Capítulo 30

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Corri pra o banheiro mais próximo e me tranquei na última cabine. Minha respiração estava pesada e uma dor de cabeça já dava o ar da graça.

- Ana? Ana?! Abre a porta!

Despertei da minha discussão interna assim que escutei a voz de Erin e as batidas da porta da cabine.

- Erin, eu preciso ficar sozinha agora. - falei baixinho, quase sem nem reconhecer minha voz de tão frágil que saiu.

- Tem certeza?

Respirei fundo.

- Tenho.

O banheiro ficou num completo silêncio, mas assim que pensei que voltei a ficar sozinha, escutei a voz baixinho da minha amiga:

- Elas estão erradas.

Não respondi e finalmente escutei a porta abrir e fechar, indicando que tinha ficado só novamente, mergulhada no meu próprio mar de perguntas sem respostas, confusão e incerteza.

Será que elas estavam erradas?, pensei mentalmente.

Eu nunca tinha estado numa posição de tanto julgamento como aquela. Lógico que, por ser filha do pastor e todos saberem que as Wentworth eram criadas numa linha de educação extremamente rígida, eu era um alvo fácil pra fofocas. Contudo, nunca tinha sido num teor tão malvado e tão descarado como aquele, e principalmente porque envolvia uma coisa muito mais séria.

Atribui toda aquela maldade ao fato de, por ser quem eu era, uma Wentworth, e as pessoas assumirem logo de cara que nós éramos extremamente religiosas e nós não saímos, a não ser pra ir pra escola ou pra igreja, era impensável que uma de nós ficasse grávida antes do casamente.

Deus, ninguém nem nunca nos via conversando com garotos, quanto mais pensando que, pelas costas do pastor, nós estávamos praticando um ato tão pecaminoso!

Uma gravidez na adolescência já era ruim, mas ser uma grávida adolescente, ter um pai pastor, que era conhecido na cidade inteira, principalmente pela rigidez com as filhas e não ter namorado era muito, muito pior.

Estava impressionada com a capacidade das pessoas de julgarem por um simples olhar a situação do outro. Nenhuma daquelas pessoas ao menos se colocava no meu lugar e assumia que eu era um adolescente como qualquer outra, com desejos, e que estava sozinha e sofrendo as consequências. Ninguém queria saber como eu estava me sentindo, se estava tudo bem com o bebê, se o pai do meu filho estava me apoiando ou se eu precisava de alguma ajuda.

Não. Todo mundo apontava o dedo.

Aquele mesmo dedo que erra a direção dos próprios erros, aquele mesmo dedo que desvia críticas, em minha direção e tentava me culpar, me julgar e me subjugar às críticas.

Eu só queria sair gritando pra todo mundo cuidar das suas próprias vidas e deixassem a minha em paz. O que agora seria impossível.

Era muito mais fácil me criticar por estar fora do padrão namorar-noiva-casar-e-ter-filhos. Aliás, é muito fácil criticar os outros, afinal, somos uma máquina de procurar defeito alheio. É fácil falar, julgar e não passar pela dificuldade e entender a dor do outro.

Eu sabia que isso ia acontecer, só não imaginei que me sentiria tão desprotegida e atacada daquele jeito. Entretanto, eu precisava enfrentar se quisesse ter meu diploma.

Respirei fundo. Contei até 10.

- Eu consigo, eu consigo. - repeti de olhos fechados.

Abri os olhos, saí da cabine e me ajeitei. Respirei fundo de novo e esperei o toque indicando a segunda aula, já que a primeira eu tinha perdido por ter tido um ataque de pânico sentada na tampa do vaso do banheiro. Como explicar isso pra o professor?

9 Months of TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora