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MARATONA 2/3

Após alguns poucos segundos senti meu corpo ser movimentado abaixo do pano azul, não sentia absolutamente nada, nenhuma dor, nenhuma parte do meu corpo abaixo daquele pano, ainda sentia meus braços, mais da linha do busto pra baixo literalmente nada.
_"Ja começou?", perguntei ao anestesista próximo a minha cabeça e ele deu uma espiada e voltou assentindo.
_"Ja já até termina", ele disse, deveria sorrir por de baixo da máscara.
Me virei olhando pra Vinnie que me olhava fixamente com os olhos cheios de lágrimas, me sentia meio drogue, Vinnie sorriu fazendo um carinho na minha touca.

Alguns burburinhos eram escutados do outro lado do pano, conversas aleatórias, algo de como havia sido o aniversário de alguém misturados com termos cirúrgicos que eu não entendia. Escutava barulhos de objetos metálicos batendo, ouvia algo sugar, imaginei que deveria sugar o sangue pra limpar a visão, comecei a parar de imaginar o acontecia ali em baixo.
Como um estalo rápido comecei a sentir um enjoo, sentia que estavam 'mexendo dentro de mim', e imaginei que pressionando algum órgão, sei lá, mais me fez sentir vontade de vomitar.

Deveria ser algo normal por que o anestesista logo percebeu e com toda calma do mundo soube lidar com aquilo.
_"ta enjoada?", o anestesista perguntou e eu assenti entre a ânsia, "vou administrar o medicamento pra enjoo tá bom, só um segundo", ele disse injetando uma medicação com a seringa no meu acesso e em seguida colocando um pano ao lado da minha cabeça e colocando minha cabeça de lado pra caso eu vomitasse fosse somente no pano.
_"Vai passar rápido", o anestesista disse fazendo um carinho gentil em mim, e Vinnie deu uma olhada estranhando, mais sorriu pra mim achando estranho e eu levantei as sobrancelhas me achando, ainda meio drogue com as medicações e anestesia.

Me recuperei do enjoo segundos depois da medicação aplicada e me recompus olhando pra cima, 'cadê minha filha?', pensei 'quanto tempo eu tô aqui?', vi o relógio 6:09am, tinha se passado 20 minutos mais ou menos e parecia que estava ali a horas.
Foi o ponto ápice da medicação, quando eu estava mais grogue na vida me virei olhando pra Vinnie que permanecia em silêncio.
_"Você tá tão mais tão bonito", falei e Vinnie sorriu confuso dando uma olhada rápida pro anestesista com um pouco de vergonha, que prestava atenção na conversa por estar relativamente perto.
_"Você também é bonito", disse e Vinnie riu baixinho.
_"Obrigada", o gentil anestesista respondeu, acho que ele sorriu por debaixo da máscara
_"Mais ele é o homem mais lindo que eu já vi", falei voltando a olhar pra Vinnie que sorria agradecido.

_"É a medicação", o médico falou pra Vinnie enquanto eu me sentia tonta olhando pra cima.
_"Tudo bem, você é bonitão mesmo", Vinnie disse e eu mesmo olhando fixo pro teto eu ri.
_"Ta na hora, o papai quer ver a bebe saindo?", a Dr Manuela perguntou e eu olhei pra Vinnie que tirou o sorriso do rosto e voltou a ficar apreensivo.
Vinnie assentiu se levantando me olhando e eu sorri pra ele, o vendo se afastar e indo pra onde eu não tinha visão.
_"É uma menina né?", o anestesista perguntou me fazendo companhia ali e eu assenti.
_"Acho que não vai ter olhos claros como o seu", eu dizia parecendo uma drogada e ele sorriu, os olhos dele eram bonitos.

Quando de repente um ruivo engasgado foi ouvido por mim vindo de trás do pano, em alguns segundos pude ouvir um choro baixinho e foi como se me acordasse de qualquer viagem, grogue que o medicamento tinha me levado, foi como um dispersar, foi eu apenas ouvir o choro de Daisy, ela estava ali, finalmente ela estava ali, eu nem se quisesse conseguiria descrever o sentimento, era como se tudo estivesse em completa harmonia, como se tudo na minha vida fosse perfeito, é mais do que amar profundamente, eu me sentia forte, por um minutos eu esqueci que qualquer coisa ruim que acontecia na minha vida ou no mundo, Daisy estava ali, ou a ouvia, eu estava feliz, nada poderia me destruir.

