15.

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Point Of View Ariel Beauchamp

Tem vezes que eu me sinto a própria mobília da casa perto da vida agitada que meus pais levam, por isso eu escrevo um diário contando o que eu vejo não sendo a protagonista mas sim uma pessoa que olhe de fora, eu sou a única nessa casa que pode observar e conseguir entender tudo que está acontecendo mesmo que tentem me excluir dos problemas.

Como se fosse resolver, eu tenho sentimentos e detesto toda essa merda que tentam passar pra mim, eu sei o que meu pai faz, sei as coisas que a minha mãe já fez, e não é preciso muito também pra saber que não tem nada que eu possa fazer, porém o que isso reflete em mim é uma coisa absurda.

Eu sou desconfiada, não confio nem na minha própria sombra, não deixo ninguém se aprofundar nos meus sentimentos porque eu passei alguns anos vendo minha mãe fazer isso, fico na defensiva com tudo e as vezes me sinto paranóica. Não que eu tenha criado expectativas de ser uma adolescente normal, nunca vou ser porque nós não somos normais.

Nem todo mundo tem um pai mafioso que a qualquer momento pode sumir ou morrer de verdade, nem todos tem uma mãe que pega tantos problemas pra ela que está há ponto de enlouquecer, eu passei a não ter medo das coisas. Nem da morte eu tenho medo, até porque eu não posso ter medo de algo que eu já tentei encarar e nunca consegui.

E se for pra eu viver mesmo prefiro me sentir satisfeita porque com tudo isso, eu tenho os melhores pais do mundo.

Desço as escadas com a intenção de pegar um copo d'água, enquanto estou na cozinha encaro o Kyle, o gato que agora finalmente parou de fugir e resolveu ser nosso, talvez ele tenha sido maltratado e saiba que é acolhido aqui. Antes de subir as escadas checo todas as portas pra ter certeza se todas estão trancadas, coloquei isso como obrigação desde que minha mãe passou a esquecer.

Escuto um ronco leve e noto que novamente ela acabou adormecendo na sala encolhida no sofá, massageio minhas têmporas e olho pra cima, respiro fundo e vou até ela. Agachando pra poder ficar perto do seu rosto.

- Mãe, mãe acorde. - a ponta dos meus dedos acariciam seu rosto até que seus olhos começam a se abrir lentamente. - Você dormiu na sala de novo.

- Eu fiz isso novamente? - assinto e ela se senta no sofá lentamente. - Não acredito. Seu pai está em casa?

- Provavelmente não, ele não te deixaria aqui. Eu te ajudo a subir vamos.

Assim que ela se deita na cama, noto que agora está atenta e provavelmente preocupada. Como sempre.

- Por que você fica na sala? Está esperando meu pai?

- Não.

- Então por que?

- Pra me certificar que eu não sou louca Ariel. Porque eu não sou.

- Sei que não, você é a pessoa mais sã que eu conheço. Mas não faz sentido ter que ficar na sala pra se provar isso.

- Faz, porque eu não esqueci de fechar as portas. Eu me lembro de fazer isso, eu não sou louca. Eu fico na sala porque se eu ver algum invasor eu vou saber que não estou perdendo a cabeça.

- Você está estressada e é normal que fique assim.

- Não me sinto segura.

- E os seguranças?

- Diminuímos porque de fato não tivemos nenhum problema com isso. Seu pai acha que estou ficando louca ele acha.

- Mãe ele te conhece e sabe que você não faria nada pra colocar nossa vida em risco.

 𝐀𝐌𝐂 - A Médica e o Criminoso IIOnde histórias criam vida. Descubra agora