e ela desligou.

𝐄𝐒𝐁𝐀𝐑𝐑𝐀-𝐌𝐄 | 𝑹𝒐𝒔𝒆𝒌𝒐𝒐𝒌Onde histórias criam vida. Descubra agora