O lago encantado

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Mamãe acabou chegando em casa por voltas das 20h e muito cansada. Ela mal percebeu que eu tinha mudado o meu visual. Ou se percebeu, não se importou. Ela acabou por comer um pedaço de pizza e ir deitar.

Meu coração não parava de bater enquanto os segundos do relógio passavam. Será por que era a primeira vez que eu saia com um amigo que não fosse Emily? Ou por que ele era um garoto?

Milhões de perguntas giravam em minha cabeça, mas para me acalmar, a Floresta ainda cantava para mim. Ela cantava e me dava direções para o mais novo desenho em minha coleção: Winter. Aquela pequena clarera para sempre congelada no meio da Floresta Negra. Os tons de branco e azul eram apenas quebrados pelo marrom-escuro das árvores.

Não apenas, por que novamente a Floresta me cantou o violeta. No centro da clarera, entre os galhos e gotas congeladas, entre a neve que caia em meu desenho, aqueles olhos violeta me encaravam com compaixão e carinho. Meu tão querido amigo. Minha família.

Dessa vez, a própria Floresta me quebrou do transe e me fez olhar para o horário. Fechei meu caderno e me levantei, espreguiçando depois de tanto tempo sentada. Corri para o meu closet em busca de algum biquini. No fundo de minha gaveta, porém, eu achei um que não usava havia anos!

Ele era muito grande antes, mas naquele momento eu tinha certeza que ele me caberia. Suas cores eram basicamente neutras: preto e azul. Era um croped e uma parte debaixo preta e vinha com uma sainha azul.

 Era um croped e uma parte debaixo preta e vinha com uma sainha azul

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Coloquei o biquini e passei no espelho. Apesar de me sentir mais confortável com o meu corpo, ainda não estava segura. Algo em mim me fazia parecer nojenta e horrível. Será que sair para nadar com Amine seria realmente uma boa ideia? Eu estava tão animada que havia me esquecido completamente quão horríveis eram as cicatrizes em meu corpo.

Uma em particular sempre me fazia querer vomitar. Um 'V' gigante na coxa em que Amren não tatuara. O resto apenas me deixava menos confiante do meu corpo. Várias na barriga e nas costas, outras nos braços. Todas em lugares estratégicos para que ninguém percebesse o quanto eu sofrera.

Fiquei cogitando a ideia de cancelar. De falar que estava começando a me sentir um pouco mal e não ir. Mas a Floresta começou a cantar e a me acalmar. Ela estava certa. Amine não se incomodaria com essas cicatrizes. Ele as adimiraria talvez, mas nuncas as acharia nojenta assim como eu.

Respirei fundo, segurando as lágrimas e as memórias, e a vontande de vomitar. Coloquei um chinelo e peguei uma bolsa para colocar algumas coisas dentro. Fiz um coque rápido por praticidade e desci as escadas. Comi o último pedaço de pizza da caixa. Aproveitei também para pegar uma garrafa de água e alguns salgados para nós comermos.

Peguei a minha jaqueta e sai de casa. Já estava uns minutos atrasada, mas Amine não pareceu perceber ou se incomodar. Ele estava apenas encostado no poste na frente da minha casa, me esperando com um sorriso de gato.

- Você realmente não tem relógio, tem?

- Ah, cala a boca!

Nós dois rimos e ele me ofereceu seu braço. Eu aceitei enquanto ainda conversávamos. Ele me perguntou diversas coisas sobre a minha vida, querendo me conhecer melhor. A noite estava tranquila e amena. A canção da Floresta não passava de um sussurro e a Lua estava cheia e brilhante.

Um amigo lá de baixo...Onde histórias criam vida. Descubra agora