O primeiro dia de férias, apesar de mais feliz, foi igual a todos os outros. Não ter que ir pra escola foi substituído por mais tarefas domésticas. Lavar, varrer, aspirar, passar e limpar nunca havia sido tão cansativo. Nem pra cantarolar eu tinha ânimo.
Minha mãe estranhou eu não estar cantando alguns versos da nova música do coral e veio logo me questionar.
- Aconteceu alguma coisa?
- Nada. - falei enquanto terminava de passar o aspirador de pó na sala.
- Você tá mais quieta que o normal.
- É só cansaço, você sabe, primeiro dia de férias dá aquela preguiça. - fui em direção à área de serviço guardar o aspirador de pó.
- Uma dona de casa não pode ter preguiça, mocinha. - falou minha mãe da cozinha.
Rolei os olhos. Iria fazer uma careta se ela não tivesse aparecido de supetão na dispensa.
- Seu pai vai trazer os Harrison pra cá hoje. - gelei.
- Por quê? - sai da dispensa com ela logo atrás, trazendo uma vassoura.
- Uma pequena reunião entre amigos e um ótimo jeito de você conversar com o Ollie.
Eu bem sabia o motivo da "pequena reunião". A pontada de desespero já foi se alastrando pelo meu corpo e tive vontade de gargalhar ao ouvir minha mãe chamar Oliver pelo apelido. Era ridículo, parecia nome de cachorro. Ele era um cara legal, mas não tinha nada a ver comigo.
- Acho que vou ficar até tarde na biblioteca hoje, sabe como é, Tania me pediu pra ajudar já que eu entrei de férias. - foi a primeira desculpa que eu inventei.
- Hoje não dá, Ana. Seu pai está irredutível e disse que você precisa comparecer.
- Mãe, vou fazer o possível pra chegar cedo. Eu prometo. - menti. - A que horas eles chegam? - perguntei fingindo interesse.
- As 7.
- Tudo bem, vou ver o que posso fazer. - sorri sem mostrar os dentes e fui subindo as escadas.
- Ana, por favor, faça isso pelo seu pai. - minha mãe veio atrás de mim. - Ele não está nada feliz em ver você fugir do rapaz. -disse séria.
Engoli seco.
- Eu não estou fugindo dele. - minha voz saiu mais aguda. - E eu vou estar aqui, eu prometo.
- Jura por Deus? - ela segurou meu braço
- Juro. - minha voz saiu determinada.
Ela soltou meu braço e voltou à cozinha.
Entrei no meu quarto como um raio e me joguei na cama. Toda aquela situação com os Harrison era horrível, tinha ficado mais frequente as investidas do meu pai em me fazer uma futura sra. Harrison.
Eu só tinha vontade de chorar e espernear, como uma criancinha, toda vez que meus pais me obrigavam a vê-los, cumprimentá-los e trocar palavras com Oliver. Eu não só sentia pena de mim como do garoto também, nós dois ficávamos desconfortáveis com aquilo, mas pelo menos ele sabia se sobressair e nunca parecia ficar constrangido.
Esperneei na cama e meu grito foi abafado pelo travesseiro.
O bom de ser a única filha restante na casa era ter finalmente um quarto só pra mim. Passei minha vida inteira dividindo o quarto com Isabel, Eva tinha um quarto só pra ela por ter sido a primogênita. Meus pais sempre acreditavam que só iriam ter dois filhos, então quando eu nasci, Isabel foi obrigada a dividir o quarto comigo.
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9 Months of Trouble
RomanceAna Wentworth é uma garota comum, filha caçula de três irmãs, aluna e filha exemplar. Vive numa pequena cidade do interior do Mississippi, lugar onde, ironicamente, constitui o bible belt. Seu pai, um pastor respeitadíssimo e rígido, não mede esforç...