Capítulo 11

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Cochichos, olhares preconceituosos, mais cochichos...

Nabi sentiu como se tivesse voltado para escola, na época em que seu tratamento ainda estava no começo e os traços que não eram seus ainda eram visíveis.

Aquela lembrança era como um soco no estômago, pois foi ali que Nabi soube que não podia confiar em ninguém, que as pessoas não mereciam conhecê-la de verdade.

Mesmo com todos os olhares sobre si, ela permaneceu ali com a cabeça erguida, mas foi demais até mesmo para si ouvir:

                — Ela não é uma mulher de verdade.

Aquelas palavras a atingiram como uma flecha certeira no centro de um alvo.

De todos os comentários que já ouvira, aquele era novo e doía e era uma dor insuportável.

Nabi prensou os lábios e correu dali, queria ir para qualquer outro lugar que não fosse aquele.

Ela encontrou seu refúgio dentro do estúdio, que por acaso estava aberto.

A Park se encolheu em uma das arquibancadas e baixou a cabeça.

De repente ela tinha 16 anos outra vez, no meio de seu tratamento hormonal, sendo expulsa de casa, os pais gritando que queriam seu filho de volta, sendo que ele sequer existia.

As lágrimas deixaram os olhos de Nabi sem piedade, suas lembranças eram como um filme sem fim em sua cabeça.

Um calor reconfortante se fez presente em sua bochecha e suas lágrimas foram enxugadas.

Ela ergueu a cabeça e encontrou os olhos dóceis de Haru, que estava agachada na sua frente.

Atrás dela Wheein e Moon sorriam fracamente.

              — Não há problema nenhum em ser trans. — As palavras da mais nova tiveram mais peso sobre Nabi do que ela gostaria.

Nabi se agarrou a Haru como uma criança se agarra a sua mãe após passar um longo período longe desta, ouvir aquelas palavras era a coisa que ela mais precisava naquele momento.

              — Nunca vai haver problema nenhum em ser quem você é. — Wheein sentou ao seu lado.

              — Não queria que ninguém soubesse. — Nabi enxugou as próprias lágrimas.

              — Você não deve se esconder. — Moon se senta do outro lado, Nabi abre a boca para responder, mas é interrompida. — Não é errado sentir medo, Nabi.

Nabi sentia medo.

Medo de coisas como as que aconteceram agora.

Ela criou uma barreira ao seu redor para nunca mais ser atacada daquela forma, para nunca mais se sentir tão vulnerável quanto da vez que ouviu da boca de seus próprios pais que ela era uma aberração.

               — Eu me descobri cedo. — Revelou a Park. — Quando eu era criança, gostava de usar as roupas da minha mãe e me sentia desconfortável ao olhar para baixo durante o banho. — As garotas permaneceram em silêncio, apenas a escutando. — Minha primeira disforia foi aos 11 anos, eu me olhava no espelho e sentia que aquilo não era eu, me machucava, puxava forte meus cabelos ao ponto de arrancar, ficava desesperada.

                 — Você passou por tudo isso sozinha? — Perguntou Moon.

                 — Não, meu tio testemunhou uma das minhas crises e me orientou e depois, eu conheci duas pessoas e os três juntos me guiaram e me ajudaram a entender quem eu era. — Explicou Nabi. — Eu ia esperar meus pais saberem para começar o tratamento hormonal, mas as minhas crises estavam cada vez mais frequentes e meu tio achou melhor eu começar logo. — A morena fechou os olhos com força como se estivesse sendo atingida. — Não demorou para meus pais notarem o que estava acontecendo e eles odiaram o que viram, me atacaram das piores formas possíveis e me expulsaram de casa e a partir daí tudo ficou pior.

Written in the stars: a arte de amarOnde histórias criam vida. Descubra agora