Calma antes da tempestade

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Era estranho me ver deitada nua em cima do altar.

Ambos os corpos estavam deitados no altar, como se fossem bonecas. Minha pele pálida brilhava sob a lua e meus cabelos pintados davam um destaque interessante contra a pedra. Meus olhos azul e verde brilhavam como joias opacas, apenas esperando por minha alma para lhes dar o brilho da vida.

Havia escolhido deixar alguma das cicatrizes de meu antigo corpo em meu novo - assim como as tatuagens que tinha feito na Casa - principalmente aquelas que consegui treinando com Alex. Mas outras eu apaguei, decidida a seguir em frente, a ser o melhor que eu poderia ser por toda minha eternidade, sem lembrar de minhas dores. Especificamente aquelas que não me trariam nada além de lembranças dolorosas sobre os dias em que eu fora incapaz de me defender.

Além disso, não havia nenhuma mudança berrante naquele corpo. Salvo alguns músculos mais definidos nas costas e pernas, os seios mais firmes e as coxas e o quadril mais largos, ninguém notaria a diferença. Talvez, claro, pelo minha aura indubitavelmente mágica, o máximo que eu conseguiria com esse outro corpo seria um comentário maldoso de algumas vizinhas fofoqueiras em como eu engordei.

Mas por outro lado... O segundo corpo, deitado ao lado do primeiro de forma em que as cabeças estivessem juntas, mas o resto do corpo estivesse virado para a direção contrária, era tudo menos pacífico ou familiar.

Tenebris falava sério quando afirmou que daria medo a todos que me olhassem. Se aquilo não fosse o meu futuro corpo, e eu não tivesse escolhido com minhas próprias mãos suas partes, com certeza teria pesadelos com ele até o fim dos meus dias.

Pele negra como carvão, garras terminadas em pontas de ouro sólido e presas em minha futura boca, a única parte de meu corpo que era branca. Algumas veias se mostravam, mesmo sob a pele de obsidiana, mas era normal... de certa forma. Meu sangue mudaria com a magia e se tornaria... bem, ouro! O ouro mais puro, de acordo com as Titânides. 

Meus olhos eram muito parecidos com o de meu parceiro, apesar de serem um tom mais claro, quase do mesmo tom do cabelo lilás. A única diferença notável entre eles e os olhos de meu parceiro eram as pupilas e minhas escleras. A primeira, ao invés de ser redonda como minha forma original, estavam mais para fendas prateadas, como os olhos de um gato. A segunda, que ao invés de ser branca como quase toda a maioria dos seres que eu conhecia, era negra, com apenas algumas veias de sangue dourado se mostrando delas. Meu cílios, pelo menos, eram longos e finos e, assim como as sobrancelhas, era da mesma cor lavanda que o cabelo.

Isso, por si só, já seria o suficiente para assustar qualquer humano. Até algumas criaturinhas poderiam se intimidar com a minhas figura que, de acordo com as trigêmeas, era bem incomum para qualquer imortal. Mas elas logo foram cortadas por Reia, dizendo que eu não deveria me importar com a raridade das coisas que eu escolhia. Aparentemente, era algo sobre minha alma estar escolhendo e não minha mente. Era um processo importante para a magia!

Mas o que realmente chamava a atenção em meu corpo negro eram os... acessórios que elas me sugeriram colocar. Aquilo, com certeza, me deixava ainda mais medonha.

Logo acima de minhas têmporas, dois pares de chifres negros se puxavam para trás, terminando em pontas afiadas de ouro sólido. Ele me coroavam como se eu fosse uma verdadeira Princesa dos Monstros.

Atrás, minhas asas de penugem negra pareciam amassadas com o peso de meu corpo deitado em cima delas, mas não deixavam de parecer medonhas. As garras presentes na dobra de cada uma delas se assemelhavam aos meus chifres, e pareciam tão afiadas quanto.

Nesse corpo não havia uma cicatriz sequer, apesar de eu ter pedido para que elas deixassem algumas no corpo mais "humano".

A única coisa que manchava a pele lisa perfeita de escuridão eram as tatuagens que, ao contrário do meu corpo normal, brilhavam em cores neon quase a ponto de queimar os olhos. Nas costas, minha tatuagem com Amine brilhava em roxo, a cor da minha alma gêmea.

Um amigo lá de baixo...Onde histórias criam vida. Descubra agora