A decisão

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A voz de Reia ainda ecoava na minha cabeça enquanto minhas botas estralavam na fina camada de gelo.

Morrer...

Algo tão banal, mas ainda assim tão temido. A nossa única certeza na vida é a de que iriamos morrer, então... por que eu estava tremendo?

Minha única chance de viver eternamente com Amine, sem me preocupar em ficar doente ou machucada por que seria... Imortal.

Talvez seja por causa disso que eu estava tremendo. A única coisa da qual eu já tive certeza na vida, o meu único propósito de continuar andando sem rumo, acabaria em um instante.

Será que era por isso que eu estava tão incerta de mim mesma? Será que, graças a minha falta de confiança no futuro, eu estava com medo?

Não me importava naquele momento. Estava congelante e eu estava exausta, emocionalmente.

Eu fechei o meu agasalho um pouco mais na tentativa de bloquear o frio, mas foi inútil. Atrás de mim, as patas de Salem estralavam sob o gelo da rua de terra.

Olhei para trás algumas vezes, só para ter certeza de que era Salem. Mas todas as vezes que eu virava, apenas encontrava a montanha de pelos negros e os olhos roxos.

Mas por mais que eu tentasse, por mais que o vento uivasse na minha orelha e a Floresta cantasse mil canções, a voz das Titânides ainda permanecia em mim.

Suas instruções, claras feito o dia, pareciam iluminar o meu caminho durante aquela noite confusa e congelante.

Era naquele último fio de esperança que eu me agarrava e me guiava, tentando manter a última gota de sanidade que me restava.

Em oito dias, exatamente a meia-noite, acontecerá uma Lua cheia. Se você escolher a última opção, você deverá faze-la durante essa Lua. Mas não se esqueça de nos contactar antes de fazer qualquer coisa! Nós temos... coisas a tratar.

Foram as instruções de Reia, antes que a parede esculpida voltasse a ser um monte de pedras.

Me deram um prazo de uma semana para decidir sobre o resto da minha vida e, por mais que a escolha fosse óbvia, eu ainda tinha dúvidas.

Dúvidas sobre mim, sobre o que Amine pensava de mim, sobre o que aconteceria com a minha mãe...

Mas eu sabia que eu tinha que escolher. E para uma decisão tão grande como essa, eu precisava do meu parceiro do meu lado.

Não seria hoje. Talvez no dia seguinte, mas naquele exato momento, eu só precisava de um banho quente e uma cama.

Eu virei a esquina quando esbarrei em alguém e cai no chão. Droga Karma...

- Mil desculpas, eu não estava prestando atenção... - eu disse rapidamente, tentando me levantar.

- Eu te perdoo, meu amor.... - voz de Victor saiu macabra, mais fria que o próprio gelo sob meus pés.

Meu sangue correu gelado em minhas veias, enquanto meu coração se afundou na minha barriga.

Eu já não conseguia mais escutar os passos de Salem atrás de mim, o que significava que ele já havia ido embora. Meu ouvido apitava, deixando a minha cabeça ainda mais confusa.

Victor tentou encostar no meu braço, mas eu desviei, recuando para trás. Infelizmente, durante a minha queda eu havia mudado de posição, então acabei recuando para uma parede.

- Você sabe que não precisa ter medo de mim, meu amor - ele disse, se aproximando de mim a cada palavra - É só me escutar que as coisas vão dar certo! Eu te ensinei isso, não ensinei?

Um amigo lá de baixo...Onde histórias criam vida. Descubra agora