Um amigo lá de baixo...

A Casa

A beleza da Floresta sempre me encantou. Mas nunca tinha adentrado a Floresta daquele jeito. Os riachos corriam com uma água refrescante enquanto pequenos animais corriam de um lado para o outro. O silêncio que habitava lá era cheio de vida. Folhas estalando sob criaturas gulosas e curiosas. A canção da Floresta ainda soava, suave e alegre, para mim. Nunca estive tão feliz e tranquila e... em casa.

Amine percebeu que a cada passo, uma nova coisa fazia minha cara se iluminar. Mas de todas as coisas belas e misteriosas e aconchegantes naquela Floresta, nenhuma era tão incrível quanto o sorriso que meu amigo me deu. Mas o cansaço era muito grande para mim, principalmente depois da noite anterior.

Quando estava prestes a perguntar onde estávamos e se demoraria mais, um delicioso cheiro de chocolate quente me invadiu. Não era só chocolate quente, era cheiro de aconchegante e confortável. E magia. Olhei em volta, em busca de alguma pequena cabana ou casinha, com uma chaminé soltando fumaça, mas não encontrei nada.

Vendo a minha visivel confusão, Amine me cutucou e apontou para cima. Nas árvores acima de nós, havia uma grande instalação. Não, não instalação. Era uma casa. A Casa, para ser exata. Conectando mais ou menos seis árvores, pontes de madeira rústica ligavam uma parte da casa a outra. Algumas eram feitas inteiramente com vidro ou redes para cobrir a vista, enquanto outras eram um pouco mais fechadas e reclusas.

Uma em especial me chamou a atenção, pois era uma grande globo de vidro, com uma lindo quarto dentro. Em alguns lugares, haviam varandas aconchegantes com almofadas e cadeiras. Outras tinham pequenas plantas ou casas de pássaros. Era incrível!

Em uma das varandas, sentada em uma cadeira com uma caneca na mão, havia uma mulher cantarolando. Ela bebia, o que era com certeza chocolate quente, enquanto lia um livro. Ela tinha uma pequeno cobertor jogado em cima dos ombros e aos seus pés, Salem dormia despreocupadamente. Ela estava um pouco longe, mas era claro que ela tinha parentesco com Amine.

Seus cabelos curtos, na altura do queixo, eram pretos como obisidiana e sua pele era morena. Seus lábios eram de um vermelho sangue natural e suas orelhas eram pontudas. 

- Amren!- Amine chamou, atraindo a atenção da criatura. Seus olhos eram de um prata vivo, como mercúrio envolto em poder. Ela abriu um sorriso ao ver Amine. Não, ao me ver! 

Retribui com um sorriso tímido enquanto a fêmea apoiava a caqneca e corria para dentro da casa. Em poucos segundos ela já descia pela rampa de braços abertos assim como seu sorriso.

- Maninho!- ela gritou enquanto abraçava Amine.

Eu apenas encarei aquela cena, estranhamente normal, entre dois demonios. A irmã de Amine era sem dúvida maravilhosa!

- Obrigada!- ela me agradeceu, passadno o abraço apertado para mim. Nunca fui uma pessoa que gostava de abraços, mas daquele eu gostei- Meu nome é Amren! Eu sou a irmã mais nova de Amine! Você deve ser a Karma, né? Você é tão bonita! Amei a cor do seu cabelo, e esses olhos... Maravilhosos!!

Amren não me deu chances de falar enquanto entrelaçava seu braço no meu e me guiava pela rampa. Apesar de ser a minha primeira vez conversando com ela, parecia que já nos conheciamos a séculos! Foi um laço estranho e, apesar de ainda estar me curando da humilhação da noite passada, me sentia pronta para ter uma nova amiga.

Amine andou atrás de nós, rindo ao ver o choque nos meus olhos. Eu gostava de não ter que falar, de apenas ouvir as pessoas e parece que Amren sabia. Quando estavamos na metade da rampa, eu ainda sem dar uma palavra, Amine gritou, com um tom brincalhão e de irritação ao mesmo tempo:

- Você gosta mesmo de se ouvir falar, não é Am? A K ainda não falou uma palavra! Cala a boca pra ela conversar também, vai!- ele disse rindo. Amren também ria, apesar de ter lançado um olhar de irritação para seu irmão.