- O que você tem, Ana?
Isabel perguntou pela milésima vez.
- Já falei que não tenho nada.
- Odeio ter que te dizer que você não me engana.
- Pela última vez: eu não tenho nada. - passei a mão pelo rosto, impaciente.
Isabel suspirou.
- Você tá estranha desde sexta, claro que tem alguma coisa aí. Alguma coisa aconteceu entre você e o Jack, né?
Me virei pra guardar a louça, uma desculpa pra não ter que olhá-la.
- Não.
- Você sabe que pode me contar qualquer coisa.
Segurei os pratos com força, eu já estava saturada daquele assunto.
- Isabel, por favor.
Ficamos em silêncio por alguns segundos até que ela suspirou novamente.
- Tudo bem, mas se quiser falar alguma coisa...
Assenti e ela saiu da cozinha.
Eu, de fato, estava estranha desde meu encontro com Jack. Por mais que eu tentasse esconder, Isabel me conhecia bem demais. Mas, por algum motivo, eu não queria me abrir com ninguém sobre essa nova situação, queria que aquilo ficasse só pra mim, o que era estranho já que eu sempre pedia conselhos a minha irmã e a Erin, mas dessa vez eu sentia que nada do que alguém me falasse iria ajudar.
Eu estava um trapo.
Talvez a conversa com Jack na sexta tenha me afetado mais do que eu queria admitir a mim mesma.
Continuei com meus serviços domésticos do sábado até dar a hora de me arrumar pra o culto. Eu estava sem um pingo de vontade de ir, eu só queria ficar sozinha em casa e extravasar tudo o que eu estava sentindo, mas ao olhar pela centésima vez pra o meu celular em busca de alguma mensagem de Jack e não ter absolutamente nenhuma mensagem ou ligação dele, decidi que estava na hora de parar de sentir pena de mim mesma, de esperar que ele se importasse comigo, e ir pra igreja. E não é como se meu pai fosse me deixar faltar de qualquer jeito. Só se eu estivesse praticamente à beira da morte.
Não prestei atenção a nenhuma palavra que meu pai disse, a única parte do culto que eu realmente participei foi o coral, e no fim, Oliver veio até mim.
- Oi, Ana. - sorriu simpático.
- Oi. - sorri de volta.
- Então, eu tava pensando que a gente podia sair na sexta, depois do seu trabalho.
- Claro, tudo bem por mim.
- De que horas você sai?
- As 6, mas posso pedir pra sair um pouco antes, as 5. Tá bom pra você?
- Ótimo. - sorriu.
Conversamos mais um pouco até que Alex nos chamou pra nos juntarmos a um grupinho de adolescentes da nossa idade para conversarmos, e em certo ponto da conversa, procurei Isabel com os olhos. Fiquei chocada ao vê-la conversando com os Miller, junto com meus pais.
Os Miller tinham dois filhos, um deles um pouco mais velho que Isabel, Phillip, e outro bem mais novo, Pierce.
Ao ver aquela cena, eu já sabia o que estava se passando. Mas era claro que meu pai estava arrumando um marido em potencial para Isabel!
Fiquei alheia a toda conversa que se passava na rodinha que eu estava, só observando minha irmã. Ela tentava disfarçar ao máximo possível que estava detestando aquilo, mas eu a conhecia. Ela segurava as mãos com força demais, seu sorriso era forçado demais, vez ou outra ela colocava as mãos pra trás e as apertava e mordia o lábio o tempo todo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
9 Months of Trouble
RomanceAna Wentworth é uma garota comum, filha caçula de três irmãs, aluna e filha exemplar. Vive numa pequena cidade do interior do Mississippi, lugar onde, ironicamente, constitui o bible belt. Seu pai, um pastor respeitadíssimo e rígido, não mede esforç...