Um amigo lá de baixo...

Um fim...

Quando acordei estava extremamente confusa.

Tudo continuava no maior breu e minha noção de tempo e espaço estava completamente perdida. Será que já era de manhã? Ou então acordei de noite?

Apesar da minha confusão, eu estava extremamente descansada. Não tinha nenhum desconforto corporal e dormi como já não tinha dormido a anos! Era mágico...

Sentia movimentos fluidos atrás de mim, pequenas ondas que indicavam a locomoção de algum animal.

Pânico inundou minhas veias ao pensar nas criaturas que eu poderia encontrar em um lugar como o Lago das Estrelas e a primeira imagem que me veio a mente era o Wendigo da noite passada.

Me preparei para tentar lutar o máximo possível, grata pelo lago ser feito essencialmente de sombras e ter me alimentado com sua magia durante a noite toda, mas meu pânico se foi ao ver os primeiros índices da luminescência.

Eram os peixes do lago. Nadando inofensivamente pelo seu habitat natural.

Em minha direção.

Me preparei para desviar de suas ágeis, porem calmas, nadadeiras quando eles simplesmente pararam na minha frente. Não sabia muito das capacidades anatômicas de uma peixe, mas tinha quase certeza que os vira fazer uma mesura a mim.

- Regina mea... - disse o primeiro peixe como comprimento. Fiquei surpresa ao ouvi-lo falar, mas logo em seguida me senti uma tola por não esperar isso de um lugar como esses - Vemos que acordou. Espero que tenha tido ótimos sonhos, sim?

Ele indagou, a voz doce e suave — quase etérea —acompanhando as ondas da água. Era difícil focar por muito tempo em seus aspectos físicos, mas não era nada complicado perceber quão lindo ele era.

Como uma carpa, longa e afinada, ele nadava com graça. Seu corpo era branco, as extremidades um tom pastel de lilás com algumas manchas do seu corpo imitando o padrão, e ele brilhava uma mistura de branco, rosa e lilás.

Era lindo. Hipnotizante. Calmo.

Me lembrei que ele havia me feito uma pergunta e rapidamente assenti, incerta se conseguiria falar naquele lugar.

- Ótimo! - ele respondeu calmo, um felicidade genuína passando por sua voz - Nesse caso, devemos alertar imediatamente as Titânides e lhe arranjar algo para comer. Com sua licença.

O cardume fez uma mesura novamente e, sem mais nem menos, nadaram cada um para uma direção diferente. Fiquei parada, encarando o nada novamente por um bom tempo antes de me tocar da interação que acabei de ter. Devagar, pisquei, meu cérebro voltando aos poucos para acompanhar o meu corpo.

Aproveitei a solidão para me alongar um pouco, meus músculos surpreendentemente leves mesmo depois de ter acabado de acordar. Tinha acabado de estralar minhas costas inteiras quando o peixe que falou comigo voltou nadando em minha direção.

Do mesmo jeito que antes ele parou na minha frente e fez o comprimento que estava começando a achar habitual entre essas criaturas comigo. Talvez devesse pesquisar o que aquilo significava mais tarde. Afinal, eu teria a eternidade para isso.

- As Titânides te esperam. Seria uma honra te levar até elas. - ele ofereceu e, como eu ainda estava incerta sobre a minha habilidade de falar sob a água, assenti com um sorriso contido. Estávamos no que eu acreditava ser metade do caminho quando ele falou novamente - Somos sortudos de tê-la como soberana.

E não sabia se era a noite bem dormida ou a magia do lago, mas sorri, mesmo sem saber o que ele realmente estava dizendo.

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