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_"Meses? Tem certeza que ele falou isso?", Vinnie perguntou de pé encostado no balcão da cozinha e eu assenti sentada na mesa com as mãos fechando meu rosto, eu já não chorava, chorei por horas desde que desliguei a ligação no início da tarde, parei de chorar quando Daisy começou a chorar também, tinha lido que bebês sentem sua energia, deveria ser verdade por que Daisy não era uma bebê que chorosa, engoli o choro mais sentia que se mexesse com ele, ele viria a tona novamente me fazendo derreter em lágrimas de novo, chegou no início da noite e me encontrou sentada na mesa bebendo um copo de água, olhando pro nada, não precisou de muito pra Vinnie se tocar do por que eu estava daquele jeito, afinal ele sabia que eu ligaria pro médico, mais ele como eu também tinha as melhores notícias, como meus pais nos contavam, que a cura chegaria logo, mais a realidade que o médico disse era totalmente diferente.

Tive que me acalmar pra conseguir contar com detalhes o que o médico me disse.
_"Pareceu que ele quis dizer poucos meses", falei e Vinnie colocou a mão na boca não esperando por aquilo.
_"Seu pai sabe que você falou com o medico?", Vinnie perguntou.
_"Ele sabe que eu ligaria", falei.
_"Sarah você acha que eles nos contam o caso do seu pai tão leve por que eles não querem te assustar ou por que eles não tem noção do quão grave é?", Vinnie perguntou e eu olhei pra ele, era uma boa pergunta, talvez não me contavam por que não tinham dimensão da gravidade.
_"Eu não sei, meu pai é um homem inteligente né, ele deve saber, não é possível, e minha mãe é uma pessoa lúdica né, as vezes parece que vive num universo paralelo, acho que ela não tem noção talvez, mais meu pai...", falei e Vinnie me olhava pensando, mordia a lateral da boca, se manteve com os braços cruzados apoiado na bancada.

_"Vai falar com eles?", Vinnie perguntou e eu assenti.
_"Independente de saberem a verdade e não nos contar preciso falar o que falei com o médico, dizer que não precisam mais fingir que tá tudo maravilhoso, ou pelo menos caso não saibam tenham noção de como anda as coisas", falei e Vinnie assentiu.
Não falaria hoje, não tinha como, eu com certeza iria começar a chorar e não conseguiria passar seriedade da situação, talvez amanhã de manhã.
_"Você quer pedir algo pra jantar?", Vinnie perguntou e eu neguei.
_"To cansada, queria deitar", falei passando a mão na cabeça.
_"Vai lá amor, deita", Vinnie falou.
_"Tenho que dar mama", falei e Vinnie olhou Daisy na cadeirinha de balançando os braços no ar brincando sozinha.
_"Eu dou, pode deitar", Vinnie falou e eu olhei desconfiada e Vinnie apontou pra geladeira, "Tem leite no congelador, vou até tirar pra descongelar", Vinnie disse dando a volta na bancada e indo a geladeira e tirando um vidro de leite que eu armazenava pra quando fosse preciso.

Me levantei aceitando a ideia de Vinnie e me adiantei pra ir até o quarto e Vinnie veio rápido me pegando pelo braço e me puxando pra ele pra me dar um abraço que eu aceitei prontamente, Vinnie parecia saber que eu precisava muito daquilo, era como um conforto, um lugar de paz, me sentia tocar no choro que estava pronto pra se soltar, mais respirei fundo pra que não acontecesse.
_"Depois que eu fizer ela dormir eu vou ficar com você tá?", Vinnie perguntou e eu assenti em silêncio e sai, passando por Daisy deixando um carinho em seus cabelinhos e indo na direção do quarto, eu nem me troquei e deitei em minha cama olhando pro completo escuro do nosso quarto, pensava apenas no meu pai, odiava o fato de poder perdê-lo ou de vê-lo sofrer, cai no sono em meio ao meu choro.

_"Eu vou descer com Daisy", Vinnie disse após nosso café da manhã e eu assenti.
_"Ta bom, qualquer coisa me chama", falei e Vinnie assentiu segurando Daisy e descendo me deixando sozinha na mesa, estava decidido que ligaria para meus pais, era um sábado e ambos estariam em casa, deveria ser 12hs no Brasil e iniciei uma chamada com eles, eu avisei que ligaria então deveriam estar esperando.

_"Oi filha", minha mãe disse andando com o celular assim que atendeu a vídeo chamada.
_"Oi mãe, o que estão fazendo?", perguntei.
_"Estou arrumando o almoço", minha mãe disse e eu sorri.
_"Cade o papai?", perguntei e minha mãe deu uma olhada meio de canto de olho.
_"Ta lá na sala, assistindo tv", minha mãe disse.
_"Como ele está mãe?", perguntei e minha mãe piscou mais forte e saiu de perto do celular aparentemente pra fechar a porta entre a cozinha e a sala, era uma casa grande, meu pai no sofá já não escutaria a conversa.

_"Ele anda tendo enjoos fortíssimos Sarah, vomitando sempre que come algo, essa última quimioterapia foi agressiva deixou ele muito mal", minha mãe disse e eu passei a mão pelos cabelos um pouco desesperada, enquanto minha mãe procurava um lugar bom pra apoiar o celular pra conseguir conversar e continuar cozinhando, "Ele anda fraco Sarah", minha mãe parecia disfarçar a preocupação.
_"Mãe eu liguei pro médico, ele me contou tudo, me esclareceu muita coisa", falei e minha mãe assentiu conseguindo parar o celular em algum coisa na frente dela.
_"Ele é ótimo né? Tô feliz que ele seja o médico do seu pai, ele parece bem inteligente, ele nos trata muito bem, tem médico que não são...", minha mãe falava e eu a interrompi.
_"Mãe você tem noção do caso do papai?", perguntei e minha mãe que havia deixado o celular apoiado em cima de uma prateleira por que mexia nas panelas de repente parou de misturar algo na panela e engoliu em seco, ela tinha.

Minha mãe assentiu com a cabeça sorrindo.
_"Claro Sarah, nós fomos a consulta ontem mesmo, sabemos que ele está um pouco fraco, as primeiras químios não teve nenhuma eficácia, ele está um pouco fraco, lógico que precisamos esperar um pouco, é de pouquinho em pouquinho, estava pensando em falar com o médico pra mudar o tipo de químio, estava pensando que talvez mais 7 ou 8 quimioterapias...", interrompi minha mãe.
_"Mãe o médico o me disse que o caso do papai é mais grave do que vocês me falam", falei e minha mãe sorriu pra tela do celular confusa.
_"O cabelo dele já está começando a cair, ele estava até pensando em raspar de uma...", minha mãe continuou a falar e eu a interrompi novamente.
_"Mãe ele me disse que talvez ele tenha meses", falei e minha mãe pareceu assustada.

_"Sarah, seu pai está bem, vai continuar bem, e quando tudo isso acabar vamos até fazer uma viagem, estava pensando em Grécia", minha mãe estava negando a realidade .
_"Mamãe o médico disse que a químio não alterou em nada e pelo que disse até piorou, eu queria saber se tinham noção do quão grave meu pai...", falei e minha mãe pareceu surtar do outro lado.
_"Sarah cala a boca, cala a boca", minha mãe pareceu querer gritar, mais tomou cuidado pra que meu pai na sala não escutasse e eu arregalei os olhos surpresa pelo surto dela que eu não esperava, "Sarah, você não está aqui, não está cuidando dele, não vê o quanto ele está sofrendo com esse tratamento, você está a quilômetros de distância com a sua vida perfeita, eu estou aqui cuidando dele sozinha, eu quem estou levanto ele as milhares de consultas e exames que ele tem que fazer, seu pai parece já ter aceitado a morte, mais eu não, e agora você me vem com essa história da gravidade dele, eu sei da gravidade dele, mais eu não preciso de negatividade, seu pai está com câncer mais vai se curar...", minha mãe disse e pareceu calar a boca por alguma coisa, meu pai havia entrado na cozinha, mais ainda estava assustada pelo jeito que ela falou comigo.





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E SE ELA QUISER? • VINNIE HACKER Onde histórias criam vida. Descubra agora