Floresta das Almas Penadas

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Os cristais de gelo envolviam as cordas corroídas.

Eu fiquei surpresa em ver que aquelas cordas aguentaram a podridão e os insetos por tantos séculos e ainda não haviam cedido. Fiquei mais impressionada ainda com os cadáveres que também estavam em melhor condição do que imaginava.

Engoli em seco, observando os corpos mumificados balançando com o vento de inverno, as cordas em torno de seus pescoços se recusando a ceder.

Aquela árvore era bem maior do que eu imaginava, e muito mais assustadora que qualquer lenda escrita em qualquer livro. Por que aquilo era real. Eu conseguia ver as larvas entrando e saindo dos cadáveres, os ossos de corpos que já haviam se entregue à terra tintilando ao vento, e os olhos opacos de novos corpos... muito novos.

Engoli em seco, indo contra todos os meus instintos para atravessar aquela linha visível entre grama seca de inverno e grama pútrida de veneno mágico. Fui contra todos os tremores quando pisei em direção a grande passagem mal iluminada atrás da Árvore dos Pecadores, e entrei na Floresta das Almas Penadas.

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O ar dentro daquela Floresta era sufocante, antigo. Parecia tão parado e morto quanto a própria Floresta, mas tão frio quanto qualquer outra nevasca. Mas o frio que eu estava sentindo era muito maior to que apenas o do inverno.

A partir do momento que eu ultrapassei aquela linha invisível entre o inofensivo e o mortal, uma presença fria parecia me rondar, me observar. E eu sabia que não era de forma protetora.

Com ou sem poderes, aquela floresta era território novo pra mim e, aqueles que a protegiam, eram muito mais antigos e poderosos do que eu. Eles não me respeitavam e me viam como uma próxima caça. Se eu não encontrar onde eu tenho que me encontrar com as Titânides logo, é bom que Amine não me tenha deixado de pernas muito bambas...

Esse era um novo problema, eu não fazia ideia de onde eu estava. De novo, a Floresta era um território novo no qual eu não estava preparada para me aventurar. Além de lendas, eu não sabia mais nada sobre suas raízes, suas árvores, seus riachos.... E não é como se alguém já tivesse entrado lá, e saído com vida, para mapear todo o lugar.

Então, estava completamente dependente dos meus instintos e meu, terrível, senso de direção.

Quando passei pelo o que julguei ser a mesma árvore pela terceira vez, parei de andar. Olhei em direção ao Sol poente, e me perguntei quanto tempo me restava de luz do dia para me guiar. Pouco tempo, percebi conforme as sombras das árvores se erguiam na direção oposta.

Olhei ao redor, mas fui agraciada apenas com árvores secas e espinhosas, grama morta apodrecida, e neblina densa que começava a se alastrar pelo chão, desesperada para consumir o resto de luz do sol.

Encarei a neblina, tentando manter minha mente fora do poço de pânico crescente que aos poucos eu entrava.

Diferentemente da Neblina de Estrelas da noite em que conheci D, aquela neblina parecia feita de podridão e morte. Apesar de ser branca e, a primeira vista, parecer inofensiva, a neblina carregava aquele peso... como se ela um dia tivesse se alimentado dos lamentos e do terror de algumas pessoas. Como se vivesse apenas para se alimentar dos medos alheios, e a única forma de obtê-los seria instiga-los com sua aura maligna.

Neblina de Lamentas, o nome surgiu junto a pintura em minha mente: a Árvore rodada de cadáveres e a Neblina, lentamente subindo por seus galhos para chegar até os mortos, como uma serpente.

Meu pensamento foi interrompido quando os pelos da minha nuca se eriçaram, atiçados pelos meus instintos refinados por Alex. Tive pouco tempo para desviar quando a criatura passou por mim como um vulto, atacando o exato lugar em que estava.

Um amigo lá de baixo...Onde histórias criam vida. Descubra agora