Após alguns segundos do começo do choro eu olhava em volta, o anestesista bonito se levantou pra olhar por cima do pano, e me olhou, ele sorria por debaixo da máscara eu acho.
_"Muito bem, parabéns papai", ouvi a Dra Manuela dizer e Vinnie apareceu de volta no meu campo de visão, ele chorava mais parecia ser de felicidade.
_"Ela é perfeita", Vinnie exclamou e eu olhei como se pedisse pra vê-la também, havia alguma movimentação por ali.
_"Peso, aspiração...", a enfermeira disse, deveria ser padrão iriam pesa-la, medi-la, embrulhada, tudo normal, por um instante me senti um pouco de desespero, não tinha conseguido vê-la ainda mais em poucos segundos meu momento tinha chegado, uma enfermeira se aproximou com um pequeno pacotinho, meu coração pulsava rápido, e ela depositou com cuidado Daisy ao lado da minha cabeça, pra que eu pudesse a vê-la, ela era a coisa mais perfeita que eu tinha visto, era como se ter a presença de Deus ali, uma paz.

Era branquinha, pequena, era cabeluda, numa cor meio castanho, já não chorava, se esforçou pra abrir os olhos mais pelas luzes da sala acredito que era difícil, olhei suas orelhas, olheis seus dedinhos, a enfermeira abriu o pano que a embrulhava pra que eu pudesse ver seu corpinho, ela ela pequena porém toda perfeita.
_"Oi amor, é a mamãe, você é linda", falei próximo a ela, olhei pra Vinnie que estava de pé próximo e sorria entre seu choro.
A enfermeira mostrou a mim e a Vinnie uma etiqueta de identificação aonde Vinnie conferiu os dados e colocou uma no pulso e uma no tornozelo de Daisy.

_"Sarah a gente vai ter que levá-la a Uti Neonatal", e eu olhei confusa, 'Não, não, não', minha mente gritou, medo voltando a pairar sobre meu corpo.
_"...ela é um bebê prematuro de 35 semanas, ela nasceu com 2,510g, abaixo do peso, não se preocupa é padrão em casos de prematuridade, seu marido vai acompanhar enquanto você fica aqui pra terminarem a cesaria e se recuperar da anestesia ok? Não se preocupa o papai vai estar com ela", a enfermeira disse e olhei pra Vinnie que parecia surpreso com a ida a uti.
_"Sarah é procedimento, ela ainda é muito pequena, nasceu antes da hora, precisamos monitorar se os órgãos dela estão todos formados e maduros, vão alimentá-la lá, não se preocupa, logo você estará com ela tá bom?", a Dra Manuela disse e eu assenti, ela era a personificação de um anjo naquele momento pra mim, ela quem tinha trazido minha filha ao mundo, ela quem cuidou de mim na gravidez e ainda cuidaria, ela sabia o que era o melhor naquele caso.

_"Fala até já pra mamãe", a enfermeira falou dando a entender que era a hora de levar Daisy e eu a olhei pela última vez dando um beijinho na mãozinha pequenininha dela, e a enfermeira com todo cuidado embrulhou e levantou Daisy a tirando dali e Vinnie se aproximou me dando um beijo na testa.
_"Cuida dela", pedi e Vinnie sorriu com os olhos assentindo.
_"Vai ficar tudo bem", ele disse de dando um carinho.
_"Vamos papai?", a enfermeira apressou Vinnie que saiu a seguindo.
_"Estamos fechando, já vou encerrar", a Dra Manuela falava do outro lado do pano azul, tinha até me esquecido que ainda não tinham acabado.

_"Não se preocupa é procedimento padrão, logo vocês estariam juntos", o anestesista bonito me disse eu eu deixei escapar mais um lágrima e assenti.
Meus sentimentos era de medo misturado com felicidade, eu era mãe finalmente, mais só iria conseguir a plena felicidade quando Daisy estivesse comigo.
"Cuida dela por favor", pedi pra Deus.




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Ela veio ao mundo ❤️🌼
Tô feliz por eles!

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E SE ELA QUISER? • VINNIE HACKER Onde histórias criam vida. Descubra agora