Capítulo 22

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Todo o meu corpo estremeceu ao ouvir aquela voz séria que preencheu toda sala. Respirei fundo antes de me virar, com o coração a mil. Me deparei com aquele par de olhos azuis, gélidos, me encarando de forma severa e paralisei, incapaz de responder.

- Porque no trabalho você certamente não estava.

- Eu estava com o Oliver. - menti.

Fiquei o tempo todo na volta pensando sobre o que tinha acontecido com Jack, que não tinha tido a preocupação de inventar uma história mirabolante pra explicar minha ausência no trabalho. O que eu comecei a me arrepender amargamente.

Meu pai deu alguns passos na minha direção, ainda me encarando duramente e me fitando com aqueles olhos gélidos.

- Foi? - cruzou os braços. - Engraçado. Eu fui na casa dos Harrison e descobri que Oliver viajou pra visitar a avó.

Eu tive vontade de me socar, bem ali, na frente dele, pela minha burrice. Oliver tinha me dito que iria viajar. 

Porém, ele também havia me dito que viajaria naquela tarde...

- Na verdade, eu estava com ele... Mas depois eu também fui ver a Erin. - expliquei rápido.

Eu estava tão nervosa que eu já podia sentir as palmas das mãos gelarem e o suor brotar em cada poro da minha testa.

Meu pai descruzou os braços e deu mais alguns passos, se encostando no sofá despreocupadamente. Subiu calmamente as mangas da blusa e coçou a barba.

Toda aquela postura calma e despreocupada que ele estava interpretando estava me deixando em pânico, já que eu sabia que ele estava nadando em ódio por dentro, só esperando o melhor momento pra jogar toda ira em cima de mim.

- Eu também fui lá na casa da Erin, sabia? Ela não estava em casa, e a mãe dela, a senhora Peck, - muito simpática você não acha? - me disse que ela tinha saído com o amigo dela.

Engoli seco, já sentindo o mundo rodar. Precisei me segurar no corrimão da escada pra não cair.

- Eu me encontrei com os dois. - murmurei num fio de voz.

Depois de um longo silêncio, meu pai falou baixo e extremamente lento:

- Ou você me fala a verdade agora, ou eu garanto que vai ser muito pior quando eu descobrir. Você escolhe.

- Mas eu estou falando a verdade. - sussurrei.

Ele riu sem humor.

- Eu devo te lembrar que eu sou seu pai, te criei durante toda sua vida e eu sei muito bem quando você está mentindo pra mim. Que é o caso nesse momento. - sua voz severa fez um arrepio correr pela minha espinha.

- Eu não estou mentindo. - sussurrei.

- Ana, eu sei que você está. - falou grosseiramente. - E eu quero começar a escutar a verdade.

Todo o sangue pareceu esvair do meu corpo, e eu não tinha controle sobre minhas mãos trêmulas. Meu cérebro era incapaz de formar qualquer frase, muito menos uma mentira bem elaborada.

Agora. - disse alto e firme.

- Eu não... - minha voz saiu esganiçada e eu pigarreei. - Eu não fui trabalhar hoje porque... - murmurei e baixei a cabeça.

Eu não podia contar a verdade. Eu tinha que proteger Jack. Não só ele, como a mim também, nem que para isso eu tivesse que passar por essa humilhação.

Mas eu não conseguia inventar uma mentira plausível.

Escutei o suspiro impaciente do meu pai e voltei a olhá-lo. Ele passou a mão pelo rosto impaciente e cruzou os braços, me encarando de uma forma quase animalesca. A paciência dele se esvaia a cada segundo, me deixando cada vez mais perto do seu ataque de fúria.

9 Months of TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora